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Fundo do FGTS elege para presidente acusado de ter recebido propina

Segundo delatores, o jornalista Luiz Fernando Emediato recebeu propina para liberar recursos do FI-FGTS para a Odebrecht Transport e para beneficiar o grupo J&F

Foto do author Murilo Rodrigues Alves
Por Murilo Rodrigues Alves e Fabio Serapião
Atualização:

BRASÍLIA - O comitê de investimento do FI-FGTS (fundo que usa parte do FGTS para aplicar em projetos de infraestrutura) elegeu nesta quarta-feira para presidente o jornalista Luiz Fernando Emediato, ligado à Força Sindical. Segundo delatores da Odebrecht e da JBS, Emediato recebeu propina para liberar recursos do FI-FGTS para a Odebrecht Transport (braço de transportes da empreiteira) e para beneficiar o grupo J&F, controlador do frigorífico, no período em que trabalhou no Ministério do Trabalho.

O comitê de investimento tem representantes do governo, dos trabalhadores e dos empregadores. A bancada governista tentou dissuadir Emediato de assumir a presidência do órgão responsável por decidir sobre os aportes do fundo. O Estado apurou que dois dos cinco representantes presentes à reunião chegaram a se abster de votar, por constrangimento. Por rodízio, a presidência - com mandato de um ano - dessa vez teria que ficar com um representante dos trabalhadores.

Luiz Fernando Emediato, jornalista Foto: MÁRCIO FERNANDES/ESTADÃO

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Depois de registrar prejuízo histórico em 2015, o FI-FGTS está passando por uma reformulação para melhorar os processos de escolha dos projetos que recebem dinheiro do fundo, formado com recursos dos trabalhadores. O balanço de 2016 ainda não foi publicado. No ano anterior, o fundo fechou com a menor rentabilidade da história, negativa de 3%, com perda de patrimônio de R$ 900 milhões.

O ex-presidente da Odebrecht Infraestrutura Benedicto Junior, conhecido como BJ, e o ex-presidente da Odebrecht Transport, Paulo Cesena, disseram, em delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato, que houve pagamento de propina para que o braço de transportes do grupo baiano fosse capitalizado pelo fundo. O intermediário para a liberação dos recursos do FI-FGTS foi o ex-deputado federal Eduardo Cunha, que teria cobrado propina de 1% do valor da operação, segundo os delatores. O ex-deputado justificou o valor do suborno de R$ 4 milhões dizendo que teria que repassar dinheiro a Fábio Cleto, na ocasião vice-presidente de Loterias da Caixa, e para três conselheiros do FI-FGTS, entre eles o jornalista Emediato, dono da editora Geração Editorial. Após o pagamento do suborno, o aporte de R$ 429 milhões foi liberado. Procurado pelo Estado, Emediato disse que nunca votou a favor ou contra qualquer projeto da Odebrecht no fundo de investimento. "Logo, não tenho nada a ver com isso", afirmou. Ligado ao ex-presidente da Câmara, Cleto apontou, na delação premiada, um esquema de corrupção para que as empresas conseguissem recursos do FI-FGTS. Com o depoimento dele, o fundo, criado no governo Lula, entrou de vez na mira da Lava Jato. A Caixa, responsável pela gestão do fundo, abriu uma sindicância para apurar aportes de R$ 4,2 bilhões às empresas citadas na delação premiada de Cleto. Além da Odebrecht, o FI-FGTS também foi alvo de denúncias do empresário Joesley Batista, dono da JBS. Em sua delação, ele disse que pagou R$ 90 milhões a Cunha para liberar recursos do fundo. O ex-diretor de Relações Institucionais do grupo J&F, Ricardo Saud, disse, na delação premiada, que Emediato recebeu R$ 2,8 milhões como forma de influenciar favoravelmente a empresa enquanto membro do conselho deliberativo do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Emediato confirmou que Saud o procurou nos dez meses em que trabalhou no Ministério do Trabalho. Mas classifica de um "ato impossível" a acusação feita pelo executivo. "Incomodado com a fiscalização dos frigoríficos da JBS, ele realmente pediu ao MTE uma fiscalização 'rigorosa' dos demais frigoríficos e em seus delírios propôs 'pagar' aos fiscais por isso. Ninguém o levou a sério", afirmou, completando que não era prioridade, naquele momento, fiscalizar o setor. "Essas denúncias vazias provocam um desconforto, mas não afetam em nada o fundo, porque a gestão não é do colegiado que presidirei, mas de uma equipe técnica da Caixa", afirmou. "Nós mudamos a gestão do fundo e considero que a partir de agora será difícil políticos usarem nossos nomes para assustar empresários. Assim espero", completou. Procurada, a Caixa esclareceu que não participa do processo de escolha do presidente, que compete aos membros do comitê. Eles, por sua vez, são designados pelo conselho curador do FGTS. 

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