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Em sete meses, mais de 1 milhão de brasileiros se tornam inadimplentes

Aprofundamento da crise e queda na renda são os principais fatores que levaram ao aumento do calote, aponta pesquisa da Atento

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

O aprofundamento da crise econômica, que abalou a renda e o emprego, provocou um salto na parcela de consumidores que se consideram inadimplentes. No primeiro quadrimestre deste ano, quase a metade dos brasileiros (48%) entre 18 e 65 anos de idade tinham alguma dívida com pagamento atrasado, ante 46% em agosto do ano passado, revela uma pesquisa nacional feita pela empresa de call center Atento.

 “Em sete meses, houve um avanço de dois pontos porcentuais na parcela de inadimplentes. Isso émuito forte”, afirma o diretor executivo da companhia, Regis Noronha. Nas suas contas, esses dois pontos porcentuais correspondem a 1,128 milhão de brasileiros que se tornaram inadimplentes no período. A Atento, empresa de serviço de gestão de relacionamento com clientes, decidiu, pela segunda vez, fazer uma pesquisa de âmbito nacional a fim de avaliar como anda a inadimplência e traçar um perfil dos devedores para municiar os seus clientes.

Dívida no cartão de crédito é o principal fator de calote Foto: Divulgação

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Neste ano, os principais motivos apontados para o aumento do calote são praticamente os mesmos de agosto do ano passado, mas a parcela de inadimplentes que alega esses fatores só cresceu. Em agosto de 2015, 13% dos entrevistados apontavam a crise como o motivo que levou à inadimplência e 31%, a queda na renda. No primeiro quadrimestre deste ano, 20% dos entrevistados indicaram a crise como fator e 37% a queda na renda.

Noronha observa que o agravamento da crise não só ampliou a inadimplência, mas também restringiu as alternativas para renegociar os atrasos e quitá-los. Na pesquisa de agosto, 48% dos inadimplentes disseram que já estavam negociando os pagamentos atrasados. Agora essa parcela que está negociando a quitação das pendências diminuiu para 43%.

De acordo com a pesquisa, o aumento do calote atingiu todas as classes sociais, mas um resultado que chama a atenção, segundo Noronha, é que até os mais ricos estão tendo dificuldade para colocar as contas atrasadas em dia. Em agosto do ano passado, 100% dos inadimplentes da classe A afirmaram que estavam negociando o pagamento das pendência. Nas pesquisa deste ano, essa parcela era de apenas 17%. “A crise também atingiu os mais ricos”, diz o executivo.

Cartão de crédito. Quanto ao tipo de dívida que levou à inadimplência, o cartão de crédito ocupa o topo do pódio, com 67% das respostas, seguido pelo crédito pessoal (29%) e o cheque especial (27%). Em agosto do ano passado, esses instrumentos de crédito também lideravam o ranking das dívidas que levaram ao calote, mas com porcentuais menores. O cartão de crédito tinha sido apontado por 66% dos entrevistados como motivo de inadimplência, seguido pelo crédito pessoal (29%) e pelo cheque especial (22%).

Apesar de o cartão e o crédito pessoal serem apontados como os vilões do calote, essas linhas não são, do ponto de vista dos inadimplentes,prioritárias na hora de limpar o nome. O cartão de crédito aparece em terceiro lugar na ordem de importância na hora de liquidar as pendências e o crédito pessoal em sétimo lugar. Noronha observa que as prestações atrasadas do financiamento imobiliário e com a escola dos filhos ocupam o primeiro e o segundo lugar, respectivamente, na lista de importância do brasileiro na hora de liquidar as faturas pendentes.

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Com relação ao valor da dívida em atraso, o cenário piorou em sete meses. Hoje 50% dos que estão inadimplentes têm dívidas acima de R$ 2 mil; em agosto do ano passado essa parcela era de 47%. Noronha ressalta que atualmente 40% dos inadimplentes estão com dívidas em atraso há 180 dias. “Isso é extremamente alto.”

A pesquisa mostra também que as perspectivas para o futuro não são favoráveis e o desemprego e a inflação são as principais preocupações. Em agosto do ano passado, 68% dos entrevistados estavam preocupados com o desemprego e 44% deles com a inflação. No primeiro quadrimestre deste ano, esses porcentuais subiram para 85% e 57%, respectivamente. “A população está preocupada com o futuro e começa a reduzir o custo das dívidaspara evitar um aumento maior da inadimplência”, afirma o diretor da Atento.

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