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'É bom que Temer escolha alguém da Fazenda para substituir Meirelles', diz ex-ministro da Fazenda

Para Mailson da Nóbrega, tanto faz se o novo comandante da pasta for Eduardo Guardia ou Mansueto Almeida, o importante é passar um sinal de continuidade de trabalho para o mercado

Foto do author Francisco Carlos de Assis
Por Francisco Carlos de Assis (Broadcast)
Atualização:

É bom que o presidente da República, Michel Temer, escolha um membro do Ministério da Fazenda para substituir o ministro Henrique Meirelles, que deve deixar o posto para se dedicar à campanha eleitoral. Essa é a avaliação do ex-ministro da pasta Mailson da Nóbrega, em entrevista ao Estadão/Broadcast. Para ele, independentemente de o escolhido ser o secretário-executivo, Eduardo Guardia, ou o do secretário do Acompanhamento Econômico, Mansueto Almeida, o importante é que haverá continuidade do trabalho e a manutenção da equipe.

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Nesta segunda-feira, 26, o presidente Michel Temer confirmou ao Broadcast/Estadão que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, vai deixar o cargo nos próximos dias para tentar se viabilizar como candidato à Presidência da República. "Já era a intenção dele. Acertamos nesses últimos dias", afirmou Temer à reportagem em rápida conversa por telefone. O presidente disse ainda não ter decidido quem substituirá Meirelles.

Para Mailson da Nóbrega, tanto faz se o novo comandante da pasta for Eduardo Guardia ou Mansueto Almeida, o importante é passar um sinal de continuidade de trabalho para o mercado Foto: Werther Santana/Estadão

Para Mailson da Nóbrega, a escolha de um dos atuais integrantes da Fazenda vai significar a continuidade do trabalho por parte do governo. "Qualquer um dos dois tende a criar um ambiente para a preservação da equipe, o que eu também acho que é importante", disse o ex-ministro. De acordo com Mailson, a equipe econômica é hoje homogênea. "É (uma equipe econômica) muito companheira, para usar uma palavra do PT", disse, acrescentando que essa equipe trabalha confiando que está contribuindo para o País, já que ganharia mais na iniciativa privada.

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"Isso gera o que o Eugênio Godin chamava de salário moral", disse, ao se referir ao também ex-ministro da Fazenda entre setembro de 1954 a abril de 1955, durante o governo de Café Filho.

E ninguém espera, de acordo com o ex-ministro, que no restante do governo Temer algo importante do ponto de vista estrutural venha a ser aprovado. 

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"Talvez a privatização da Eletrobrás, que é o único caso que tem importância", afirmou o ex-ministro. Ele diz que os demais temas têm relevância, mas que não devem ser aprovados, como a proposta de independência do Banco Central.

"E é até bom que [a independência do BC] não ande porque esse é um assunto muito sério e precisa ser estudado com muito cuidado", disse.

Segundo ele, as ideias sobre a independência do BC que andam no Congresso são ruins porque os parlamentares estão entendendo de forma equivocada o mandado do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) achando que o banco central americano busca dois objetivos, o crescimento e a inflação.

"Não é verdade. Quem estudou esse assunto, e eu me debrucei sobre ele há algum tempo, sabe que essa história de o Fed buscar o crescimento foi uma solução de compromisso entre os anos 50 e 60 de uma forte crítica à atuação do Federal Reserve, que não se preocupava com o crescimento ", disse Mailson, acrescentando que à época havia uma proposta para eliminar a independência do Fed.

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Mas de acordo com o ex-ministro da Fazenda, a experiência tem mostrado que o mandato do Fed para valer é a inflação. "E ao fazer isso ele está olhando para o crescimento", observou.

"Kit crise". Mailson também diz não acreditar que o governo Temer vá tocar o pacote das 15 medidas anunciadas em fevereiro num ano eleitoral. Para ele, foi um pacote criado para o governo se livrar de um vazio deixado pela não aprovação da reforma da Previdência no Congresso. 

"Eu me lembrei de que, nos meus quase 20 anos que passei no governo em postos de relevância, que a gente tinha, nos ambos 80, o que chamávamos de "kit crise". Era uma série de medidas que não andavam e o governo desistia. Elas iam sendo colocadas no kit. Um dia vem uma crise e aí você puxa o kit e aí aparecia um monte de propostas da noite para o dia", contou Mailson, emendando que o pacote das 15 medidas é parecido com isso.

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Dito isso, Mailson completa destacando que nada de relevante será feito pelo governo até o fim do atual mandato a não ser manter os delineamentos básicos da economia. 

"Não vejo nenhuma grande proposta aparecendo até porque grandes propostas geralmente demandam reformas constitucionais, o que não pode ocorrer com a intervenção federal no Rio de Janeiro", completou. 

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