Os países acima pertencem cada um a um grupo diferente. Nas eleições de 2018, será o momento de o Brasil decidir se quer trocar ou continuar no seu grupo.
Para entender melhor essa questão, comece comparando os arranjos a seguir:
1) Geografia-demografia: Recursos naturais, proximidade a importadores, ser populoso;
2) Conjuntura: Liquidez internacional, demanda por commodities, multinacionais se expandindo em países populosos;
3) Eficiência adaptativa: Contas equilibradas, instituições confiáveis, investimentos em educação e logística.
Quais você acha que trazem prosperidade a longo prazo?
Talvez tenha optado pelo terceiro. Muitos países têm se apoiado nos dois primeiros e só erraticamente buscado eficiência – como Indonésia, Nigéria, Argentina e Rússia, que, com geografia e demografia generosas, alternam crescimento e crises, avançando, em média, pouco. E se por décadas persistissem na eficiência adaptativa, nas reformas econômicas e institucionais, como Chile, Colômbia e Peru?
De início, eliminariam ineficiências e ganhariam confiança dos investidores. Alguns lentamente alcançariam um modesto padrão de bem-estar, como Croácia e Portugal, que, com capital europeu e reformas, cada um a seu modo progrediu.
Mas eficiência adaptativa pode servir a longo prazo a países com recursos naturais e população pequena, como Chile ou Casaquistão. Ou aos que estão sob o guarda-chuva europeu. Porém, nem sempre a países de poucas riquezas naturais, como Paquistão e Djibuti, ou populosos, como Índia e Indonésia.
Nesses, sob pressão, a cola das reformas saneadoras pode desgrudar. Como se vê no México, Filipinas, Índia e Brasil, ora queridinhos do mercado, ora recapturados pelo populismo econômico.
Além da eficiência adaptativa, precisariam do dinamismo inovador, como o têm Israel, China, Holanda e Vietnã.
Numa analogia, países com eficiência adaptativa sem dinamismo inovador são como empresas eficientes com metas fracas, competindo com outras eficientes de almas empreendedoras, resolutas e ousadas.
E como adquiri-lo não só em nichos de excelência (Embraer, agronegócio), mas nacionalmente?
Depende de uma soma de incrementos virtuosos nas instituições e na educação. Mas não só. Ecossistemas dinâmicos e inovadores não são um desdobramento natural da eficiência adaptativa e educação.
Sua formação é precedida, antes das reformas, pela fermentação de uma enzima muito especial: a constituição de coalizões locais e nacionais.
Ela ocorre quando líderes e parcelas da população se alinham por metas setoriais e nacionais ambiciosas de longo prazo. E concordam, explícita ou implicitamente, num pacto distributivo realista. Bem como atentam à produtividade e inovação.
Esse alinhamento se consolidou devagar em países hoje ricos, como EUA, Alemanha e Japão, e em poucas décadas na Coreia, Taiwan, e hoje aceleradamente em países pobres, como China, Vietnã e Estônia. Ele pode ser de aliados políticos ou suprapartidário.
Apesar da ideia de que tradições calvinistas e confucionistas, clima inóspito e traumas de guerra seriam chaves do dinamismo, vários países dessa categoria, seguindo políticas keynesianas ou liberais, continuam pobres, e outros só avançaram com consistência quando se acrescentou este alinhamento.
Ele depende, entre outros fatores, das crenças de gestão e patriotismo das lideranças, mas também dos modelos com os quais lideranças e população se identificam: veem-se aptas a alcançar os países de sucesso (um dia superá-los), se espelham nos modestos, ou veem-se como perdedoras?
No Brasil, Lula e, antes, o general Médici, atacaram nosso complexo de vira-lata, instilando autoestima e propondo metas elevadas. Mas, sem realismo distributivo, nem obsessão por eficiência, tudo descambou em ufanismo.
Nossos reformadores atuais, mais sóbrios, almejam só eficiência adaptativa, como se já fosse muito para um país tão desorganizado (e não formasse com o dinamismo inovador, desde o início, um par indissolúvel).
Como votaremos em 2018? Em aprender com Estônia, Vietnã e China, em imitar Peru, Polônia e Portugal, ou fazer companhia a México e Filipinas?
A resposta depende, não só, mas também, de lideranças maduras saberem se comunicar e debater as ideias com a população. ] PSICÓLOGO E ANALISTA DE COMPORTAMENTO
Os países acima pertencem cada um a um grupo diferente. Nas eleições de 2018, será o momento de o Brasil decidir se quer trocar ou continuar no seu grupo.
