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Empresas frustram funcionários com 'ofurô corporativo'

Programas de qualidade falham por não prever plano de carreira, reconhecimento profissional e melhorias no ambiente de trabalho

Por MÁRCIA RODRIGUES
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Enquanto a maioria das empresas valoriza a implantação de programas de bem-estar com massagem antiestresse, exercícios de relaxamento, aulas de dança, acompanhamento nutricional e antitabagismo, os funcionários entendem que qualidade de vida no ambiente profissional é serem reconhecidos pelo seus trabalhos. Para eles, também faz parte da qualidade ter prazer em realizar suas atividades diárias em um clima agradável, sem pressão excessiva e sem metas inatingíveis, bom relacionamento e, principalmente, possibilidade de crescimento profissional.É o que aponta estudo coordenado pelo professor e pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Mário César Ferreira. A conclusão é que tanto os funcionários de empresas privadas quanto servidores públicos sentem-se "frustrados" com o que as empresas oferecem. "Reconhecimento é uma necessidade universal, não importa onde estejamos. Seja no setor público ou privado, o funcionário quer ser valorizado pelo que faz e não desfrutar apenas de poucos momentos de bem-estar. Afinal, a maior parte de nosso dia é dedicada ao trabalho. Por isso, a qualidade deve estar atrelada a proporcionar que a atividade seja desempenhada de forma prazerosa", comenta o professor.Para fazer o levantamento, o Grupo de Estudos e Pesquisas em Ergonomia Aplicada ao Setor Público (ErgoPublic) analisou 40 sites brasileiros de empresas (36 deles de São Paulo) que atuam na área de qualidade de vida no trabalho (QVT). Alvo errado. O grupo identificou 85 atividades diferentes direcionadas ao bem-estar. Nenhuma apontava soluções pontuais na estrutura da empresa para melhorar o clima, o espaço físico ou o plano de carreia. Demandas que foram pleiteadas por 2.105 servidores federais, por exemplo, quando questionados sobre o que consideravam qualidade de vida no trabalho."O que as empresas vêm fazendo é uma espécie de 'ofurô corporativo', no qual se pega o funcionário em condições inadequadas de trabalho e o coloca em uma aula de ioga, por exemplo", afirma Ferreira. Ele acrescenta: "Depois de 50 minutos de relaxamento, ele volta para o mesmo ambiente deteriorado e tem até um choque de realidade. Afinal, o que ele vive na maior parte do tempo está naquela sala. É um erro valorizar medidas que focam o indivíduo e não o ambiente de trabalho". O professor orienta as empresas a ouvirem os funcionários para identificar melhor os problemas e cortá-los pela raiz."A questão é que os programas criados pelas corporações têm como foco aumentar a resistência física ou mental do indivíduo visando a produtividade", comenta. Atividades laborais e sessões de relaxamento, na opinião dele, visam apenas a manter o trabalhador saudável e ativo.Para Ferreira, o funcionário não é bobo e logo percebe que essas "distrações" não resolvem seus problemas diários. Alguns programas, no entanto, podem ser positivos para os funcionários. É o caso do diretor comercial do Grupo Gente, consultoria especializada na contratação de mão de obra para outras empresas, José Roberto Machado, que perdeu 12 quilos com um programa nutricional corporativo.

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