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Em evento com poucos políticos, Força pede mudanças em reformas

Deputado Paulo Pereira da Silva disse que, se governo não negociar, irá convocar nova paralisação

Foto do author Luciana Dyniewicz
Por Luciana Dyniewicz e Julianna Granjeia
Atualização:
Público em ato da Força Sindical no 1º de Maio, na zona norte, em São Paulo. Foto: Felipe Rau/Estadão. 

SÃO PAULO - Em tempos de Lava Jato e mal-estar entre população e políticos, o evento do Dia do Trabalhador da Força Sindical – que já contou com estrelas da política nacional como o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB) e o senador Aécio Neves (PSDB) – reuniu apenas quatro deputados federais: Paulinho da Força (SD), Orlando Silva (PCdoB), Roberto de Lucena (PV) e Major Olímpio (SD).

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O esvaziamento do antes disputado palco na manhã desta segunda-feira, em São Paulo, já era esperado pelos dirigentes, que receberam mensagens com pedidos de desculpas pelo não comparecimento por "outros compromissos anteriormente marcados". Entre os convidados ausentes estão desde o presidente Michel Temer até o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB).

"Tem um mal-estar generalizado com a política e os políticos estão recuados. Qualquer um que viesse seria vaiado", afirmou Paulinho, um dos fundadores da Força Sindical.

Os discursos no evento foram marcados pela convocação para uma nova greve caso não haja mudanças no texto das reformas previdenciária e trabalhista, além de críticas a Temer e a Doria.

“Se o governo não abrir para uma negociação séria e não fizer uma reforma que a gente possa aceitar, marcarmos uma nova paralisação nacional. Se o governo não mudar a proposta, vamos parar o Brasil novamente”, ameaçou, em seu discurso, Paulinho da Força.

“Quero fazer um apelo ao presidente. Ele não é o dono do Brasil. Ele foi colocado lá (na Presidência) para fazer o que fez no início (de seu governo). Não pode virar uma Dilma ou um Michel Rousseff. (Não pode ser) aquela pessoa má que hoje todo brasileiro odeia”, afirmou o deputado, que, apesar das críticas, ainda faz parte da base governista e foi um dos principais apoiadores do impeachment de Dilma.

Questionado pelo Estado se deixaria a base de Temer, o deputado sindicalista foi enfático: "Eu pedi pra entrar, não vou pedir pra sair. Se ele (Temer) quiser, ele que me tire (da base)".

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Ato da Força Sindical no Dia do Trabalho tem como lema "Direitos, empregos e aposentadoria digna". Evento teve participação do deputado Paulinho da Força (Solidariedade). Foto: Felipe Rau/Estadão 

A central é contrária, principalmente, ao fim da contribuição sindical, à nova idade mínima para aposentadoria e à regra de transição. De acordo com Paulinho, as reformas propostas pelo governo Temer fazem com que apenas os trabalhadores “paguem” pela crise econômica e não atingem a “elite brasileira”. 

O político também destacou que a extinção da contribuição sindical “amarra as mãos e os pés” das organizações dos trabalhadores, mas deixa intacto o sistema patronal. “Como vamos garantir os direitos dos trabalhadores se não temos recursos para negociar?”, disse.

O presidente da central sindical foi um dos poucos dirigentes que não fez referências ao prefeito de São Paulo, um dos mais atacados nos discursos por ter chamado os que aderiram à greve da última sexta-feira, 28, de “vagabundos” e “preguiçosos”

“Na hora de pedir voto, nós não fomos vagabundos. Nos respeite, (Doria), lave a boca para falar de nós", disse a presidente do Sindicato das Costureiras de São Paulo, Eunice Cabral.

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O deputado estadual Ramalho da Construção (PSDB) destacou que, apesar de ser do mesmo partido de Doria, não concorda com a posição do prefeito. “Prefeito que ajudei a eleger, ele, no mínimo, deve pedir desculpas por chamar eleitores de vagabundos e por ter jogado na rua as flores que recebeu ontem. Para quem prega Cidade Linda, você (Doria), está enganado.” No último domingo, Doria jogou pela janela do carro as flores que recebeu de uma ativista contrária ao aumento da velocidade nas marginais e à redução das ciclovias.

