Publicidade

EUA reiteram ação; reunião do FMI vira tiroteio

Secretário americano confirma ameaças de impor barreiras e China retoma defesa da globalização

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, repetiu na reunião do Fundo Monetário Internacional (FMI) a ameaça de impor barreiras a produtos de exportadores considerados desleais. “Continuaremos a promover a expansão do comércio com aqueles parceiros comprometidos com a competição de mercado, e ao mesmo tempo nos defenderemos mais vigorosamente das práticas comerciais injustas”, afirmou o secretário em pronunciamento preparado para a sessão do Comitê Monetário e Financeiro. Formado por 24 ministros das maiores economias de cada região, o comitê toma decisões políticas em nome dos 189 sócios da entidade.

PUBLICIDADE

Apontar a China como parceiro desleal é parte do jogo há umas duas décadas. Mas o presidente Donald Trump tem alvos mais variados. Já acusou a Alemanha de promover a depreciação do euro para baratear seus produtos e ganhar vantagem comercial. Nesta semana autorizou o início de uma investigação sobre importações de aço – uma ameaça principalmente à China, mas também ao Brasil.

A reunião virou um tiroteio bem educado, com trocas de acusações sem referência a nomes de países. Não há leitura integral de todos os pronunciamentos na sessão, mas a distribuição dos textos é suficiente para definir as posições.

O ministro de Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, apontou o risco de “incertezas políticas” e mencionou “a evidência do aumento do protecionismo e do sentimentos protecionistas” como ameaças à nova etapa de crescimento global. Foi além e citou a disposição de seu país de defender as normas de comércio.

Em resposta à onda protecionista, afirmou Schäuble, “a Alemanha compromete-se a manter aberta a economia global, resistir ao protecionismo, manter nos trilhos a cooperação global econômica e financeira e fortalecer uma ordem internacional baseada em regras”.

A declaração do ministro alemão atingiu o programa de Trump em mais de um ponto. Além de prometer medidas comerciais defensivas, o presidente americano mostrou disposição de abandonar acordo e de desprezar a ordem global administrada por instituições como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Anunciou também a intenção de afrouxar os controles bancários – item recordado por Mnuchin, numa referência à desregulação como parte da agenda de seu governo.

O risco de enfraquecimento das normas financeiras foi mencionado com ênfase pelo ministro Henrique Meirelles na declaração preparada para a reunião do comitê. A crise iniciada em 2007-2008, no mundo rico, foi amplamente possibilitada pela frouxidão dos controles em grandes mercados. Acordos para a imposição de regras firmes, como exigências maiores de capital, foram uma das principais consequências políticas do estouro da bolha há nove anos.

Publicidade

Também o presidente do banco central da China, Zhou Xiaochuan, entrou na defesa do comércio aberto, do sistema de regras e da cooperação internacional. Incertezas políticas e o crescente sentimento protecionista e antiglobalização ameaçam o crescimento, segundo o chinês. É especialmente importante, sustentou, valorizar o sistema aberto de comércio e de investimento e resistir conjuntamente ao protecionismo.

Promessa. O comunicado oficial do Comitê Monetário e Financeiro, distribuído logo depois da reunião, incorpora o compromisso de resgatar os grupos deixados para trás e de preparar os trabalhadores para acompanhar a tecnologia. A palavra protecionismo ficou fora do texto, mas foi incluída a promessa, aceitável por todos, de evitar as políticas voltadas para dentro. Foi reafirmada a avaliação positiva do quadro global, em recuperação mais firme desde o meio de 2016, com ressalvas quanto à produtividade, atualmente baixa, e à persistência de desequilíbrios, importantes, como os grandes superávits externos mantidos por alguns países. Também foi repetida a promessa, quase ritual, de evitar a busca de vantagens competitivas por meio de desvalorizações cambiais. Mas o risco de conflito permanece.