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Eike estrutura operação para salvar mineradora

Uma das últimas empresas 'X' sob controle do empresário, MMX organiza venda da subsidiária que controla a mina de Serra Azul

Por Mariana Durão
Atualização:
Eike ainda é o controlador da MMX; é provável que as ações da mineradora sejam diluídas em um aumento de capital, como ocorreu na venda de outras empresas Foto: Gilvan Barreto/NYT

RIO - Após a derrocada do 'Grupo X', o empresário Eike Batista tenta salvar uma das últimas companhias que ainda estão sob seu controle - a mineradora MMX. Um dos mais prováveis desenhos da operação de salvamento da empresa é a venda isolada da subsidiária MMX Sudeste, que engloba a mina de Serra Azul, em Minas Gerais, principal ativo do grupo.

Na operação, a MMX S.A, que tem 59,3% das ações nas mãos de Eike, seria transformada em uma holding de participações. Enquanto tenta atrair um sócio estratégico para a mina, a empresa busca alternativas financeiras como a venda de energia elétrica e dos direitos minerários em Corumbá, no Mato Grosso do Sul.

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A separação da MMX Sudeste da holding é uma forma de tirar dos ombros do futuro dono do projeto de minério de ferro Serra Azul uma autuação de R$ 3,8 bilhões por tributos supostamente devidos no ano de 2007, diz uma fonte. O grupo contesta as multas, mas a disputa com a Receita é o calcanhar de Aquiles na negociação com investidores. A ideia é que a holding concentre o risco fiscal.

Tudo caminha para que as ações de Eike, ainda controlador da mineradora, sejam diluídas em um aumento de capital, como ocorreu na venda de outras empresas. Ao longo dos últimos dois anos, companhias como LLX (logística) e MPX (energia) foram vendidas para grupos estrangeiros e rebatizadas de Prumo e Eneva. A petroleira OGX, estopim da crise, e a companhia de construção naval OSX estão em processo de recuperação judicial. A CCX Carvão Colômbia vendeu duas minas por US$ 125 milhões à Yildirim Holding. O Porto do Sudeste, que embarcará o minério da MMX, foi 65% vendido.

A mineradora chegou a fechar uma lista com dois candidatos estrangeiros ao papel de sócio estratégico na expansão de Serra Azul, mas as negociações foram paralisadas pela queda dos preços do minério de ferro no primeiro semestre.

Sem um novo controlador será difícil ter acesso a crédito, já que o BNDES fechou as portas ao projeto após a crise do grupo. A expansão da capacidade a 15 milhões de toneladas de minério/ano requer investimento de US$ 1,4 bilhão.

Os moldes da venda do controle de Serra Azul são semelhantes à ocorrida com o consórcio Trafigura/Mubadala, que assumiu 65% do Porto do Sudeste. A venda incluiu a transferência das dívidas da MMX para os novos donos do porto. A empresa saiu quase livre de débitos bancários, hoje de R$ 70 milhões.

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Apesar disso, a MMX tem dois outros passivos que pesam nas discussões com potenciais compradores: o contrato de "take or pay" (que prevê pagamento obrigatório mesmo sem uso do serviço) para transporte ferroviário de minério com a MRS Logística e uma dívida de R$ 431 milhões com fornecedores de equipamentos.

Reestruturação. O conselho da MMX acaba de aprovar a contratação da Angra Partners, consultoria que está à frente da reestruturação da EBX, para conduzir as negociações com os fornecedores de equipamentos para Serra Azul. Há pequenos fornecedores envolvidos, mas 90% do crédito se concentram em 10% deles. Um pedido de recuperação judicial, a exemplo de OGX e OSX, não é cogitado.

Já o contrato com a MRS está sendo discutido em uma câmara arbitral na Fundação Getúlio Vargas (FGV). A MMX segue provisionando os valores correspondentes às multas por descumprir parte do contrato. O caso foi levado também à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Ao mesmo tempo, os grupos tentam costurar uma solução amigável.

Enquanto não encontra um sócio, a MMX busca alternativas para ganhar liquidez. No dia 1º de julho, o conselho de administração aprovou a venda de parte da energia elétrica contratada pela empresa para consumir nos anos de 2016, 2017 e 2018. A transação será intermediada pela Cia Positiva de Energia. O grupo tem disponíveis 6.120 MW nos três anos para venda no mercado livre, cujos preços explodiram este ano diante do baixo nível dos reservatórios no País.

O conselho também deu sinal verde para a assinatura de contratos de arrendamento dos direitos minerários da subsidiária MMX Corumbá, com opção de compra futura. O Estado apurou que há um grupo estrangeiro e um nacional interessados nos ativos.

Em setembro, a MMX anunciou negociações potenciais com a Vetria Mineração, sociedade entre ALL, Vetorial Participações e Triunfo. Com aval do conselho, a MMX pode dar prosseguimento às conversas com os investidores. Uma das propostas prevê a entrada de algum dinheiro no caixa da companhia, que encerrou o primeiro trimestre em R$ 86,7 milhões.

A escolha pelo arrendamento com opção futura de compra e não a venda direta em Corumbá também é reflexo das pendências da MMX com a Receita. Assim, a outra parte pode assumir o ativo plenamente após sanada a questão fiscal. A MMX também estuda a venda de um terminal ferroviário em Minas e não descarta se desfazer da fatia de 35% no Porto do Sudeste.

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