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Educação financeira em tempos de YouTube

Canais que falam de investimentos conquistam público com linguagem jovem e simplificada

Foto do author Anna Carolina Papp
Por Anna Carolina Papp e Jéssica Alves
Atualização:
Poupadora desde criança, Nathalia ensina sobre finanças e tira dúvidas de usuários em seu canal Foto: Foto: NILTON FUKUDA/ESTAD?O

Nem só de tutoriais de maquiagem, jogos ou receitas vive o YouTube. Em vídeos de poucos minutos, também é possível aprender o que fazer com o dinheiro empacado na poupança ou descobrir o melhor destino para as contas inativas do FGTS. Basta procurar pelos youtubers de finanças, os chamados gurus do dinheiro na internet. Eles, que começaram com blogs, vêm ganhando popularidade com a difícil missão de ensinar as pessoas a cuidar do próprio dinheiro.

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A tarefa parece fácil. Em tese, basta ter uma câmera e boas dicas sobre planejamento financeiro. Mas não é bem assim. Mastigar um conteúdo denso e cheio de números, jargões e uma sopa de letrinhas como CDB, CDI, FGC e LCA exige carisma e perseverança.

Para fazer o negócio “vingar”, a saída é adotar uma linguagem leve – e até mesmo o humor. Essa é a tônica do canal Me Poupe!, da jornalista Nathalia Arcuri. Desde a infância, ela já lidava muito bem com o dinheiro: aos 8 anos, poupava e traçava suas metas, como manda todo manual de finanças pessoais. Aos 18, comprou seu primeiro carro à vista. Aos 24, seu apartamento, da mesma forma.

Nathalia trabalhava como jornalista, mas tinha dificuldade em incluir a educação financeira, sua paixão, nas pautas. O escape foi o blog.

Em 2015, quando o site já tinha 15 mil acessos mensais, ela resolveu encarar o YouTube. “Não pensava em ganhar dinheiro com o canal ou blog, só queria ajudar as pessoas.”

Até que surgiu o momento dos sonhos para todo youtuber: uma empresa queria patrocinar seus vídeos – no caso dela, uma corretora. Quando recebeu a proposta, não pensou duas vezes: pediu o valor equivalente a um ano de salário e foi viver do Me Poupe!. Hoje, o canal já tem 400 mil inscritos.

Para Thiago Nigro, do canal O Primo Rico, transformar o conteúdo em algo que prenda as pessoas na frente da tela é o grande desafio. Ao contrário de Nathalia, ele, de 26 anos, não tinha tanta afinidade com a câmera – mas sim com os números. 

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A história de Nigro com o dinheiro começou há oito anos, quando ganhou do pai R$ 5 mil. Fanático pelos personagens dos filmes de Wall Street, Nigro se aventurou na Bolsa. Com muita vontade e pouco conhecimento, perdeu praticamente tudo. 

“Fiquei muito triste na época, mas, em vez de criar um bloqueio, fui ver onde havia errado para acertar”, afirma. Ainda jovem, conta que tinha mais certificações que um gerente de banco e trabalhou em diversos empregos até conseguir vaga em uma corretora. Enquanto assessorava seus clientes, percebia grande falta de conhecimento, até mesmo dos mais bem instruídos. 

Hoje, com 105 mil inscritos no canal e 100 mil acessos no blog, Nigro acredita ser um dos responsáveis pela migração do brasileiro da poupança para o Tesouro Direto – um dos principais “apelos” dos youtubers das finanças, por considerarem o Tesouro como uma “iniciação” no universo dos investimentos. 

O prejuízo causado pela falta de conhecimento também foi o que motivou o cientista da computação Rafael Seabra a criar seu blog, o Quero Ficar Rico. Ele começou a investir desde o seu primeiro emprego, mas depois se sentiu enganado pelo gerente do banco. “Meu fundo de investimento de renda fixa tinha uma taxa de administração altíssima e meu plano de previdência privada era muito conservador, sem falar nas taxas de administração e carregamento.”

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Mergulhado em livros, passou a estudar cada vez mais sobre o assunto e, em 2007, começou o blog como um hobby, decidido a alcançar a independência financeira. A trajetória foi contada em um livro com o mesmo nome do blog, lançado no ano passado – mesmo ano em que começou no YouTube.

