WASHINGTON - O Brasil deve crescer 2,3% neste ano e 2,5% no próximo, mas o ritmo de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) deverá estabilizar-se em 2,2%, a médio prazo, pelas novas projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI), se a produtividade continuar baixa.
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Desde antes da recessão, os economistas do Fundo têm chamado a atenção para o modesto potencial de crescimento do País, derivado de um amplo conjunto de ineficiências.
O Banco Mundial apresentou estimativas muito parecidas para o desempenho brasileiro: 2,4% em 2018 e 2,5% em 2019. Por qualquer das contas, o País continua perdendo peso na economia global.
Em abril do ano passado, os técnicos do Fundo projetaram para o Brasil crescimento de 0,2% em 2017 e 1,7% em 2018. Revistas para mais, as projeções permanecem abaixo das estimativas do mercado, 2,76% para 2018 e 3% para 2019. O Banco Central ainda estima 2,6% para este ano.
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Num quadro mais limitado, Brasil e Argentina aparecem como líderes, por seu peso regional, da recuperação sul-americana. Mas a melhora é registrada em quase toda a região ao sul dos Estados Unidos. A América Latina virou a página, depois de seis anos de baixo crescimento, disse o economista-chefe do Banco Mundial para a região, Carlos Vegh.
Os latino-americanos e caribenhos cresceram 1,1% em 2017 e devem avançar 1,8% em 2018 e 2,3% no próximo ano. Excluída a Venezuela, as duas últimas taxas passam a 2,6% e 2,8%. A economia venezuelana encolheu 8,2% em 2015, 16,5% em 2016 e 14,5% em 2017. Deve diminuir mais 14,3% em 2018 e 7% em 2019, de acordo com as projeções do banco. As estimativas do FMI para esse conjunto são próximas desses números.
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O produto mundial deve crescer no ritmo anual de 3,9% neste biênio, de acordo com o Fundo. A liderança continuará com China (6,6% e 6,4%) e Índia (7,4% e 7,8%), Mas um empuxo especialmente importante será proporcionado, de acordo com as estimativas, pelo crescimento americano (2,9% e 2,7%), turbinado pelo corte de impostos aprovado há alguns meses no Congresso. A recuperação global tem base ampla, disse o economista-chefe do FMI, Maurice Obstfeld, mas danos também amplos poderão ocorrer no caso de um grande conflito comercial.
Os bons efeitos da expansão do gasto público nos EUA serão temporários, disse Obstfeld. Além disso, o aumento da demanda interna deverá aumentar o déficit nas contas externas dos EUA. Nenhuma barreira comercial impedirá esse resultado, advertiu. Além disso, a combinação de barreiras e aumento desproporcional da demanda resultará em desequilíbrio externo e alta de preços internos.
Guerra comercial. No caso de guerra comercial, admitiu Obstfeld, o Brasil talvez tenha algum ganho, se os chineses criarem barreiras à importação da soja dos EUA. Mas os efeitos tendem a ser mais amplos e complexos e, no balanço final, todos devem ter perdas.
Os dois pontos – a expansão mundial e o risco do conflito – foram mencionados logo no começo dos comentários de Obstfeld. As tensões comerciais, lembrou o economista, intensificaram-se a partir de março, quando os EUA anunciaram a intenção de sobretaxar as importações de aço e alumínio.
Fatores de otimismo e de risco formaram tanto o cenário global, apresentado no FMI, quanto o latino-americano, exposto numa entrevista no Banco Mundial. Investimento, crédito fácil e estímulos fiscais são elementos positivos no quadro mais amplo. O risco de guerra comercial soma-se ao forte endividamento público e privado e ao perigo de turbulência financeira.
Juros baixos e crédito fácil contribuíram para a reativação, no mundo rico, mas também facilitaram operações de risco e grande valorização de ativos. No cenário da América Latina, explorado mais amplamente em relatório do Banco Mundial, o desajuste fiscal, deficiências estruturais e a crescente dívida pública são as principais preocupações.
Resumindo o relatório do banco, o economista Carlos Vegh insistiu na importância de se avançar na realização da agenda de reformas. A pauta de ajustes e reformas, acrescentou, vem sendo cumprida, e isso se reflete nas condições de crescimento, ao lado da redução dos juros, do dinamismo dos mercados americano e chinês, da melhora dos preços dos produtos básicos e do ingresso de capitais estrangeiros.
Mas a expansão será comprometida, advertiu, se as mudanças forem interrompidas. Com a piora das contas públicas, o endividamento crescerá, o crédito ficará mais difícil, a inflação poderá voltar e a conta mais pesada será paga pelos pobres, os mais vulneráveis à inflação e às dificuldades econômicas.
O combate à corrupção, conduzido no Brasil e em vários outros países, como Colômbia, Equador e Peru, tende a produzir efeitos econômicos e sociais positivos, diz Vegh, pois deve resultar em menor perda de recursos, maior transparência no uso do dinheiro público e maior eficiência da administração.