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EUA terão meta de inflação de 2% ao ano

Banco central americano decide adotar sistema usado em vários países desde a década de 90, inclusive no Brasil, onde funciona desde 1999

Por Leandro Mode e de O Estado de S.Paulo
Atualização:

Texto atualizado às 20h

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SÃO PAULO - Em um movimento histórico, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) informou nesta quarta-feira, 25, que decidiu adotar o sistema de metas de inflação, o mesmo que é usado no Brasil desde 1999. O BC americano se comprometeu a buscar um índice de 2% ao ano. Aqui, a meta é de 4,5%, com margem de tolerância de dois pontos porcentuais para cima ou para baixo.

"Após cuidadosas avaliações nas suas últimas reuniões, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, equivalente ao Copom no Brasil) chegou a um amplo acordo sobre os princípios relacionados às suas metas de mais longo prazo e à sua estratégia de política monetária", diz um comunicado divulgado após a reunião que manteve a taxa básica de juros nos EUA no intervalo entre 0 e 0,25% ao ano, nível em que está desde o fim de 2008.

"O Comitê pretende reafirmar esses princípios e fazer ajustes, como é apropriado, na reunião anual de organização que ocorre a cada janeiro."

No mercado financeiro, sempre se acreditou que o Fed tinha uma meta informal de inflação ao redor justamente de 2% ao ano. No entanto, o principal banco central do mundo evitava adotá-la explicitamente.

Quando assumiu a presidência do Fed, no início de 2006, o economista Ben Bernanke declarou-se favorável ao regime de metas. Recentemente, trouxe o tema de novo ao debate.

No comunicado de ontem, o Fed deixa claro por que acredita que é importante explicitar a meta. Informá-la ao público, argumenta o BC americano, "ajuda a manter as expectativas de inflação de mais longo prazo firmemente ancoradas, fomentando, dessa forma, a estabilidade de preços e taxas de juros moderadas e elevando a capacidade do Comitê de promover o máximo emprego diante dos significativos distúrbios econômicos".

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Diferentemente do Banco Central do Brasil, o Federal Reserve tem outra atribuição além de manter a inflação controlada: promover o pleno emprego. Apesar disso, Bernanke afirmou que "não é viável ter uma meta de longo prazo para o emprego".

"O nível máximo de emprego é amplamente determinado por fatores não monetários que afetam a estrutura e a dinâmica do mercado de trabalho", diz o comunicado de ontem do Fed. "Esses fatores poderão mudar ao longo do tempo e poderão não ser diretamente mensuráveis. Consequentemente, não seria apropriado especificar uma meta fixada para emprego."

Ainda assim, Bernanke indicou que o Fed não subiria o juro para combater uma inflação acima da meta no caso de uma taxa de desemprego elevada. Hoje, a falta de emprego é o maior problema enfrentado por Barack Obama na economia. Em dezembro, o índice estava em 8,5%.

O sistema de metas de inflação foi implementado de forma pioneira na Nova Zelândia, em 1990, e também é usado em países como Canadá, Chile, Grã-Bretanha, Suécia, África do Sul, Austrália, Israel e México.

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Leia a íntegra do comunicado:

"Informações recebidas desde que o Comitê Federal de Mercado Aberto se reuniu, em dezembro, sugerem que a economia tem se expandido moderadamente, apesar de alguma desaceleração no crescimento global. Embora indicadores apontem para alguma melhora nas condições gerais do mercado de mão de obra, a taxa de desemprego permanece elevada. Os gastos dos domicílios continuaram a avançar, mas os investimentos das empresas em ativos fixos desacelerou e o setor de moradias continua deprimido. A inflação tem estado está sob controle nos últimos meses, e as expectativas quanto à inflação no longo prazo permaneceram estáveis.

"Consistente com seu mandato estatutário, o Comitê busca fomentar o máximo emprego e a estabilidade dos preços. O Comitê espera que o crescimento econômico nos próximos trimestres seja modesto e, consequentemente, antecipa que a taxa de desemprego vá declinar apenas gradualmente na direção de níveis que o Comitê julga serem consistentes com seu mandato duplo. Tensões nos mercados financeiros globais continuam a apresentar riscos negativos significativos à perspectiva econômica. O Comitê também antecipa que a inflação vai se acomodar, nos próximos trimestres, em níveis consistentes com o mandato duplo do Comitê ou abaixo deles.

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"Para apoiar uma recuperação econômica mais forte e ajudar a assegurar que a inflação, ao longo do tempo, esteja em níveis consistentes com o mandato duplo, o Comitê espera manter uma postura de política econômica altamente acomodatícia. Em especial, o Comitê decidiu hoje manter a faixa da meta para a taxa dos federal funds entre zero e 0,25% e atualmente antecipa que as condições econômicas - incluindo os baixos níveis de utilização de matérias-primas e a perspectiva controlada para a inflação no médio prazo - devem garantir níveis excepcionalmente baixos para os federal funds pelo menos até o fim de 2014.

"O Comitê também decidiu continuar seu programa para estender a maturidade média de suas posições em títulos, como anunciado em setembro. O Comitê está mantendo suas políticas existentes de reinvestir os pagamentos do principal de suas posições em dívida das agências e títulos lastreados em hipotecas e de rolar títulos do Tesouro a vencer em leilões. O Comitê vai revisar regularmente o tamanho e a composição de suas posições em títulos e está preparado para ajustar aquelas posições para promover uma recuperação econômica mais forte em um contexto de estabilidade de preços.

"Votaram a favor da decisão de política monetária do Fomc: Ben S. Bernanke, chairman; William C. Dudley, vice-chairman; Elizabeth A. Duke; Dennis P. Lockhart; Sandra Pianalto; Sarah Bloom Raskin; Daniel K. Tarullo; John C. Williams; e Janet L. Yellen. Votou contra: Jeffrey M. Lacker, que preferia omitir a descrição da data até a qual as condições econômicas devem garantir níveis excepcionalmente baixos para a taxa dos federal funds".

(Com Agências Internacionais)

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