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Economia construída a partir do lixo

Movimento criado pelo alemão Michael Braungart diz ser possível criar produtos 100% recicláveis - e começa a provar a teoria

Por DER SPIEGEL
Atualização:
Parcerias. Braungart desenvolve produtos sustentáveis com Beiersdorf, Puma e BMW Foto: DPA

Brad Pitt é, sem dúvida, seu fã mais célebre. Mas o químico Michael Braungart prefere esconder seu orgulho com essa associação lançando mão do sarcasmo. O ator norte-americano e ativista ambiental confessa que o livro Cradle to Cradle é um dos três mais importantes de sua vida. E como Braungart responde a esse fato? "Bem, não tenho certeza se Pitt já leu mais de três livros."

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Este é um comentário típico de Braungart, professor de Hamburgo, Alemanha. Mas, para fazer uma observação assim, ele tem de esquecer sua revolução por um momento.

Na realidade, o professor sente-se muito orgulhoso com o fato de o astro elogiar o trabalho da sua vida. E ele precisa de todo estímulo para o que planeja, que é nada menos do que uma reorganização ambiental e industrial do mundo.

No universo de Braungart, todo produto deve ser basicamente projetado para se decompor sem causar nenhum dano, ou para ser reciclado sem perder a qualidade. Sua ideia é de um planeta onde nenhum lixo seja acumulado porque tudo vai se transformar em alimento.

"Nosso mundo de produtos, hoje, é totalmente primitivo", afirma. "Produzimos coisas repletas de poluentes que acabamos lançando na natureza."

Para o professor, nossas práticas são subdesenvolvidas, fazendo parte de um mundo sombrio. "Um produto que se transforma em lixo é prejudicial. É uma química prejudicial."

Braungart quer aplicar a química apropriada e fabricar produtos sem nenhum poluente, que se transformam em fertilizantes ou retornam ao ciclo técnico como matéria-prima pura. Se isso for alcançado em grande escala, muitas coisas mudarão.

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O desperdício não será mais algo negativo, mas uma virtude e viveremos num mundo de abundância, não de escassez. Nosso mundo será uma cópia da natureza, imitando, por exemplo, o florescer de uma cerejeira, que se transforma em cereja, húmus ou uma nova árvore - um "elixir de vida", nos três casos. O eco-hedonismo é o credo de Braungart. "Quero que as pessoas vivam em profusão."

Para transformar sua teoria em prática, ele criou uma companhia, a Epea. Entre seus clientes alemães estão a Beiersdorf, dona da marca Nivea, e a fabricante de lingerie Triumph. Braungart também assessora Volkswagen, Unilever e BMW. Com sua ajuda, a HeidelbergCement desenvolveu um cimento especial que purifica o ar quando transformado em concreto.

Em 2013, a Puma lançou a primeira coleção de roupas para atletismo inteiramente reciclável, incluindo sapatos que podem ser transformados em fertilizantes.

Críticos.

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Mas Braungart também tem muitos críticos. Friedrich Schmidt-Bleek, 82 anos, que redigiu lei aprovada na Alemanha em 1980 que rege a área química e tem como objetivo proteger as pessoas e o ambiente contra os efeitos prejudiciais dessas substâncias, questiona se as ideias de Braungart poderão ser implementadas em grande escala.

"São ideias sedutoras, mas ele atua em nichos", afirma Gays Rosenkranz, ex-porta-voz de uma comissão parlamentar do German Environmental Aid. Já Michael Muller, que assessora uma comissão parlamentar alemã como especialista em sustentabilidade, chega a se irritar. Para ele, Braungart não se preocupa com as consequências políticas e, portanto, não tem credibilidade.

Para Braungart, seus críticos estão presos a limitações de ordem política. Ele provavelmente precisará desta firmeza para manter seu entusiasmo por décadas e continuar concentrado em seu projeto.

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Com seu ar distraído e óculos com aros de metal, Braungart é uma alternativa aos defensores da austeridade, mas também aos químicos da velha escola.

'Show'

. Quando dá palestras - como numa conferência para proprietários de pequenas empresas em fevereiro -, expressa-se de improviso, vai e volta no palco como um comediante e fala sobre suas ideias como se elas tivessem surgido naquele momento.

Ele diz que as bonecas Barbie são bombas químicas e as bolsas Louis Vuitton são um caso flagrante de lixo perigoso. Esse tipo de declaração chama a atenção de gente importante.

Susanne Klatten, grande acionista da BMW, investe em tecnologias sustentáveis e com vistas para o futuro. Ela foi a uma de suas palestras. Como resultado, a montadora acabou aplicando conceitos do professor em seu novo carro elétrico.

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