“Senti a necessidade de criar conteúdo em outro tipo de mídia para alcançar mais pessoas – sempre com a linguagem mais simples e enxuta possível”, conta. A resposta foi surpreendente. “No meu blog, que tem dez anos, tenho uma média de 350 mil visualizações por mês. Depois de duas semanas de YouTube, já tinha 150 mil.”

Além das novas caras que despontam, nomes consagrados na área de finanças, como o escritor e consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor do best-seller Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, também sentiram a necessidade de marcar presença na plataforma de vídeos.

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Depois de rodar todo o País em palestras, ele, que trabalha com educação financeira desde 2002, decidiu que era a hora de explorar a internet. Além de lançar o curso online Inteligência Financeira, Cerbasi criou seu canal no YouTube. “Amadureci a ideia ao longo de uns três anos, reunindo uma lista de conteúdo que eu queria abordar, para então montar um time, como fizemos em maio do ano passado, e me dedicar de maneira séria nos canais online, como YouTube, Facebook e Instagram”, conta.

O tamanho da resposta até “assustou”. “Quando você lança um livro, demora de 20 a 30 dias para saber se deu certo ou não. Na internet, a resposta aparece em segundos”, afirma. “Entre perguntas e depoimentos, a quantidade chega a 1,2 mil por dia. É muito gratificante ver como você marcou as pessoas, pois às vezes elas só precisam de uma inspiração para mudar radicalmente de vida.”

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Nem só de tutoriais de maquiagem, jogos ou receitas vive o YouTube. Em vídeos de poucos minutos, também é possível aprender o que fazer com o dinheiro empacado na poupança ou descobrir o melhor destino para as contas inativas do FGTS. Basta procurar pelos youtubers de finanças, os chamados gurus do dinheiro na internet. Eles, que começaram com blogs, vêm ganhando popularidade com a difícil missão de ensinar as pessoas a cuidar do próprio dinheiro.

A tarefa parece fácil. Em tese, basta ter uma câmera e boas dicas sobre planejamento financeiro. Mas não é bem assim. Mastigar um conteúdo denso e cheio de números, jargões e uma sopa de letrinhas como CDB, CDI, FGC e LCA exige carisma e perseverança.

Para fazer o negócio “vingar”, a saída é adotar uma linguagem leve – e até mesmo o humor. Essa é a tônica do canal Me Poupe!, da jornalista Nathalia Arcuri. Desde a infância, ela já lidava muito bem com o dinheiro: aos 8 anos, poupava e traçava suas metas, como manda todo manual de finanças pessoais. Aos 18, comprou seu primeiro carro à vista. Aos 24, seu apartamento, da mesma forma.

Nathalia trabalhava como jornalista, mas tinha dificuldade em incluir a educação financeira, sua paixão, nas pautas. O escape foi o blog. Em 2015, quando o site já tinha 15 mil acessos mensais, ela resolveu encarar o YouTube. “Não pensava em ganhar dinheiro com o canal ou blog, só queria ajudar as pessoas.”

Até que surgiu o momento dos sonhos para todo youtuber: uma empresa queria patrocinar seus vídeos – no caso dela, uma corretora. Quando recebeu a proposta, não pensou duas vezes: pediu o valor equivalente a um ano de salário e foi viver do Me Poupe!. Hoje, o canal já tem 400 mil inscritos.

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Para Thiago Nigro, do canal O Primo Rico, transformar o conteúdo em algo que prenda as pessoas na frente da tela é o grande desafio. Ao contrário de Nathalia, ele, de 26 anos, não tinha tanta afinidade com a câmera – mas sim com os números. 

A história de Nigro com o dinheiro começou há oito anos, quando ganhou do pai R$ 5 mil. Fanático pelos personagens dos filmes de Wall Street, Nigro se aventurou na Bolsa. Com muita vontade e pouco conhecimento, perdeu praticamente tudo. 

“Fiquei muito triste na época, mas, em vez de criar um bloqueio, fui ver onde havia errado para acertar”, afirma. Ainda jovem, conta que tinha mais certificações que um gerente de banco e trabalhou em diversos empregos até conseguir vaga em uma corretora. Enquanto assessorava seus clientes, percebia grande falta de conhecimento, até mesmo dos mais bem instruídos. 

Hoje, com 105 mil inscritos no canal e 100 mil acessos no blog, Nigro acredita ser um dos responsáveis pela migração do brasileiro da poupança para o Tesouro Direto – um dos principais “apelos” dos youtubers das finanças, por considerarem o Tesouro como uma “iniciação” no universo dos investimentos. 

