PUBLICIDADE

Publicidade

Entra em cena o 'sacoleiro suíço'

Com o achatamento salarial, por causa da valorização do franco, população procura o comércio das cidades próximas à fronteira

Por Jamil Chade
Atualização:

FERNEY VOLTAIRE, FRANÇA Se a economia francesa está estagnada, as cidades que têm a sorte de ficar na fronteira com a Suíça não conhecem a crise. Por causa do franco valorizado, consumidores suíços cruzam a fronteira para fazer compras na França. Desde o início do ano, os suíços viram a moeda valorizar mais de 20% em relação ao euro. Na prática, gastar do outro lado da fronteira ficou 20% mais barato para os suíços. Não por acaso, as lojas têm contratado mais funcionários para atender os "sacoleiros suíços". "Ficou tudo mais barato. Não compro mais nada na Suíça", admitiu Cathy, uma funcionária da ONU, em Genebra, que todos os fins de semana cruza a fronteira com a França para fazer supermercado.A fila nos postos de gasolina das cidades da fronteira também aumentaram. Até cabeleireiros tiveram de aumentar o número de funcionários para dar conta dos clientes "estrangeiros". No estacionamento do Carrefour, na cidade fronteiriça de Ferney Voltaire, o difícil é encontrar lugar para parar. Mas basta ver as placas dos carros: todos são da Suíça. O fluxo de "sacoleiros" preocupa o governo, temendo impacto negativo no comércio local. O ministro da Economia, Johann Schneider Ammmann, convocou organizações de consumidores, importadores e lojistas para debater a situação. No maior supermercado da Suíça, o Migros, as vendas caíram. "Obviamente, notamos que as pessoas deixaram de comprar na Suíça e estão indo para outros países", disse a porta-voz do grupo, Monika Weibel. A rede tem forçado fornecedores a reduzirem preços para poder competir, o que também traz ao governo o temor de uma deflação. Salário. Outro fenômeno é a crise que afeta os salários. Em Genebra e Zurique, milhares de pessoas são pagas em dólares ou euros, já que são funcionários internacionais. Nas últimas duas semanas, o consulado de Portugal fechou as portas. Os funcionários entraram em greve por ter perdido 20% de sua renda em um ano. Diplomatas têm optado por manter os salários em contas em dólares e esperar até 2012, torcendo por um câmbio melhor. ONGs também sofrem com o mesmo problema. "Nossos funcionários foram seriamente afetados pela mudança cambial", declarou Ralph Keller, da entidade Save the Children. Na ONU, maior drama vivem os 70 mil aposentados da organização. Pelas regras da entidade, os pensionistas podem escolher se querem receber em dólar ou franco. Tradicionalmente, a opção foi pelo dólar. Alessandra Vellucci, porta-voz da ONU, garante que meios de compensação estão sendo estudados.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.