Para entender melhor essa questão, comece comparando os arranjos a seguir:
1) Geografia-demografia: Recursos naturais, proximidade a importadores, ser populoso;
2) Conjuntura: Liquidez internacional, demanda por commodities, multinacionais se expandindo em países populosos;
3) Eficiência adaptativa: Contas equilibradas, instituições confiáveis, investimentos em educação e logística.
Quais você acha que trazem prosperidade a longo prazo?
Talvez tenha optado pelo terceiro. Muitos países têm se apoiado nos dois primeiros e só erraticamente buscado eficiência – como Indonésia, Nigéria, Argentina e Rússia, que, com geografia e demografia generosas, alternam crescimento e crises, avançando, em média, pouco. E se por décadas persistissem na eficiência adaptativa, nas reformas econômicas e institucionais, como Chile, Colômbia e Peru?
De início, eliminariam ineficiências e ganhariam confiança dos investidores. Alguns lentamente alcançariam um modesto padrão de bem-estar, como Croácia e Portugal, que, com capital europeu e reformas, cada um a seu modo progrediu.
Mas eficiência adaptativa pode servir a longo prazo a países com recursos naturais e população pequena, como Chile ou Casaquistão. Ou aos que estão sob o guarda-chuva europeu. Porém, nem sempre a países de poucas riquezas naturais, como Paquistão e Djibuti, ou populosos, como Índia e Indonésia.
Nesses, sob pressão, a cola das reformas saneadoras pode desgrudar. Como se vê no México, Filipinas, Índia e Brasil, ora queridinhos do mercado, ora recapturados pelo populismo econômico.
Além da eficiência adaptativa, precisariam do dinamismo inovador, como o têm Israel, China, Holanda e Vietnã.
Numa analogia, países com eficiência adaptativa sem dinamismo inovador são como empresas eficientes com metas fracas, competindo com outras eficientes de almas empreendedoras, resolutas e ousadas.
E como adquiri-lo não só em nichos de excelência (Embraer, agronegócio), mas nacionalmente?
Depende de uma soma de incrementos virtuosos nas instituições e na educação. Mas não só. Ecossistemas dinâmicos e inovadores não são um desdobramento natural da eficiência adaptativa e educação.
Sua formação é precedida, antes das reformas, pela fermentação de uma enzima muito especial: a constituição de coalizões locais e nacionais.
Ela ocorre quando líderes e parcelas da população se alinham por metas setoriais e nacionais ambiciosas de longo prazo. E concordam, explícita ou implicitamente, num pacto distributivo realista. Bem como atentam à produtividade e inovação.
Esse alinhamento se consolidou devagar em países hoje ricos, como EUA, Alemanha e Japão, e em poucas décadas na Coreia, Taiwan, e hoje aceleradamente em países pobres, como China, Vietnã e Estônia. Ele pode ser de aliados políticos ou suprapartidário.
Apesar da ideia de que tradições calvinistas e confucionistas, clima inóspito e traumas de guerra seriam chaves do dinamismo, vários países dessa categoria, seguindo políticas keynesianas ou liberais, continuam pobres, e outros só avançaram com consistência quando se acrescentou este alinhamento.
Ele depende, entre outros fatores, das crenças de gestão e patriotismo das lideranças, mas também dos modelos com os quais lideranças e população se identificam: veem-se aptas a alcançar os países de sucesso (um dia superá-los), se espelham nos modestos, ou veem-se como perdedoras?
No Brasil, Lula e, antes, o general Médici, atacaram nosso complexo de vira-lata, instilando autoestima e propondo metas elevadas. Mas, sem realismo distributivo, nem obsessão por eficiência, tudo descambou em ufanismo.
Nossos reformadores atuais, mais sóbrios, almejam só eficiência adaptativa, como se já fosse muito para um país tão desorganizado (e não formasse com o dinamismo inovador, desde o início, um par indissolúvel).
Como votaremos em 2018? Em aprender com Estônia, Vietnã e China, em imitar Peru, Polônia e Portugal, ou fazer companhia a México e Filipinas?
A resposta depende, não só, mas também, de lideranças maduras saberem se comunicar e debater as ideias com a população. * PSICÓLOGO E ANALISTA DECOMPORTAMENTO