O sonho da família Silva de abrir um negócio próprio durou pouco. No início do ano passado, Verônica Rodrigues Miranda e o marido Guilherme Vinícius Arruda da Silva pediram demissão, pegaram a filha Lavinya, de 3 anos, e foram de São Paulo para Pernambuco para abrir uma pequena confecção de jeans.
Eles tinham indicação de amigos de que, com o crescimento do consumo, o mercado estava favorável para o setor de confecção. Verônica era secretária escolar e Guilherme, gerente de posto de gasolina em São Paulo. Juntos, tinham uma renda mensal em torno de R$ 6 mil.
Com cerca de R$ 30 mil de economias, compraram máquinas de costura, tecido, linha e começaram a fabricar calças, shorts e jaquetas jeans. Só que, de uma hora para outra, foram surpreendidos porque os clientes cortaram as compras. “Tivemos de vender tudo para pagar o que devíamos e voltamos para São Paulo com uma mão na frente e outra atrás”, conta Verônica, que hoje está à procura de um novo emprego.
O marido, há duas semanas conseguiu se recolocar na mesma função, mas com salário menor. Ganhava cerca de R$ 4 mil e hoje tira R$ 3 mil. Na época que saiu de São Paulo, ele cursava a faculdade de administração. Agora, não tem renda para retomar os estudos. “Empreendemos na hora errada, quando o País começou a entrar em crise”, diz ela.
A sorte foi que a família manteve a casa própria equipada em São Paulo, com geladeira, fogão, duas TVs, micro-ondas.
Verônica admite que o seu padrão de vida caiu, e muito. “Antes saíamos para restaurante, balada ou íamos para a praia todo final de semana. Agora paramos com tudo, porque não temos condição: hoje o lazer é praticamente ficar em casa.”
Mais barato. No supermercado, antes gastava cerca R$ 400 por mês. “Hoje é só uma cesta básica e vou mantendo a mistura”, conta, ao explicar que opta sempre pelo produto mais barato. Também os itens supérfluos saíram da lista de compras da família.
A redução de quase 50% da renda em apenas um ano e o fim das economias deixaram um saldo negativo nas contas da família. “Estamos com a documentação do carro atrasada e as contas de água e luz também”, diz. Mas a prestação do veículo, de R$ 1.100, está em dia, porque está sendo paga com a ajuda de parentes.
Apesar do tombo, a família Silva não desiste. “Agora, é tentar arranjar um emprego e se reorganizar financeiramente”, diz Verônica.