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‘Do ponto de vista prático, País já perdeu grau’

Para ex-diretor do BC, risco país do Brasil já não é condizente com o de uma economia com grau de investimento

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

O economista Alexandre Schwartsman diz que, pelo menos “do ponto de vista prático”, a economia brasileira já perdeu o grau de investimento. “Quando se olha particularmente o risco país do Brasil, ele não é mais consistente com o de uma economia considerada com grau de investimento”, afirma. A seguir os principais trechos da entrevista concedida ao EstadoQual o risco que essa decisão da S&P representa para a economia brasileira perder o grau de investimento? Do ponto de vista prático, o País já perdeu o grau de investimento. Quando se olha o risco país do Brasil, ele não é mais consistente com o de uma economia considerada com grau de investimento. Estamos pagando juros lá fora de um país que não é grau de investimento. Não tem ainda a formalização da coisa, que há efeitos muito mais políticos do que econômicos. Quais fatores levaram a essa decisão da S&P? A S&P diz que o País cresce pouco e, por crescer pouco, tem dificuldade de fazer a parte fiscal. E existe um problema político sério. Concretamente, o Brasil está na marca do pênalti da S&P. O País está um grau acima (da nota especulativa) e com perspectiva negativa. No fim deste ano e começo do ano que vem, a gente está contemplando a possibilidade de, pelo menos, a S&P colocar a economia brasileira abaixo do grau de investimento.

Rebaixamento pode vir no fim do ano, diz Schwartsman Foto: Gabriela Biló/Estadão

Qual será o impacto dessa decisão desta terça-feira? Acredito que gera um efeito para as demais agências. Na Moody’s e Fitch, o País está dois graus acima, mas com perspectiva negativa em ambas. O risco é de que, quando sair a decisão da próxima (agência), não tenha apenas o rebaixamento, mas a manutenção de uma perspectiva negativa. Isso é importante pelo seguinte: os fundos (que trazem recursos para o País), em geral, precisam de duas agências dizendo que uma economia é grau de investimento e se há o risco de rebaixamento nas três... A equipe econômica tentou um ajuste maior, mas não conseguiu. O que faltou? No caso da S&P, eles reconhecem que o País mudou a orientação de política macroeconômica. A agência fala do ajuste fiscal, da questão de corrigir os preços administrados e do esforço do BC de trazer a inflação para a meta. O que a agência está dizendo é o seguinte: existe uma intenção em fazer tudo isso. Mas entre a intenção e a entrega dos resultados, há uma série de passos intermediários, como aprovar muita coisa no Congresso. E uma vez aprovada, o governo tem de botar essas coisas para funcionar. Quais seriam os impactos de um possível rebaixamento?  Do ponto de vista estritamente econômico, esses impactos já aconteceram. O que eu acho que pode ter é o seguinte: no dia em que vier o rebaixamento, esse negócio vai para a manchete de todos os jornais e isso causa um dano adicional à questão política. 

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