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Exportação de jumentos nordestinos para a China empaca

Animais foram substituídos por motocicletas e Câmara dos Deputados discute proposta de liberar abate para consumo humano

Por Angela Lacerda e correspondente
Atualização:
Exportação de jumentos fracassa e Nordeste discute abate para consumo humano Foto: José Patrício/Estadão

RECIFE - Ficou só na intenção o projeto brasileiro de exportar jumentos para a China. O plano do governo do Rio Grande do Norte, anunciado há três anos, era o de encontrar uma alternativa para a superpopulação de jumentos no Nordeste por causa da popularização das motocicletas nas últimas duas décadas.

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De acordo com o secretário estadual de Agricultura, Tarcísio Bezerra, além de o Estado não ter condição de atender à demanda chinesa - que pretendia importar 300 mil cabeças/ano no Nordeste - entidades de defesa dos animais se posicionaram contra a venda dos jumentos para consumo humano.

Embora os animais tenham perdido seu papel como meio de transporte, o nordestino guarda uma relação de afeto com o jumento e não tem hábito de consumir sua carne. "O assunto foi totalmente abandonado", afirmou o secretário.

Em julho de 2011, o então secretário adjunto da pasta, José Simplício Holanda, assinou um protocolo de intenções com a empresa chinesa Shan Dong Dong E.E. Jiao Co. Ltda, visando à produção, comercialização e industrialização da carne e derivados do jumento. 

Na época se vislumbrava o surgimento de uma nova cadeia econômica. Mas, segundo Bezerra, posteriormente se chegou à conclusão de que "não seria um bom negócio". "O plantel era muito pequeno e se teria de investir muito até se atingir quantidade suficiente para exportação", afirmou o secretário.

O jumento, companheiro dos nordestinos do semiárido, passou a ser abandonado diante da substituição por motos nos serviços de cercar gado, buscar água e transportar materiais e pessoas. "Ainda não há superpopulação", garantiu Bezerra, ao contar que na região oeste do Rio Grande do Norte, por ação do Ministério Público, cerca de 600 animais passaram a ser recolhidos, por uma associação, a fim de liberar as rodovias, por onde transitavam com o risco de provocar acidentes.

 "É uma ação isolada", pontuou. "Não há programa para abater, criar ou exportar jumentos". Ele destacou que a orientação do abate do animal só ocorre em caso de doença, "por problema sanitário".

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O abate de jumentos para consumo humano chegou a ser discutido esta semana em uma audiência pública na Câmara dos Deputados, em Brasília.

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável debateu os problemas causados por animais abandonados que provocam acidentes em rodovias.

Um promotor do Rio Grande do Norte sugere que os animais sejam abatidos e a carne seja usada para alimentar detentos e alunos da rede pública.

Especialistas da Universidade Federal do Semi-Árido, em Mossoró-RN, garantem que a carne e o leite dos animais são nutritivos e não oferecem riscos à saúde.

Na audiência pública, a Sociedade Vegetariana do Brasil apresentou um abaixo assinado com mais de 70 mil assinaturas contra o abate de jumentos.

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