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Entrada de dólar cai 64% no semestre, mas BC segura a cotação da moeda

Intervenção do BC no câmbio, no valor de US$ 200 milhões por dia, impediu uma maior desvalorização do real

Por Victor Martins
Atualização:

BRASÍLIA - A entrada de dólares no Brasil caiu 64,4% no primeiro semestre em comparação com o mesmo período de 2013. Se não fosse pela intervenção diária do Banco Central, a cotação da moeda americana teria disparado no Brasil, segundo analistas de mercado. O BC intervém no câmbio por meio do programa de swaps - que equivale à venda de dólares. Este programa abastece o mercado com US$ 200 milhões por dia e foi renovado recentemente pelo BC para vigorar pelo menos até o fim do ano. Pelos dados do BC, de janeiro a junho a diferença entre os dólares que ingressaram no País e os que saíram deixou um saldo positivo de US$ 3,172 bilhões. No mesmo período de 2013 a cifra foi maior, US$ 8,913 bilhões. Ainda falta um dia para o fechamento dos resultados de junho, mas analistas avaliam que dificilmente ele será capaz de reverter o quadro do mês. Até o dia 27, o fluxo está negativo em US$ 856 milhões.Apostas. A expectativa para o segundo semestre diante dos dados apresentados até agora - e da recuperação dos Estados Unidos, cenário que tende a fortalecer a divisa americana -, é de fluxos de recursos mais fracos para o Brasil, predominando a tendência de saldo negativo. "A cotação do dólar está muito mais sensível ao Banco Central do que ao fluxo cambial", disse Newton Rosa, economista-chefe da Sul América Investimentos. "Em algum momento, de maneira pontual, o fluxo até tem impacto, mas o determinante é a postura do BC, que tem administrado o câmbio entre R$ 2,20 e R$ 2,30." Bruno Lavieri, economista da Tendências Consultoria, avalia que a incerteza dos mercados quanto ao rumo das eleições tem sido o fator dominante por trás do fluxo "errático". Segundo ele, a "ração diária" do BC, pelo programa de swap, tem garantido a cotação ao redor de R$ 2,20. "Apesar do fluxo fraco, a autoridade monetária consegue sustentar um patamar confortável para o câmbio, no qual não surgem pressões dos exportadores e da inflação", disse Lavieri. Ontem, mesmo com a intervenção diária do BC, a moeda americana terminou cotada a R$ 2,2240, com alta de 0,86% no mercado à vista. O movimento foi puxado por dados do mercado de trabalho privado americano, que registrou a criação de 281 mil postos, acima da previsão de 210 mil vagas. Esse número indica que a economia dos EUA está em franca recuperação e pode levar à alta da taxa de juros, o que puxa o dólar para cima em vários para países.Déficit. Dados recentes da economia brasileira mostram que a cotação do dólar está pressionada, segundo analistas. Márcio Garcia, do Departamento de Economia da PUC-Rio, chama a atenção para o déficit das contas externas, que "já está grande e continua crescendo, apesar do crescimento (da economia) muito baixo". "Isso é indicação de que os preços estão errados e que a taxa de câmbio real está apreciada. E a forma mais comum pela qual essa distorção é corrigida é via taxa de câmbio nominal." Garcia vê disposição do BC em manter o câmbio na faixa de R$ 2,20 a R$ 2,40, tendo em vista o horizonte eleitoral, que pode trazer volatilidade, e também por causa da retirada de estímulos monetários nos EUA, que tende a afetar países emergentes como o Brasil. Além disso, o BC, "por dever de ofício, leva em conta os impactos do dólar na inflação". "A política que parece estar em vigor é a de fazer o mínimo ruído possível." Para Fernando Bergallo, gerente de câmbio da TOV Corretora, o nível de dólar a R$ 2,20 é "artificial". "Esse nível de R$ 2,20 é artificial e abaixo disso, muito prejudicial para a indústria. O mercado e o Banco Central estão defendendo esse nível e vejo mais espaço para o dólar subir", disse Bergallo. / COLABORARAM LUCIANA ANTONELLO XAVIER E FABRÍCIO DE CASTRO

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