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Jornalista e comentarista de economia

Opinião|Filão esgotado

A emissão quase ilimitada de moeda que salvou as grandes economias da crise financeira é um recurso que parece ter chegado ao seu limite

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A emissão quase ilimitada de moeda foi o grande achado dos bancos centrais que salvou as grandes economias da crise financeira, por meio da qual esperavam afugentar a paradeira e o desemprego. Mas esse recurso parece ter chegado agora ao seu limite.

Apesar da abundância nunca vista de dólares, de euros, ienes e francos suíços, a economia mundial continua capengando, mais parando do que andando. O crescimento econômico é fraco, o comércio mundial avança muito lentamente e, salvo umas poucas exceções, não há sinal de recuo do desemprego, especialmente na Europa.

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O Brexit, a decisão tomada pelo Reino Unido de abandonar a União Europeia, é, por si só, fator de aumento da recessão, não apenas na Inglaterra, mas também no resto da Europa. O que emperra tudo é o aumento das incertezas, que adia os investimentos, especialmente porque as regras conhecidas serão revogadas e as novas ainda não são conhecidas.

Se fosse para repetir o padrão dos anos anteriores, os grandes bancos centrais deveriam responder com novo despejo de moeda, por meio da recompra de títulos públicos privados no mercado secundário. No entanto, nas economias maduras, os juros ou são negativos ou muito próximos de zero. Novas injeções de moeda afundariam ainda mais o seu preço, que são os juros, e tenderiam a aumentar as distorções que tomam a economia.

Já há relatos de que, ao fim do mês, mutuários que levantaram empréstimos hipotecários, em vez de pagar os juros previstos em contrato, estão recebendo os créditos correspondentes a esses juros negativos. Os que detêm cotas em fundos de aposentadoria complementar começam a temer pela redução dos seus benefícios e já não se interessam por novos investimentos. Para fazer aplicações financeiras, além de não receberem nada, ainda têm de pagar. Ou seja, nesses casos, metido no forro do colchão, o dinheiro teria retorno melhor, ainda que comido em alguma proporção pela inflação. Mesmo a custos baixíssimos, em toda parte a demanda por crédito continua fraca, porque não há perspectivas encorajadoras de retorno. 

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Este é um ambiente em que os grandes bancos centrais não têm muito a fazer nem a propor. Há quase dois anos, o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) vem ensaiando o início da operação de enxugamento de dólares, mas sempre é levado a desistir da empreitada, seja por um fato novo, como agora foi o Brexit, seja pela falta de sinais de recuperação da economia.

Em outros tempos, as respostas bem-sucedidas a crises tão profundas ou foi o New Deal de Franklin Roosevelt, que sepultou a Grande Depressão, ou o Plano Marshall, que desatolou a Europa no pós-guerra. Mas projetos de tal envergadura exigem grandes orçamentos fiscais, algo impensável agora, quando por toda parte os Tesouros nacionais estão sugados e esgotados.

É por isso que a reação dos governos se limita ou a aumentar a austeridade, o que tende a aprofundar a recessão, ou a esperar que alguma coisa aconteça, o que os deixa sem iniciativa.

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Nos gráficos, como evoluiu a percepção dos agentes econômicos tanto a respeito do comportamento da inflação quanto do PIB.

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Gols a favor Nesta segunda-feira foi divulgado o primeiro levantamento feito no mercado depois de conhecido o primeiro Relatório de Inflação da administração Ilan Goldfajn. Os resultados sugerem que o novo presidente do Banco Central vem conseguindo conduzir as expectativas do mercado após suas primeiras entrevistas. Se isso se confirmar, a política de juros ganha eficiência no controle da inflação.

Opinião por Celso Ming

Comentarista de Economia

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