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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|É o rombo, o desemprego...

As correntes e os ventos continuam contra e a recuperação da economia fica mais distante

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Atualização:

A semana fechou com duas informações econômicas preocupantes e uma com características de advertência.

As duas informações preocupantes são daqui do Brasil: a forte tendência ao aumento do rombo das contas públicas e o avanço do desemprego. A nova advertência está lá fora. Trata-se do decepcionante desempenho da economia dos Estados Unidos no segundo trimestre.

Não são meras estatísticas; são informações de impacto. Algumas de suas consequências já podem ser avaliadas.

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O déficit das contas públicas do Brasil em junho veio mais ou menos dentro do esperado: R$ 10,1 bilhões. No primeiro semestre do ano, o rombo acumulado chega a R$ 23,8 bilhões e, em 12 meses, a R$ 151,2 bilhões. Quem ficou com a impressão de que o governo está controlando as contas públicas está equivocado. No segundo semestre, as despesas tendem a crescer com o reajuste dos salários do funcionalismo público e com a disparada das despesas da Previdência Social. E não há nenhum sinal de que a arrecadação comece a reagir. Ao contrário, a recessão continua se aprofundando.

O avanço do desemprego é consequência disso. A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – Contínua, a Pnad Contínua, mostrou que, no trimestre móvel terminado em junho, a população desocupada alcançou 11,6 milhões de pessoas ou 4,5% maior do que a existente no primeiro trimestre do ano (11,1 milhões). O nível de desemprego alcançou os 11,3% da capacidade de trabalho, novo recorde. Veja o gráfico no Confira.

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Outro dado ruim, coerente com este, é o da quebra da renda média do brasileiro. No trimestre foi 1,5% mais baixa do que no primeiro trimestre do ano. São fatos que derrubam o consumo, retardam a retomada do crescimento econômico e inibem os investimentos. Corre no mercado a expectativa de que a reação virá no segundo semestre, mas essa é mais uma aposta do que uma previsão. Os sinais de melhora ainda são fracos e, principalmente, instáveis. Assim, o quadro econômico interno é de incerteza que se conjuga com as incertezas na área política.

O dado mais decepcionante veio de fora. O crescimento anualizado do PIB dos Estados Unidos no segundo trimestre foi de apenas 1,2%. Os analistas esperavam muito mais, algo em torno dos 2,6%. Além disso, o Escritório de Análises Econômicas (Bureau of Economic Analysis) dos Estados Unidos, encarregado das estatísticas, reduziu de 1,1% para 0,8% ao ano o avanço do primeiro trimestre.

A locomotiva do mundo em marcha mais lenta tende a retardar a retomada do crescimento global. E o Fed (o banco central dos Estados Unidos) que esperava poder intensificar a retirada de dólares da economia (e, assim, aumentar os juros), vai ter de esperar. Ou seja, os mercados globais continuarão inundados de moeda. Essa foi a principal razão pela qual o dólar caiu nesta sexta-feira nos mercados importantes de câmbio, inclusive aqui, onde a baixa foi de 1,59%.

Ou seja, as correntes e os ventos continuam contra. E a recuperação da economia mundial vai sendo adiada.

CONFIRA:

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No gráfico, a evolução do nível de desocupação aferida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio – Contínua, a Pnad Contínua.

A baixa do dólar

Nos sete primeiros meses do ano, a cotação do dólar no câmbio interno caiu 18,13%. Se, com a normalização da situação política, retornar a confiança na economia, o potencial de queda dos preços da moeda estrangeira no mercado interno deve aumentar. Seria um fator que ajudaria a conter a inflação. Em compensação derrubaria a competitividade do produto brasileiro no exterior.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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