O prejuízo causado pela falta de conhecimento também foi o que motivou o cientista da computação Rafael Seabra a criar seu blog, o Quero Ficar Rico. Ele começou a investir desde o seu primeiro emprego, mas depois se sentiu enganado pelo gerente do banco. “Meu fundo de investimento de renda fixa tinha uma taxa de administração altíssima e meu plano de previdência privada era muito conservador, sem falar nas taxas de administração e carregamento.”

Mergulhado em livros, passou a estudar cada vez mais sobre o assunto e, em 2007, começou o blog como um hobby, decidido a alcançar a independência financeira. A trajetória foi contada em um livro com o mesmo nome do blog, lançado no ano passado – mesmo ano em que começou no YouTube.

“Senti a necessidade de criar conteúdo em outro tipo de mídia para alcançar mais pessoas – sempre com a linguagem mais simples e enxuta possível”, conta. A resposta foi surpreendente. “No meu blog, que tem dez anos, tenho uma média de 350 mil visualizações por mês. Depois de duas semanas de YouTube, já tinha 150 mil.”

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Além das novas caras que despontam, nomes consagrados na área de finanças, como o escritor e consultor financeiro Gustavo Cerbasi, autor do best-seller Casais Inteligentes Enriquecem Juntos, também sentiram a necessidade de marcar presença na plataforma de vídeos.

Depois de rodar todo o País em palestras, ele, que trabalha com educação financeira desde 2002, decidiu que era a hora de explorar a internet. Além de lançar o curso online Inteligência Financeira, Cerbasi criou seu canal no YouTube. “Amadureci a ideia ao longo de uns três anos, reunindo uma lista de conteúdo que eu queria abordar, para então montar um time, como fizemos em maio do ano passado, e me dedicar de maneira séria nos canais online, como YouTube, Facebook e Instagram”, conta.

O tamanho da resposta até “assustou”. “Quando você lança um livro, demora de 20 a 30 dias para saber se deu certo ou não. Na internet, a resposta aparece em segundos”, afirma. “Entre perguntas e depoimentos, a quantidade chega a 1,2 mil por dia. É muito gratificante ver como você marcou as pessoas, pois às vezes elas só precisam de uma inspiração para mudar radicalmente de vida.”

Ano novo, vida nova. Os poucos minutos de educação financeira via YouTube têm ajudado muitos brasileiros a colocar ordem nas contas. Presa em dívidas do cartão de crédito, a servidora pública Jaqueline Souza, de 32 anos, conheceu o canal Me Poupe! no final do ano passado, por indicação do namorado. “A Nathalia é muito didática e tem muito bom humor, então todo mundo consegue entender.”

O primeiro passo foi sair de uma dívida cara para uma mais barata: trocou os juros do cartão de crédito e cheque especial por um consignado. Inspirada por um vídeo que falava sobre brechós, conseguiu embolsar R$ 1,5 mil ao vender roupas e sapatos que não usava mais. Desde dezembro, não parcela mais no cartão e reserva uma parte do salário. “Até outubro, a minha vida era saber como eu iria terminar o mês sem estourar o cartão de crédito. Hoje, tenho orgulho da minha planilha orçamentária e estou me preparando para investir no Tesouro Direto. Até pareço outra pessoa.”Os poucos minutos de educação financeira via YouTube têm ajudado muitos brasileiros a colocar ordem nas contas.

Presa em dívidas do cartão de crédito, a servidora pública Jaqueline Souza, de 32 anos, conheceu o canal Me Poupe! no final do ano passado, por indicação do namorado. “A Nathalia é muito didática e tem muito bom humor, então todo mundo consegue entender.”

O primeiro passo foi sair de uma dívida cara para uma mais barata: trocou os juros do cartão de crédito e cheque especial por um consignado. Inspirada por um vídeo que falava sobre brechós, conseguiu embolsar R$ 1,5 mil ao vender roupas e sapatos que não usava mais. Desde dezembro, não parcela mais no cartão e reserva uma parte do salário. “Até outubro, a minha vida era saber como eu iria terminar o mês sem estourar o cartão de crédito. Hoje, tenho orgulho da minha planilha orçamentária e estou me preparando para investir no Tesouro Direto. Até pareço outra pessoa.”

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