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Estudo foi levado a Geisel em 1974

Documento elaborado pelo setor privado foi encaminhado pelo então vice-governador de São Paulo um ano antes da criação do ProálcoolInovador. Chegada da cana para produzir açúcar e álcool: programa brasileiro criou combustível para substituir gasolina

Por e GUARIBA
Atualização:

Foi em um sábado, entre outubro e novembro de 1975, que o presidente Ernesto Geisel enquadrou seus ministros e impôs a criação do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). Mas a história do mais bem-sucedido programa de substituição do petróleo do mundo, que fez 35 anos esta semana, ganha um novo capítulo com a revelação de um estudo inédito, de 1974, sobre a produção do combustível.Divulgado pela primeira vez à imprensa, o documento histórico foi obtido com exclusividade pela Agência Estado com o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, à época um jovem engenheiro agrônomo, filho do então vice-governador de São Paulo, Antonio José Rodrigues Filho, e presidente da Cooperativa dos Plantadores de Cana da Zona de Guariba (Coplana).Ao lado do economista Victor André Argolo e do diretor industrial da Usina São Martinho Agenor Pavan, Roberto Rodrigues elaborou, em 1973, o plano, com 16 páginas, a pedido do pai. Como vice-governador paulista, Antonio Rodrigues entregou-o a Geisel em 22 de novembro de 1974. Rico em detalhes, o documento apresenta o projeto para substituição da gasolina pelo etanol de cana, com todos os custos de produção, da cana ao combustível renovável, esmiuçados.O trabalho se soma ainda à principal contribuição do setor privado ao governo como modelo de produção de etanol conhecida até hoje: o estudo Fotossíntese como Fonte Energética, elaborado em 1973 em resposta à primeira crise mundial do petróleo pelo usineiro paulista Cícero Junqueira Franco e pelo então vice-presidente do grupo Ultra, Lamartine Navarro Júnior. Entregue ao governo no início de 1974, o documento é considerado o embrião do Proálcool. O projeto foi desenvolvido pelas usinas da Barra, Nova América, Santa Elisa e Zanini S.A.A divulgação do projeto elaborado paralelamente pelo ex-ministro Rodrigues traz nova luz àquele momento histórico e revela o empenho do setor privado em transformar o etanol em substituto da gasolina, então registrando preços recordes. Naquele ano, o consumo de gasolina era de 14 bilhões de litros por ano, mas projeções apontavam 32 bilhões de litros até 1984. O momento era delicado, o mundo enfrentava a primeira crise do petróleo. A commodity respondia por até 70% das importações e consumia US$ 1,5 bilhão por ano. Em carta anexada ao projeto, o então vice-governador de São Paulo lembra a Geisel que já havia comentado sobre "a importância da produção de álcool oriundo de cana para ser utilizado como combustível" e cita que os três especialistas compuseram o trabalho apresentado. "Ofereço o estudo a v. exa. como despretensioso subsídio, convicto de que deve ser seriamente considerado", relatava Antonio Rodrigues na carta.Segundo Roberto Rodrigues, que hoje preside o Conselho Superior do Agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), nunca houve resposta à carta e ao projeto. "Que destino se deu a esse documento e as conclusões dele eu não sei, mas o que é relevante é que o vice-governador paulista encaminhou ao presidente um documento tratando de um programa brasileiro do álcool um ano antes", resumiu Rodrigues, que garante não ter mágoas pelo suposto engavetamento do estudo.

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