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Fogo amigo

A frustração do crescimento econômico está desgastando o ministro da Fazenda

Por Amir Khair
Atualização:

Nesta última terça-feira a Câmara aprovou por ampla maioria medidas contra a corrupção amplamente discutidas e subscritas por mais de dois milhões de assinaturas e apoiadas pelo Ministério Público.

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Horas depois, na madrugada de quarta-feira, sob o comando do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em vergonhoso golpe parlamentar, aprovou, também por ampla maioria, emendas e substitutivos opostos às medidas recém aprovadas, o que facilitaria livrar os políticos da operação Lava Jato e das delações premiadas de 77 executivos da Odebrecht, envolvendo 279 políticos de 24 partidos.

Na mesma quarta-feira à tarde o presidente do Senado Renan Calheiros, numa tentativa de outro golpe parlamentar, quis aprovar em regime de urgência o projeto de lei recém recebido da Câmara, mas foi derrotado em plenário pela reação que causaria na opinião pública.

Após a devassa no PT pela operação Lava Jato, as investigações começaram a pegar e obter provas contra caciques do PMDB, notadamente Renan Calheiros, Romero Jucá e Sarney. Colaborou para isso as gravações de Sérgio Machado e sua delação que envolveu, também, acusação de propina entregue em aeroporto a Michel Temer.

O episódio que culminou com a renúncia do então ministro da educação Marcelo Calero, envolvendo interesse particular do ex-ministro Geddel Vieira Lima abalou o governo ao envolver diretamente Michel Temer e seu braço direito, Eliseu Padilha.

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Reação. Esses fatos não estão mais sendo tolerados pela sociedade e serviram para novo início de manifestações crescentes nas ruas de vários pontos do País. Se antes a maioria da população queria se ver livre de Dilma Rousseff, agora se volta contra o governo Temer e os políticos corruptos.

Neste domingo será testada a força dessas manifestações. Creio que agora contará, também, com os jovens, que já vinham protestando contra a PEC do teto de gastos, a proposta de reforma do ensino médio e a corrupção.

Não será de estranhar, também, a adesão do povão de renda mais baixa, pouco presente nas manifestações contra e pró impeachment de Dilma, pois de lá para cá a tensão social cresceu pelo alto nível de desemprego, excesso de endividamento das famílias e corrosão salarial pela inflação.

Nesse ambiente político manchado de corrupção os possíveis investidores em potencial não têm segurança necessária a arriscar seu capital, os consumidores estão endividados e ameaçados pelo risco de demissões, que prosseguem empurradas pela crise financeira das empresas.

Agonia fiscal. O setor público está falido, com a União sufocada por dívida impactada por taxas de juros elevadas e os Estados aprisionados por excesso de despesas com pessoal.

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Enquanto o governo aposta numa melhora fiscal de longo prazo com a PEC do teto e nova reforma da previdência, os juros comandam a crise fiscal elevando a dívida pública, e a recessão conduz à perda de arrecadação que supera em larga medida a eventual economia da PEC do teto de despesas.

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A ausência de medidas fortes no curto prazo para estancar a hemorragia fiscal torna cada vez mais difícil o equacionamento de despesas de longo prazo. É o curto prazo inviabilizando o longo prazo, pois a cada mês os juros acrescentam R$ 33 bilhões ao déficit público, a perda de arrecadação outros R$ 12 bilhões e a elevação das despesas primárias R$ 3 bilhões, num total de R$ 48 bilhões!

Mesmo supondo a aprovação da PEC do teto e da reforma da previdência, a dívida bruta saltaria dos atuais R$ 4,6 trilhões para R$ 6,4 trilhões em 2018, e a frustração do crescimento econômico está desgastando Henrique Meirelles. Começou o fogo amigo e já se fala em sua substituição por Armínio Fraga.

Supersalários. Por fim, agride a sociedade a prática generalizada de supersalários nos três poderes, o que afronta ao artigo 37 da Constituição. Ninguém pode estar acima da lei, especialmente juízes, procuradores e promotores que já detêm em sua maioria os maiores salários no setor público e são pagos para fazer cumprir a lei.

