EXCLUSIVO PARA ASSINANTES
Foto do(a) coluna

Economia e outras histórias

Fim de linha para uma política econômica hesitante e tumultuada

PUBLICIDADE

Por José Paulo Kupfer
Atualização:

Muitos dirão que a perda do grau de investimento, decretado ontem pela agência de classificação de riscos Standard & Poor’s (S&P) representa uma “catástrofe” para a economia brasileira. Os que dizem isso não estão errados porque sempre é possível piorar o que não está bem - e é exatamente isso que o rebaixamento da nota de crédito ajudará a provocar. Financiamentos, não só em moeda estrangeira, deverão ficar mais difíceis e mais caros, com repercussões negativas nos investimentos - que já estão muitíssimo arredios. Em consequência, a recessão pode se agravar e a retomada do crescimento tende a ficar igualmente mais difícil e mais demorada. Outros, embora em menor número, dirão que o rebaixamento para o degrau superior do grau especulativo não terá consequências práticas tão desastrosas porque já estava “precificado” pelo mercado. Os que dizem isso também não estão errados porque há algum tempo o CDS brasileiro - uma espécie de seguro contra calotes - é equiparável e, em certos casos, mais elevado do que o pago pelos investidores que aplicam em economias que já tinham perdido o grau de investimento. A perda do “selo de bom pagador”, portanto, apenas teria sacramentado o que já era levado em conta pelos investidores. Pode parecer paradoxal que, quando a S&P anuncia a perda do grau de investimento, o Banco Central divulgue um retrato relativamente benigno do fluxo cambial do momento. Em agosto, revertendo um quadro dos últimos três meses, o ingresso de dólares superou as saídas em US$ 4 bilhões, com superávit tanto na conta financeira quanto na comercial.  O que esse fato realça é a atração das altas taxas de juros praticadas no Brasil e da verdadeira maxidesvalorização do real ocorrida neste ano. São anabolizantes de custo alto para a economia, mas relativamente eficazes quando se trata de compensar a rejeição de capitais causada por eventos como a perda do grau de investimento e o eventual aumento das taxas de juros nos Estados Unidos.  Em qualquer circunstância, o carimbo negativo da S&P significa um fim de linha para a forma hesitante e politicamente tumultuada como a economia vem sendo conduzida, sobretudo no departamento das contas e das dívidas públicas. 

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.