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Em meio a safra recorde, Cargill considera voltar às compras no Brasil

Empresa americana, que é grande exportadora de grãos e dona de marcas de varejo como Liza e Elefante, pode investir até R$ 400 milhões no País em 2017, segundo o presidente do grupo, Luiz Pretti

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:
  Foto: Tiago Queiroz | ESTADÃO CONTEÚDO

Em meio a safra recorde de grãos prevista para este ano, a multinacional americana Cargill deverá manter investimentos no Brasil para 2017 e não descarta fazer aquisições para expandir sua atuação no País, segundo principal mercado da maior companhia agrícola do mundo, atrás dos Estados Unidos. Depois de investir R$ 3,8 bilhões nos últimos seis anos, sobretudo em infraestrutura, a trading deve aportar este ano entre R$ 300 milhões a R$ 400 milhões no País, disse ao ‘Estado’, Luiz Pretti, presidente do grupo no Brasil.

A Cargill faz parte do grupo Pirarara Foto: Luc Gnago/Reuters

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Uma das maiores exportadoras do País, a Cargill faz parte do grupo Pirarara, consórcio que reúne as tradings ADM, Bunge, Louis Dreyfus e AMaggi, e a empresa de estruturação EDLP, para erguer o “Ferrogrão”, a tão esperada ferrovia que fará o escoamento da safra agrícola pela região Norte do País. Este é um empreendimento que aguarda o aval do governo para os próximos meses, e deverá receber investimentos estimados entre R$ 14 bilhões e R$ 15 bilhões. “É um projeto importante de longo prazo, mas que depende da conclusão das obras da BR 163. São complementares e não excludentes”, disse Pretti.

Segundo Pretti, a Cargill avalia como deverá participar desse investimento. “Seremos usuários e estamos (o consórcio) constantemente em diálogo com o governo para viabilizar esse projeto”, afirmou.

Entre os aportes que serão feitos pela companhia – que possui seis terminais portuários no País e 22 fábricas em operação, estão a conclusão de investimentos em infraestrutura já em curso, como a expansão dos terminais de Santarém e Miritituba, ambos no Pará, e transporte via barcaças no Rio Tapajós.

Em novembro passado, a companhia, que também é dona de importantes marcas do consumo, como o óleo de soja Liza e produtos atomatados Pomarola e Elefante, comprou a empresa paranaense SGS, de óleos industriais.

Segundo Pretti, essa aquisição faz parte da aposta da companhia em investir nesse segmento, que também tem aplicação no setor de cosméticos e tem potencial para crescer. No radar da gigante americana, estão ainda aquisições no setor de “food service” (alimentação fora do lar). “Não temos intenção de concorrer com nossos clientes (que vendem marcas). A cadeia de food service tem crescido com a crise.”

Resultados. Em 2016, a companhia encerrou com receita líquida de R$ 33,052 bilhões, ligeira variação sobre 2015, que ficou em R$ 32,769 bilhões. Os dados do ano passado consolidam, pela primeira vez, os resultados da Cargill Alimentos, que integra a Cargill Agrícola S.A. e a área de Nutrição Animal. O lucro líquido no período cresceu 49%, para R$ 707,79 milhões.

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Segundo o executivo, a Cargill deverá se beneficiar este ano da safra recorde, embora o câmbio e os preços das commodities não estejam tão favoráveis como no ano passado. Cerca de 75% das vendas da múlti são para o mercado externo. O executivo acredita que as reformas da Previdência, trabalhista e simplificação tributária são importantes para dar respaldo à recuperação da economia do País.

Desafios e concorrência. Para José Carlos Hausknesht, da MB AGro, uma das maiores consultorias de agronegócio do País, as tradings que atuam no Brasil vão se beneficiar em escala, com o maior volume de grãos, ao contrário dos produtores, o elo mais fraco da cadeia. “O desafio do agronegócio continua sendo o escoamento da safra (logística)”, disse o especialista. No fim de fevereiro, cerca de 3 mil caminhões ficaram atolados por conta das chuvas na BR 163, rodovia que liga Mato Grosso ao Pará e que precisa de pesados investimentos para ter o asfaltamento concluído.

A “invasão” de companhias chinesas também pode ameaçar o reinado das tradicionais tradings com atuação no Brasil, conhecidas como ABCD – ADM, Bunge, Cargill e Dreyfus. Elas estão dividindo o mercado com esses competidores de peso e estratégia agressiva de expansão, como a Cofco (que reúne a Nidera e Noble Group) e a PengXin (que comprou no País as empresas Fiagril e Belagrícola).

Pretti sustenta o discurso de que a concorrência é saudável para a cadeia do agronegócio. Para Hausknesht, a entrada das companhias asiáticas trará maior competição ao agronegócio.

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