]MESTRE EM FINANÇAS PÚBLICAS PELA FGV E CONSULTOR. ESCREVE QUINZENALMENTE

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A frustração do crescimento econômico está desgastando

o ministro da Fazenda

Nesta última terça-feira a Câmara aprovou por ampla maioria medidas contra a corrupção amplamente discutidas e subscritas por mais de dois milhões de assinaturas e apoiadas pelo Ministério Público.

Horas depois, na madrugada de quarta-feira, sob o comando do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, em vergonhoso golpe parlamentar, aprovou, também por ampla maioria, emendas e substitutivos opostos às medidas recém aprovadas, o que facilitaria livrar os políticos da operação Lava Jato e das delações premiadas de 77 executivos da Odebrecht, envolvendo 279 políticos de 24 partidos.

Na mesma quarta-feira à tarde o presidente do Senado Renan Calheiros, numa tentativa de outro golpe parlamentar, quis aprovar em regime de urgência o projeto de lei recém recebido da Câmara, mas foi derrotado em plenário pela reação que causaria na opinião pública.

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Após a devassa no PT pela operação Lava Jato, as investigações começaram a pegar e obter provas contra caciques do PMDB, notadamente Renan Calheiros, Romero Jucá e Sarney. Colaborou para isso as gravações de Sérgio Machado e sua delação que envolveu, também, acusação de propina entregue em aeroporto a Michel Temer.

O episódio que culminou com a renúncia do então ministro da educação Marcelo Calero, envolvendo interesse particular do ex-ministro Geddel Vieira Lima abalou o governo ao envolver diretamente Michel Temer e seu braço direito, Eliseu Padilha.

Reação. Esses fatos não estão mais sendo tolerados pela sociedade e serviram para novo início de manifestações crescentes nas ruas de vários pontos do País. Se antes a maioria da população queria se ver livre de Dilma Rousseff, agora se volta contra o governo Temer e os políticos corruptos.

Neste domingo será testada a força dessas manifestações. Creio que agora contará, também, com os jovens, que já vinham protestando contra a PEC do teto de gastos, a proposta de reforma do ensino médio e a corrupção.

Não será de estranhar, também, a adesão do povão de renda mais baixa, pouco presente nas manifestações contra e pró impeachment de Dilma, pois de lá para cá a tensão social cresceu pelo alto nível de desemprego, excesso de endividamento das famílias e corrosão salarial pela inflação.

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Nesse ambiente político manchado de corrupção os possíveis investidores em potencial não têm segurança necessária a arriscar seu capital, os consumidores estão endividados e ameaçados pelo risco de demissões, que prosseguem empurradas pela crise financeira das empresas.

Agonia fiscal. O setor público está falido, com a União sufocada por dívida impactada por taxas de juros elevadas e os Estados aprisionados por excesso de despesas com pessoal.

Enquanto o governo aposta numa melhora fiscal de longo prazo com a PEC do teto e nova reforma da previdência, os juros comandam a crise fiscal elevando a dívida pública, e a recessão conduz à perda de arrecadação que supera em larga medida a eventual economia da PEC do teto de despesas.

A ausência de medidas fortes no curto prazo para estancar a hemorragia fiscal torna cada vez mais difícil o equacionamento de despesas de longo prazo. É o curto prazo inviabilizando o longo prazo, pois a cada mês os juros acrescentam R$ 33 bilhões ao déficit público, a perda de arrecadação outros R$ 12 bilhões e a elevação das despesas primárias R$ 3 bilhões, num total de R$ 48 bilhões!

Mesmo supondo a aprovação da PEC do teto e da reforma da previdência, a dívida bruta saltaria dos atuais R$ 4,6 trilhões para R$ 6,4 trilhões em 2018, e a frustração do crescimento econômico está desgastando Henrique Meirelles. Começou o fogo amigo e já se fala em sua substituição por Armínio Fraga.

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Supersalários. Por fim, agride a sociedade a prática generalizada de supersalários nos três poderes, o que afronta ao artigo 37 da Constituição. Ninguém pode estar acima da lei, especialmente juízes, procuradores e promotores que já detêm em sua maioria os maiores salários no setor público e são pagos para fazer cumprir a lei.

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A frustração do crescimento econômico está desgastando

o ministro da Fazenda