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Economia e outras histórias

Falta de confiança e de políticas mantêm economia em letargia

É provável que, no biênio 2015/2016, o encolhimento do nível de atividade alcance patamar historicamente inédito próximo de 8%

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Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Nunca se viu na economia brasileira poço tão fundo. Se os números do PIB de 2015, conhecido o resultado do último trimestre do ano, indicam que o ritmo de retração, na comparação trimestre a trimestre, possa estar começando a perder fôlego, o recuo, em 2015, só não foi maior do que o registrado em 1990, ano do confisco da poupança.  É provável que, no biênio 2015/2016, o encolhimento do nível de atividade alcance patamar historicamente inédito próximo de 8%. Depois da queda de 3,8% no ano passado, dificilmente a dose amarga não será repetida em 2016, mesmo com a contribuição mitigadora do setor externo. Não há contradição entre essa expectativa e a possibilidade de que o ritmo de evolução da economia caminhe para uma estabilização, a partir do segundo semestre. Embora sejam esperadas quedas mais moderadas na economia, tanto no primeiro trimestre quanto no segundo, o ano já começa com um “carregamento estatístico” negativo de 2,5%. Os recuos menos acentuados, trimestre a trimestre, esperados este ano, se devem mais ao tamanho do tombo de 2015 do que à formação de condições para início de alguma retomada. Chama a atenção a forte contração da demanda interna. Houve recuo de 6,5% no ano, com destaque para os investimentos, cujo volume caiu 14,1% ante o ano anterior, depois de queda de 4,5% em 2014, puxado para baixo sobretudo pela forte queda de 26,5% no setor de máquinas. Difícil imaginar que seja possível ocorrer retração ainda maior daqui em diante. Trata-se de uma prova acima de qualquer dúvida de que a economia se encontra num ciclo espantosamente adverso, que combina falta de confiança de empresários e consumidores com ausência de políticas capazes de induzir a saída da letargia, em ambiente contaminado por impasses políticos.

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