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Eldorado dos executivos

Mercado brasileiro já paga salários mais altos que países desenvolvidos e vira um destino cobiçado para profissionais estrangeiros

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Por Fernando Scheller
Atualização:

O início de 2011 marcou uma virada nas carreiras do italiano Nico Riggio, do suíço Dominik Maurer e do brasileiro Luiz Sales. A trajetória desses executivos reflete a relevância que o mercado brasileiro ganhou para empresas e investidores internacionais. Riggio trocou Nova York pelo Brasil para iniciar um negócio de bebidas. Maurer recusou a oportunidade de voltar para a matriz da alemã T-Systems para comandar a filial brasileira. E Sales foi tirado da concorrência para capitanear a americana Targus, empresa de acessórios para informática que vai expandir a operação brasileira para cumprir objetivos globais.

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Entre as multinacionais, o Brasil é visto como um mercado essencial. Entretanto, montar a equipe de comando de um negócio no País passou a custar mais do que em qualquer economia desenvolvida. Segundo estudo da consultoria Hay Group, a remuneração média anual de um diretor financeiro no Brasil, incluindo salário e bônus, é de US$ 510 mil. É mais do que nos Estados Unidos (US$ 425 mil), na Alemanha (US$ 430 mil) e no Reino Unido (US$ 390 mil).

Nos outros quatro cargos pesquisados pela Hay Group a pedido do Estado - diretores de RH, vendas, marketing e produção -, a maior remuneração também é registrada no País. Para Patricia Epperlein, sócia-diretora da consultoria Mariaca, o custo da mão de obra de primeiro escalão assusta quem busca fincar bandeira no Brasil: "A escolha do executivo para uma operação raramente fica dentro do orçamento que a companhia havia imaginado, especialmente com o dólar baixo."

A procura pelo executivo adequado hoje desconsidera barreiras territoriais. Em 2010, o Brasil bateu recorde de vistos de trabalho para estrangeiros: foram 56 mil, alta de 30% em relação à média dos dois anos anteriores. Mas a demanda é muito maior. O banco de dados da consultoria americana Monster tem hoje 314 mil profissionais estrangeiros em busca de vagas no País. "O Brasil atrai pela complexidade do mercado e a escala da economia", afirma Diego Sanson, diretor de vendas da Monster para a América Latina.

Segundo Denys Monteiro, sócio da consultoria Fesa, a visão sobre o mercado brasileiro mudou desde a crise econômica. "Atualmente, comandar uma subsidiária brasileira é, muitas vezes, a vitrine para um futuro cargo de presidente global", afirma. O interesse pelo Brasil é evidente no dia a dia da consultoria. Dos cerca de mil currículos que chegam à Fesa diariamente, 20% são de estrangeiros - há dois anos, a proporção era de 10%.

O italiano Nico Riggio, de 36 anos, aproveitou a maré favorável no mercado brasileiro para planejar seu retorno ao País, onde já havia trabalhado como executivo da Philips. Antes de mudar-se para São Paulo há três meses, para lançar a Amawaters (empresa de águas com sabor), ele ocupava a vice-presidência de eletrônicos da gigante multinacional e morava em Nova York. A Amawaters é fruto de uma parceria entre investidores americanos e brasileiros. O produto deve chegar ao varejo brasileiro em julho e terá sabores associados à Amazônia. "Antes de decidir, recusei quatro propostas de empresas parecidas com a Philips. Queria começar algo novo", diz.

Importância. Não são só empresas novatas que se interessam pelo Brasil e pagam caro pelo passe de executivos como Riggio. Grandes multinacionais baseiam boa parte de seu crescimento no consumo brasileiro. O País já é o maior mercado para a italiana Fiat, vice-líder para a alemã Volkswagen e terceiro para a francesa Renault. A história se repete em outros setores: o País é a segunda fonte de receitas para a Unilever e a número três para a Nestlé.

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Especializada em acessórios de informática, a americana Targus contratou o executivo brasileiro Luiz Sales, de 40 anos, em fevereiro deste ano com o objetivo de estreitar seu relacionamento com varejistas como Walmart, Pão de Açúcar e Carrefour. Para Sales, a reconstrução dessa relação é essencial para a expansão no mercado. Com uma operação muito reduzida, a empresa perdeu espaço nos últimos anos para o chamado "mercado cinza", de importadores informais que trazem produtos muito baratos da China. "Agora, temos de recuperar terreno", diz.

Antes de se decidir por Sales, a Targus buscou um executivo no Brasil por mais de seis meses. A proposta financeira inicialmente feita pela companhia, conta o executivo, estava aquém da realidade local. Entretanto, como Sales se encaixava no perfil específico pedido pela Targus - experiência em varejo e acessórios de informática -, a empresa terminou por concordar em dobrar o valor inicialmente oferecido.

O suíço Dominik Maurer, de 42 anos, assumiu em janeiro o comando da operação da empresa alemã de tecnologia T-Systems no Brasil. Há seis anos no País, Maurer recusou uma proposta para voltar à matriz e apostou as fichas no País: "O Brasil cresce, tem oportunidades. E o salário do executivo é bom comparado ao da Europa", afirma.

Mas também há razões pessoais para a opção de Maurer por São Paulo. Ele e a esposa não querem abrir mão da vida cosmopolita da capital paulista: "Se eu voltasse para a Suíça, moraria em uma cidade de 50 mil habitantes. O ambiente, o clima, a vida - tudo aqui é mais gostoso."

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