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Filiada ao PT, ‘Dama de Ferro’ do petróleo tem até estrelas tatuadas

Maria das Graças Foster, nova presidente da Petrobrás, cultiva imagem de ser contra interferências políticas 

Por Sergio Torres e de O Estado de S.Paulo
Atualização:

RIO - A imagem pública da futura presidente da Petrobrás, Maria das Graças Foster, é a de uma executiva rigorosa, funcionária concursada que prioriza as questões técnicas e profissionais, pouco disposta a aceitar interferências políticas na maior empresa brasileira. Essa é só uma parte da história. Graça, como prefere ser chamada, é tão petista quanto o antecessor, José Sérgio Gabrielli.

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Seu perfil político é desconhecido até por pessoas com quem ela trabalha. A ascensão ao principal posto da petroleira começa a dar visibilidade a esse seu lado partidário. Graça filiou-se ao PT em 2008. Dois anos depois, engajou-se com fervor na eleição vitoriosa de Dilma Rousseff.

Ela participou de passeatas do movimento Mulheres com Dilma, tatuou no antebraço esquerdo três estrelas como as que simbolizam o Partido dos Trabalhadores e até contribuiu financeiramente, doando R$ 34,5 mil para os diretórios nacional e fluminense. No dia da eleição no segundo turno, vestida com a camisa vermelha da campanha, roupa coberta de adesivos "Dilma 13", percorreu pontos de votação pedindo votos para a candidata, que conhecera no Sul, no início da década passada.

Em entrevista recente à Prata da Casa, publicação da Universidade Federal Fluminense (UFF), onde formou-se engenheira química em 1978, Graça, ainda diretora de Gás e Energia, cargo que ocupa desde 2007, disse de maneira direta o que considera fundamental.

"Minha vida particular é que se adapta à Petrobrás, não o contrário. A Petrobrás é a prioridade na minha vida, ainda mais depois que meus filhos cresceram, são independentes." Sobre a reação dos filhos - a médica Flávia, 36, e o jornalista Colin, 24 -, da mãe, Teresinha Silva, e do marido, o engenheiro e empresário inglês Colin Foster, ela diz na revista: "Eles entendem isso perfeitamente. (...) Eles me incentivam, me apoiam para que eu tenha essa dedicação toda à Petrobrás".

Parentes. A afirmação pode dar a impressão de que Graça, de 58 anos, não é atenciosa com os parentes. Não é assim. Ela tem uma relação bastante carinhosa com eles, contam amigos que frequentam o apartamento dos Foster em Copacabana. O marido, ao celebrar em 2010 os 25 anos de casamento, fez questão de comemorar as Bodas de Prata em uma cerimônia concorrida na Loja Estrela da Lapa nº 7, da maçonaria. Ele é grão-mestre distrital da Grande Loja Unida da Inglaterra. Depois, receberam os amigos em um restaurante da Lapa, fechado com exclusividade.

A mãe dela vive com a filha caçula, Rita, e o neto Diogo em uma casa na Ilha do Governador (zona norte) que está em nome de Maria das Graças Foster. A neta Priscilla (filha de Flávia), quando a avó recebeu a Medalha Tiradentes na Assembleia Legislativa do Estado do Rio, em 2009, fez um discurso que a levou às lágrimas. Disse a adolescente que Graça era sua inspiração como pessoa.

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O filho Colin tatuou "Maria das Graças", em letras grandes, no antebraço esquerdo. Ex-atleta profissional de basquete, chamado pela mãe de Colinho, apesar dos 2,05 m de altura, o jornalista, assessor do departamento de basquete do Tijuca Tênis Clube, chegou a se emocionar ao falar sobre ela.

"É a mãe mais carinhosa possível. Sempre apoiou muito a gente. Desde os meus 8 anos ia a todos os jogos de basquete que eu disputava. Com a mesma intensidade com que trabalha, ela transmite carinho para a família", afirmou.

Graça já contou em entrevistas que viveu do 2 aos 12 anos no morro do Adeus, em Ramos (zona norte). A família saiu de lá em 1965, para a Ilha do Governador. Morava no morro em uma casa de alvenaria, acessada por ladeira. Mais tarde, a favela adensou-se e a criminalidade tomou conta da região.

