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Diretoria da Usiminas deve propor capitalização de R$ 1 bi

Ainda não há consenso sobre o tema entre os dois principais sócios da siderúrgica, Ternium e Nippon Steel, mas uma decisão deve ser tomada em reunião do conselho na quarta-feira, 17

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Por Fernanda Guimarães
Atualização:
Siderúrgica mineira já desligou três dos seus cinco altos-fornos, em Ipatinga (MG) e em Cubatão (SP) Foto: Vidal Cavalcante|Estadão

A diretoria da Usiminas deverá propor na quarta-feira, 17, ao seu Conselho de Administração um aumento de capital da siderúrgica, apurou o Broadcast, serviço em tempo real da Agência Estado. O montante dessa capitalização deve ser de cerca de R$ 1 bilhão, conforme fontes próximas à companhia. No entanto, até o momento não há consenso sobre o tema entre os dois principais sócios da siderúrgica, Ternium e Nippon Steel, mas um desfecho sobre esse capítulo poderá ocorrer amanhã, em reunião do colegiado que acontecerá em São Paulo. Uma capitalização como única alternativa para a Usiminas foi antecipada pelo Broadcast em janeiro.

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Para que essa proposta de capitalização seja aprovada é necessário consenso no bloco de controle, formado por Ternium, Nippon Steel e Previdência Usiminas, conforme exigência do acordo de acionistas que é válido até 2031. Se a diretoria da siderúrgica mineira fizer essa proposta, a sinalização é de que a Nippon aceite a injeção de capital, disse uma fonte. Já a Ternium destacou que, antes de se discutir um aumento de capital, é necessário um choque de gestão na Usiminas. "A empresa passa por uma crise estrutural, que precisa ser resolvida. Um novo investimento vai apenas adiar os problemas e não atacar a causa", afirmou a empresa.

Esse capital é necessário para que a companhia consiga fechar as contas em 2016, tendo em vista o atual cenário desfavorável ao setor siderúrgico. Depois da queda de 2015, o Instituto Aço Brasil (IABr), por exemplo, estima baixa de 4% nas vendas internas em 2016. Como a Usiminas possui leque muito estreito de ativos para desinvestimento e considerando que as vendas devem ocorrer em um ritmo lento, a injeção de capital já vinha sendo apontada desde o ano passado como única saída para a empresa evitar a recuperação judicial, como noticiou na época o Broadcast.

Ao fim de setembro, a Usiminas tinha R$ 2,4 bilhões em caixa, mas R$ 1,3 bilhão desse montante estava na sua subsidiária Mineração Usiminas (Musa), que tem a japonesa Sumitomo como sócia, ou seja, a siderúrgica não tem acesso a esse capital. No entanto, a japonesa não liberou a ida desse caixa para a Usiminas, segundo fontes.

Amanhã, há reunião marcada do Conselho da Usiminas, que tem na pauta a aprovação do demonstrativo financeiro referente ao quarto trimestre do ano passado. A empresa deverá reportar o sexto prejuízo trimestral consecutivo e o segundo Ebitda negativo, conforme noticiou ontem o Broadcast. Além disso, conforme uma fonte, será discutido o planejamento da companhia para 2016, momento em que o aumento de capital poderá ser discutido.

"As posições de Nippon e Ternium estão muito inflexíveis", disse uma fonte próxima ao governo de Minas Gerais que tem acompanhado de perto parte das conversas entre as empresas. A questão é que um entendimento precisaria ocorrer em um prazo curto, visto que o caixa da empresa já está próximo de chegar ao fim. Na companhia, disse uma fonte, há uma certa apreensão sobre a aprovação desse aporte.

Endividada e sem conseguir gerar caixa, o aumento de capital ajudaria nas negociações de rolagem de dívida da siderúrgica com os bancos comerciais. Esse ponto, inclusive, foi apontado pelos credores para que a renegociação tivesse sucesso. Os vencimentos da Usiminas para este ano somam cerca de R$ 1,7 bilhão. Os principais credores bancários da Usiminas são os três maiores bancos do País (Itaú, Bradesco e Banco do Brasil), além de BNDES e JBIC (Japan Bank for International Cooperation). O alongamento da dívida é uma prática dos bancos comerciais. Dessa dívida com vencimento neste ano, por exemplo, R$ 250 milhões está junto ao BNDES.

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Ao final de setembro, a Usiminas registrava uma dívida bruta de R$ 8,1 bilhões, sendo cerca de 50% no mercado interno e o restante no externo. O serviço de juros anual, ou seja, o pagamento de juros, chega a quase R$ 900 milhões.

Além desse valor, a Usiminas precisa de dinheiro para operar capex de manutenção, que deve ficar em torno de R$ 300 milhões, bem mais baixo do que o anotado no ano passado, dado que a usina de Cubatão teve, há algumas semanas, a sua atividade primária paralisada.

Em paralelo a essa injeção de capital, a Usiminas tenta seguir com seu plano de desinvestimento. O seu principal ativo é a Usiminas Mecânica, que atua no segmento de bens de capital, sendo que para sua negociação o Credit Suisse já foi contratado como assessor financeiro. No entanto, fontes afirmam que dado o contexto desse setor, a venda não deve ser fácil e dificilmente a Usiminas irá levantar mais do que R$ 400 milhões com essa alienação.

Recuperação Judicial. Sem entrada de capital novo, um processo de recuperação judicial é apontado como inevitável, afirmam fontes de mercado. No entanto, uma fonte disse que esse caminho é inviável para a sobrevivência da Usiminas, já que a compra de matéria-prima é feita com financiamento bancário e a empresa tem, nesse momento, um estoque de carvão e minério de ferro que duraria poucas semanas, por exemplo.

Procuradas, Usiminas e Nippon não comentaram.

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