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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Efeito Borboleta

A revisão do juros dos Estados Unidos ainda não aconteceu, mas deve vir em breve e produzir consequências importantes

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Atualização:

Depois de muita vacilação, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos), presidido por Janet Yellen, finalmente deu a entender nesta quarta-feira que começará em breve a megaoperação de enxugamento de dólares no mercado.

Não há prazo para isso, mas, pelo teor do comunicado, parece mais provável que comece em 14 de dezembro, data da próxima reunião do Comitê de Política Monetária destinada a rever os juros.

Janet Yellen.Mudança à vista Foto:

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Por mais cauteloso que venha a ser, trata-se de movimento que, mesmo antes de começar, deve produzir consequências importantes, do tipo efeito borboleta: um sutil bater de asas próximo dos polos pode se transformar em furacão nos trópicos.

Apenas para passar o aspirador de pó na memória, vale pontuar que tudo começou com a crise de 2008 que levou os grandes bancos centrais a comprar montanhas de títulos nos mercados, os mesmos que vinham sendo enjeitados e derrubando a economia. O resultado foi o monumental despejo de moeda. Só o Fed injetou US$ 4,45 trilhões (veja o gráfico no Confira). O resultado foi a derrubada dos juros.

Parece ter chegado a hora do início da reversão desse movimento. A economia americana cresce a 1,5% ao ano, o desemprego é de apenas 5,0% e os juros nunca foram tão baixos, de cerca de 1,75% ao ano no caso dos títulos de dez anos.

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Embora o Fed se proponha a retirar esses dólares com canequinha, a um ritmo de alta dos juros que dificilmente será de mais de 0,25 ponto porcentual por vez, o impacto dessa operação será enorme.

A retirada desses dólares será feita por meio da revenda dos títulos comprados anteriormente. O aumento da oferta desses papéis produzirá queda do seu valor no mercado. Ou seja, quem adquirir o mesmo título terá de desembolsar por ele menos dólares. Como os juros contratados do título permanecerão os mesmos, o rendimento aumentará (em proporção aos dólares despendidos para comprá-lo). Em contrapartida, com a perspectiva de redução do volume de moeda nos mercados, o dólar tende a se valorizar, ou comprará mais coisas.

As consequências não terminam aí. A valorização do dólar tende a reduzir as cotações das commodities, todas elas denominadas em dólares. A relativa redução da oferta de dólares nos mercados tende a reduzir as disponibilidades de crédito no mercado. Outro efeito previsto é a redução do interesse por aplicações de risco, especialmente ações.

Enfim, este é um ambiente em que aumentam as incertezas, que já vinham poluindo o mundo dos negócios por outras razões: pelo efeito Trump, pelo aumento do desequilíbrio do mercado do petróleo, pela estagnação das economias europeia e japonesa, pelas consequências a serem produzidas pela saída da Grã-Bretanha da União Europeia, pelo impacto causado pelo aumento do protecionismo nacionalista... E por aí vai – não faltam incertezas.

Durante meses, os analistas imaginaram que a reversão da política monetária do Fed produziria na economia do Brasil a tempestade perfeita. Esse resultado negativo pode ser atenuado, não só porque o Fed tende a ser muito cuidadoso no seu jogo, mas, também, porque está em curso por aqui um ajuste das contas públicas bem mais sólido do que o pretendido há apenas um ano e isso dá mais solidez para a economia brasileira.

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Só nas próximas semanas será possível enxergar mais desdobramentos dessa reversão de sentido na política monetária do Fed.

CONFIRA:

 Foto:

No gráfico, a evolução das compras de títulos pelo Fed.

A alta de juros vem aí

É opinião corrente entre os farejadores da política de juros (Fed watchers, na gíria de Wall Street), que o Fed evitou aumentar os juros agora, para não deixar a impressão de que de alguma maneira interferiria no resultado das eleições dos Estados Unidos marcadas para o próximo dia 8. Mas no comunicado avisou que o argumento para elevação dos juros “continua a se fortalecer”. Não foi preciso ser mais explícito para indicar que a alta dos juros está próxima.

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Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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