Hoje parte do complexo de favelas do Alemão, o morro não guarda lembrança da passagem da família humilde (os pais Tayrel e Teresinha e as filhas Maria das Graças e Rita) que veio de Caratinga, interior de Minas. Mais antigo morador da comunidade, o vigia aposentado Olívio Pedro da Silva, 82 anos, conta que nunca soube da passagem da família mineira pelo Adeus.

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"Olha que conheci muita gente aqui. Maria das Graças? Uma menina que saiu daqui com 12 anos? Filha de dona Teresinha? Que tinha uma irmãzinha chamada Rita? Nunca ouvi falar", respondeu ele, depois de repetir cada pergunta e pensar alguns segundos.

Católica. Da mesma forma, o presidente da Associação de Moradores do Morro do Adeus, Marco Antônio Quintal, de 48 anos, desconhece o assunto: "Sinceramente, para mim isso é novidade".

Graça é católica. Com discrição, frequenta as missas dominicais das 18h na Paróquia São Paulo Apóstolo, em Copacabana. Após rezar, comunga. Mas nunca participou de atividades paroquiais nem integrou grupos de orações organizados por fiéis. O pároco Paulo de Tarso diz que, ao ver as fotografias, reconheceu "a senhora simples" que avista na igreja aos domingos. "Quando dou a comunhão, olho para o fiel. O semblante dela marca. Gostaria de vê-la sempre em nossa paróquia."

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As preferências pessoais da próxima presidente da Petrobrás estão explicitadas em seu gabinete. Ela é beatlemaníaca. Em uma estante há fotografias da mais famosa banda pop de todos os tempos. Ao lado fica uma bandeira do Botafogo, time pelo qual torce. Por falta de tempo, já não vai mais a estádios, mas gosta de assistir aos jogos pela TV. Quando não pode, pede para gravá-los.

Moradora por cerca de três décadas da Ilha do Governador, Graça afeiçoou-se à escola de samba local, União da Ilha, pela qual já desfilou alguma vezes. Este ano, não deverá ir para a pista do Sambódromo. Até agora, não manifestou à escola o desejo de desfilar. Mas a União da Ilha vai esperá-la até o último momento. "Será uma honra ter conosco a presidente da Petrobrás", avisa o assessor César Nogueira.

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Capítulos finais. Embora apreciadora da leitura, ela não tem tempo para livros que não sejam sobre a área de petróleo ou gestão. Em sua mesa, há sempre quatro ou cinco publicações, consultadas periodicamente. Teatro e cinema, quase não vai. Na televisão, só noticiários e novelas que acabam mais tarde, nos capítulos finais.

Graça trabalha de 12 a 14 horas por dia. O carro da Petrobrás vai buscá-la em torno das 7h. Só costuma voltar depois das 20h. Isso faz com que, na área onde mora, quase ninguém a conheça. "Sei que ela mora ali. Trabalho na rua há 14 anos e nunca vi essa moça andando por aí, indo à padaria, à farmácia, à praia", disse o motorista Jeozadabe Oliveira.

O rastro que Graça deixou na faculdade é mais fácil de ser percorrido, mesmo passados 33 anos. O professor Fernando Mainier, hoje diretor da Escola de Engenharia da UFF, lembra-se da aluna, com quem chegou a trabalhar na Petrobrás.

"Já era uma pessoa muito determinada, bastante dura até. Era alta (Graça mede 1,78 m), magra, tinha uma filhinha. O perfil dela como aluna é o que ela é hoje. Gosto muito dela, que diz que morre pela Petrobrás. É uma grande verdade", afirmou ele, professor de Graça na disciplina Processos Industriais.

Em 1978, ela chegou a trabalhar como estagiária na Petrobrás. Após se formar, naquele ano, Graça fez mestrado em engenharia de fluidos e pós-graduação em engenharia nuclear na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Chegou a trabalhar dois anos na Nuclebrás até que, em 1981, após concurso, ingressou na Petrobrás como engenheira química.

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