Em 2018, economia no ritmo da eleição

Analistas não têm dúvidas de que o ano que está terminando trouxe avanços no campo econômico, mas lembram que ainda há muitos desafios a serem superados, como a questão da Previdência, que pode ter espaço central no debate eleitoral

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Por Redação
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Presidente Michel Temer entra 2018 com importantes questões na agenda político-econômica Foto: André Dusek/Estadão

O ano que chega ao fim trouxe notícias alentadoras para a economia. Para o economista José Márcio Camargo, que assina um dos 11 artigos desta edição especial, reformas aprovadas durante o ano, como a trabalhista e a troca da TJLP pela nova TLP nas taxas de juros do BNDES, terão efeitos importantes para a atividade econômica já a partir do ano que vem.

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O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, lembra que o País chega a dezembro com uma taxa de inflação rodando abaixo de 3% e uma taxa de juros de 7% ao ano, nível nunca antes visto. A taxa de desemprego vem em trajetória de queda. “Estamos convictos de que teremos boas surpresas com nossa economia nos próximos anos”, diz.

Isso não quer dizer, evidentemente, que os problemas estão resolvidos. Como quase todos fazem questão de ressaltar, o País ainda vive uma situação fiscal delicadíssima. A dívida líquida sobe de forma consistente, saindo de cerca de 30,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2013 para 50,7% do PIB este ano, de acordo com o economista Luiz Schymura, da FGV Ibre. “A economia ainda necessita de um profundo ajuste fiscal”, diz a economista Monica de Bolle.

O rombo nas contas públicas, de R$ 159 bilhões projetados para este ano e também para 2018, deixa claro que há mudanças estruturais importantes que ainda precisam ser encaminhadas.

A reforma da Previdência, talvez a mais importante dessas mudanças, ficou para o ano que vem – e, para muitos, só deve ser votada mesmo quando um novo governo for eleito. Mesmo assim, para o economista José Roberto Mendonça de Barros, já houve uma vitória nessa questão: hoje, já não pairam mais dúvidas sobre a necessidade de uma reforma. “O diagnóstico de que não existem problemas está hoje restrito à extrema esquerda e aos representantes das corporações públicas.”

Para a economista Zeina Latif, há o reconhecimento dos investidores de que a reforma da Previdência está na agenda política brasileira, devendo ser aprovada pelo próximo presidente. O problema, diz, é se a reforma não for ambiciosa o suficiente para sinalizar que o País conseguirá estabilizar sua dívida pública.

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Eleição. O tema da Previdência, assim como das outras reformas, deve estar no centro do debate político em 2018, ano de eleições para presidente da República, governadores, senadores e deputados federais e estaduais. Para Roberto Rodrigues, ex-ministro da Agricultura, essas questões terão “decisiva influência no resultado das urnas” no ano que vem.

O cientista político Murillo de Aragão avalia que a aprovação da reforma previdenciária, seja ela qual for, poderá fortalecer o governo e seus pré-candidatos na disputa eleitoral.

Mas, segundo o também cientista político Carlos Melo, a recuperação econômica pode ter um efeito eleitoral menor que o esperado pelos candidatos do autodenominado “centro democrático”. “Candidatos de oposição enfatizarão problemas econômicos, lacunas e insatisfações, apontando também o agravamento de questões sociais”, diz. Seja como for, José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília, afirma que os problemas estruturais do País terão de vir à tona e devem ser discutidos seriamente pelos candidatos em 2018.

A recuperação econômica brasileira também pode enfrentar ameaças externas. Barry Eichengreen, professor da Universidade da Califórnia em Berkeley, lembra que paira sobre o mundo o risco Trump – que pode, por exemplo, desencadear uma guerra comercial com a China ou o México, ou uma guerra, mesmo, contra a Coreia do Norte, com resultados desastrosos para todo o planeta.

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