Os dirigentes também destacaram o aumento da taxa de desemprego, que passou de 10,9% no primeiro trimestre de 2016 para 13,7% no mesmo período deste ano, segundo o IBGE.

Negociação. As centrais sindicais se reúnem nesta terça-feira, 2, em Brasília com senadores, entre eles Renan Calheiros (PMDB-AL), para discutir possíveis mudanças no texto da reforma trabalhista, aprovado semana passada na Câmara. "Eles precisam entender que têm de ouvir nossas propostas e fazer um acordo com os sindicatos", disse Paulinho.

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O presidente da Força e o ex-ministro Orlando Silva acreditam que há chances de o Senado alterar o texto da reforma trabalhista. Principalmente depois da repercussão negativa da aprovação e da queda de popularidade de Temer.

"Se o Senado mudar o texto, a Câmara pode aprovar o texto alterado porque a votação à noite de última hora pegou muito mal para os deputados", disse Silva.

Um dos fundadores e ex-presidente da Força Luiz Antônio de Medeiros afirmou que as reformas de Temer estão sendo má conduzidas. "A maré de crise é tão grande que ninguém tem coragem de assumir um projeto. Reformas como essas precisam ser negociadas com os sindicatos e com a população e não com parlamentar, por voto", disse Medeiros.

Centrais unidas. Pela primeira vez trabalhando em conjunto, desde a greve do dia 28, as centrais sindicais do País divulgaram um documento unificado em que criticam as reformas organizadas pelo governo Temer e prometem "ocupar Brasília" para pressionar o Congresso.

Assinado pela CUT, CTB, CSB, UGT, Conlutas, Força Sindical, Intersindical e Nova Central, o documento chamado "A greve do 28 de abril continua" foi lido em todos os eventos do Dia do Trabalhador.

“O dia 28 de abril de 2017 entrará para a história do povo brasileiro como o dia em que a maioria esmagadora dos trabalhadores disse NÃO à PEC 287, que destrói o direito à aposentadoria, NÃO ao PL 6787, que rasga a CLT e NÃO à lei 4302, que permite a terceirização de todas as atividades de uma empresa”, diz o início do documento.

A carta, que cita uma possível "invasão de trabalhadores" no Congresso, destaca ainda o apoio recebido de diversas entidades como CNBB, OAB e MPT ediz exigir "que as propostas nefastas que tramitam em Brasília sejam retiradas”. 

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Delações. A jornalistas, Paulinho da Força negou que o patrocínio da Odebrecht às celebrações do Dia do Trabalhador em anos anteriores se tratasse de propina. “A Odebrecht, como outras empresas, patrocinava o Primeiro de Maio. Para nós, não era surpresa. Ela queria colocar a marca aqui e pagava (para isso) como qualquer outra empresa.” 

Neste ano, a empreiteira não participa do evento, que tem apoio da Hyundai, da Caixa Econômica Federal, da Nestlé, da Sabesp e dos governos estadual e federal. A montadora, por exemplo, doou 25 carros para serem sorteados ao público – 19 em São Paulo e o restante em outros Estados. De acordo com Paulinho da Força, o evento custa entre R$ 2,5 milhões e R$ 3 milhões e é totalmente bancado por patrocínios.

"É tudo patrocínio. Caixa, Hyundai, que dá os carros para o sorteio, a rádio Top FM contrata os shows". Segundo a organização, o evento, realizado na praça Campo de Bagatelle, na Zona Norte de SP, reuniu 150 mil pessoas.

O deputado e sindicalista negou novamente ter recebido dinheiro da Odebrecht para acabar com greves, como citado nas delações premiadas dos executivos da empresa. “Eu sou negociador. É minha função acabar com greves.”

Paulinho da Força aproveitou para responsabilizar os ex-presidentes Lula e Dilma pela atual crise. "Espero que governo (Temer) tope negociar para fazer uma reforma civilizada e para que as pessoas possam entender que foi feita uma reforma para salvar o Brasil do buraco em que PT nos deixou." 

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