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Especialistas recomendam cautela ao investir em ações da Petrobrás

Em tempos de incerteza sobre a petroleira, analistas destacam cuidados que investidor deve tomar antes de aproveitar 'pechincha' na Bolsa

Por Malena Oliveira
Atualização:
Petrobrás Foto: Fábio Motta/Estadão

O preço das ações da Petrobrás, hoje na faixa dos R$ 12, tornou-se convidativo para os investidores que buscam retorno a longo prazo. Porém, o recente escândalo de corrupção, que levou a empresa a adiar a publicação do seu balanço auditado, e a queda no preço do barril do petróleo no mercado internacional são alguns dos fatores que geram incertezas sobre a viabilidade das apostas nos papéis da empresa. Tanto para vender quanto para comprar, Luís Gustavo Pereira, da Guide Investimentos, aconselha o investidor a esperar: "Talvez não seja a hora ideal para vender, pois o papel está bastante depreciado. Por outro lado, também há incertezas em relação à compra". A petroleira vale hoje menos da metade do seu patrimônio líquido, segundo levantamento da consultoria Economatica. Só nos últimos quatro anos, a empresa perdeu 52% de seu valor de mercado. O analista também destaca que os resultados do terceiro trimestre da companhia - ainda não divulgados devido à recusa da auditoria externa em assinar o balanço - e a sua capacidade de cumprir seu plano de investimentos (incluindo a extração de petróleo do pré-sal) são informações decisivas para a direção das linhas no gráfico. "Não é porque uma ação está barata que ela deve ser comprada. A empresa precisa ter um fluxo de caixa positivo", explica. A cautela também é recomendada por Pedro Baldaia, da São Paulo Investments, que cita a capacidade da Petrobrás pagar suas dívidas como um dos fatores de peso no valor dos papéis, inclusive nos negociados no exterior: "A partir do momento em que o preço do petróleo baixa tanto no mercado internacional, fica menos provável a Petrobrás conseguir uma geração de caixa que compense os investimentos feitos". Por outro lado, o preço baixo dos papéis pode influenciar um movimento de alta. Para o consultor de investimentos Richard Rytenband, o momento para investir em ações da Petrobrás não poderia ser outro. Ele cita crises financeiras e de abastecimento para explicar sua aposta na valorização da companhia a longo prazo, numa perspectiva de 10 a 15 anos. "Entre 1986 e 1988, na reestabilização de preços após a crise do petróleo, as ações chegaram a cair 93%. Entre 1997 e 1999, na crise da Ásia, a queda foi de 84%. Esses ciclos de altas e quedas fazem parte dos problemas que a companhia tem." Ele também compara a queda do valor das ações em 2014 com o período de transição entre os governos FHC e Lula, semelhante em incertezas no âmbito econômico. "A relação entre o risco e o retorno para quem compra hoje ações da Petrobrás pode ser até melhor do que a vista entre 2002 e 2003", afirma.

Cenário. As ações da estatal foram bastante penalizadas por incertezas quanto às eleições presidenciais e aos ajustes que ainda devem ser feitos para que a economia volte a crescer. A queda no preço dos papéis foi ainda mais acentuada após as denúncias da Polícia Federal que, por meio da Operação Lava Jato, descobriu um esquema milionário de desvio de recursos da petroleira. Para os próximos anos, as perspectivas são otimistas por conta dos investimentos em produção feitos pela companhia, que ainda podem render um bom fluxo de caixa. Entretanto, o nível de endividamento da empresa e o desenrolar das investigações sobre corrupção podem trazer ainda mais complicações para os negócios. Por conta do nível de alavancagem da Petrobrás (relação entre dívida líquida e patrimônio líquido), em 40% do patrimônio, a agência Moody's rebaixou a nota individual da empresa e alertou que há a possibilidade de corte na nota global, o que levaria à perda do grau de investimento e um menor acesso a capital estrangeiro.

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