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Falta de demanda e de caixa também adiam projetos

Endividadas e com lucros fracos, empresas tentam preservar caixa e reduzir dívidas para garantir sobrevivência na crise

Por Marina Gazzoni e Monica Scaramuzzo
Atualização:

O crédito caro não é o único “vilão” que impede as empresas nacionais de investir. Com a economia em recessão, o brasileiro pisou no freio nos gastos e a demanda arrefeceu em vários setores. Shoppings, lojas e empreendimentos ficaram na gaveta, por falta de demanda.

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A incorporadora MRV, por exemplo, estima que tenha empreendimentos aprovados que somam um valor de R$ 1,7 bilhão no seu banco de terrenos, mas que estão na geladeira diante do cenário econômico. “Se a economia estivesse mais pujante, já teríamos lançado”, diz o diretor executivo de Finanças da MRV, Leonardo Corrêa. A maré ruim da economia brasileira também fez a empresa ficar mais conservadora e trabalhar para chegar a um índice de alavancagem próximo a zero. “Nós vamos atravessar o deserto. A ordem é deixar o cantil cheio”, explica Corrêa.

De acordo com o presidente da Accenture na América Latina, Leonardo Framil, existe uma preocupação acima do normal dos presidentes das empresas em preservar o caixa da companhia. “Eles não sabem como será o resultado operacional no futuro e o crédito está caro ou escasso”, afirmou.

Muitas empresas já estão com dívidas altas e, com resultados fracos, agora enfrentam problemas para quitar os débitos. O estudo da Accenture aponta que as maiores empresas abertas brasileiras lucraram 47% menos em 2015 na comparação com 2014 – um total de R$ 26,4 bilhões. No mesmo período, a dívida dessas empresas disparou 27%, para R$ 439 bilhões. O estudo considera os resultados das empresas listadas no índice IBRX-100, exceto as companhias do setor financeiro, Vale, Petrobrás e Gerdau.

Muitas dessas empresas terão de buscar recursos no mercado, mesmo com o custo maior para pagar dívidas. Cerca de 90% das emissões de dívidas realizadas por empresas latinas em 2016 foram feitas para refinanciar as companhias, de acordo com relatório deste mês da agência de classificação de risco Moody’s. Só 9% dos recursos foram usados para investimento. Em 2011, 30% dos recursos se destinavam a investimentos e 48% era refinanciamento, segundo o relatório. A Vale, por exemplo, captou US$ 1 bilhão na semana passada com uma emissão de dívida com vencimento em 2026. A companhia vai usar os recursos para pagar dívidas que vencem em 2017.

O relatório da Moody’s aponta que há necessidade de mais emissões. As 114 empresas latinas com grau especulativo (39% são brasileiras) somam dívidas de curto prazo de US$ 38,6 bilhões, mas tinham US$ 27,5 bilhões caixa em março.

Força-tarefa. A lista das empresas que trabalham para preservar o caixa e pagar dívidas – e deixam os novos projetos para um futuro indefinido– é grande. Na semana passada, a Renova Energia anunciou que vai adiar R$ 4 bilhões em investimentos. A empresa disse, em comunicado enviado ao Estado, que a redução “está relacionada à capacidade de investimento atual da empresa, tendo como objetivo reduzir a pressão de liquidez no curto prazo”.

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Líder no setor sucroalcooleiro, a Cosan também está sendo cautelosa nos investimentos. A companhia, apurou o Estado, só tem mantido os investimentos recorrentes, mas puxou o freio nas expansões e aquisições. Em junho, o grupo fez uma captação de US$ 500 milhões. Mas boa parte desse montante terá como destino alongamento dos bônus (títulos da dívida) a vencer em 2018 e 2023.

No varejo, os projetos também pararam, especialmente pela retração do consumo. O grupo Iguatemi, da família Jereissati, tem na gaveta cerca de R$ 600 milhões para investimentos, apurou o Estado. Nem tão cedo o grupo pretende investir na construção de novos shoppings – a expectativa é de que os novos empreendimentos só saiam do papel a partir de 2018 e 2019.

Hoje a ordem é direcionar parte dos recursos da empresa, que iam para os investimentos, para reduzir a dívida. Procurado, o grupo não comentou. 

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