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‘Fiquei com medo de perder a casa, de tão feio que foi’

Todos os eletrodomésticos e móveis novos ficaram na água que invadiu o imóvel onde Daniela começava uma nova vida com a filha

Por Renée Pereira
Atualização:
  Foto: SERGIO CASTRO | ESTADÃO CONTEÚDO
Leticia mora com o marido e cinco filhos na casa que cheira mofo Foto: SERGIO CASTRO | ESTADÃO CONTEÚDO
Para Luciana, o pior de tudo foi o vazamento do esgoto Foto: SERGIO CASTRO | ESTADÃO CONTEÚDO

Daniela Cristina dos Santos, de 33 anos, ficou tão contente ao ser sorteada no Programa Minha Casa Minha Vida que não esperou o dia seguinte. Mudou na mesma hora para o Residencial Planalto Verde. Comprou geladeira nova, armários para cozinha e guarda-roupa para mobiliar sua primeira casa. Ao lado da filha pequena, começava uma nova vida. Até uma tempestade inundar sua casa, danificar eletrodomésticos e móveis novos. “Fiquei com medo de perder a casa de tão feio que foi.”

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A moradora estava na cozinha com a filha quando ouviu um barulho forte. Em segundos, a água começou a subiu pelos ralos e inundou toda a casa”, afirma Daniela, que de tanto susto teve uma paralisia no lado esquerdo do rosto. Ela conta que a água ficou represada no fundo da casa por vários dias e ninguém apareceu para resolver o problema ou cobrir os prejuízos. “Só tenho geladeira hoje porque a vizinha me deu uma usada.”

Para conter os efeitos de novas chuvas, a moradora tirou do próprio bolso o dinheiro para fazer um muro de contenção no fundo da casa. Outros problemas, porém, continuam visíveis, como as rachaduras entre o teto e a parede, que foram rebocadas pela construtora, e as infiltrações por toda a casa.

Na avaliação do professor da Escola de Engenharia de São Carlos da USP José Elias Laier, responsável pelo laudo solicitado pelo Ministério Público, as fissuras e trincas verificadas em quase todas as casas do Residencial Planalto Verde vão continuar se abrindo, permitindo a umidade e deteriorando o imóvel. O problema, diz ele, é que faltou uma viga entre a laje e a parede.

O laudo do professor mostra ainda que há erosão na base das casas por causa da fragilidade da fundação feita pela construtora, além do desnível errado nos banheiros e falta de impermeabilização nas paredes. “Esses problemas devem ser reparados de imediato, caso contrário, a evolução desses defeitos pode, em um futuro não muito distante, inviabilizar a moradia, sem contar que a degradação pode pôr em risco a vida dos moradores”, conclui o laudo, obtido pelo Estado.

Luciana Garcia Lopes não pensa muito nos riscos que pode estar correndo. Mas diz que já conheceu quase todos os problemas listados no laudo da USP, como rachaduras no teto e paredes, mofo, infiltração no piso e vazamento do sistema de esgoto. “A gente acha que vai entrar numa casa nova e não ter dor de cabeça, mas é um engano”, diz ela.

Para Luciana, que tem problema renal e está na fila do transplante, o pior de todos os problemas até agora foi o esgoto, que começou a vazar por todos os lados e alcançou cômodos da casa. “Transbordou pelo vaso do banheiro, pelo ralo e pelas caixas de esgoto no quintal. Ninguém conseguia ficar dentro de casa por causa do cheiro forte.”

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A construtora resolveu o problema, mas não explicou os motivos do vazamento. Da mesma forma, rebocou todos as rachaduras do teto e em volta da janela. “Mas não me conformo de ter uma casa nova com todos esses remendos. Queria pintar, mas dizem que é obrigação da construtora fazer o serviço.”

Luciana vive de um auxílio-doença equivalente a um salário mínimo. Paga por mês R$ 40,5 pela casa nova. O que sobra mal dá para as despesas diárias. Situação semelhante vive o casal Leticia Tereza da Silva e Claudinei Herzig da Silva, que paga pelo imóvel R$ 33 por mês. Na residência de 42,98 metros quadrados (m²), moram o casal e cinco filhos. Ali, as paredes estão cheias de mofo e descascadas por causa da umidade.

O sistema de aquecimento solar de água, por enquanto, é apenas um enfeite no banheiro. As poucas vezes que tentaram usar, tiveram uma desagradável surpresa. Ao ligar o chuveiro, a água se infiltra pela parede e começa a inundar o quarto das crianças. “Algumas vezes todos tiveram de dormir na sala porque não parava de descer água pela parede.” Por causa do vazamento, a família usa o chuveiro elétrico e gasta mais de R$ 130 por mês. “É uma decepção. A gente nunca tem uma casa nossa, e agora que tem está cheia de problemas”, diz Claudinei Silva.

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