Publicidade

Fundos: parte das perdas é irrecuperável

Perdas ocasionadas pela marcação a mercado nos fundos serão recuperadas ao longo do tempo, à medida que os títulos que compõem a carteira vão vencendo. Mas há uma parte irrecuperável provocada pelos resgates de investidores que sacaram recursos antes da marcação a mercado.

Por Agencia Estado
Atualização:

As perdas ocasionadas pela adoção das regras de marcação a mercado nos fundos de investimento serão recuperadas ao longo do tempo, gradualmente, à medida que os títulos que compõem a carteira de investimentos vão vencendo. Esta é a regra geral. Porém, muitos fundos não conseguirão garantir esta recuperação total porque permitiram o saque de grandes volumes financeiros destas carteiras antes de adotarem a marcação a mercado. Veja o exemplo de um fundo com patrimônio de R$ 20 mil, sem marcação a mercado, com 20 cotas, divididas igualmente entre dois investidores A e B. Suponha também que este fundo deveria ter um patrimônio de R$ 18 mil, com marcação a mercado. Se o investidor A efetuar o resgate antes do ajuste da cota, leva R$ 10 mil. Para pagar esse resgate, o gestor tem de vender títulos da carteira. O fato é que, ao realizar essa operação, mesmo que a cota esteja marcada pelo valor de face, o que o gestor apura tem como base o valor de mercado dos papéis. De imediato, mesmo antes de marcar a mercado, o fundo já tem seu patrimônio caindo para R$ 9 mil - e não para R$ 10 mil. Isso acontece porque a parte equivalente aos R$ 10 mil sacados rendeu apenas R$ 9 mil, ficando o prejuízo de R$ 1 mil para o investidor que permaneceu no fundo. Este é o prejuízo que não será recuperado de forma alguma. Numa segunda etapa, o fundo faz a marcação a mercado do restante dos títulos, chegando então ao valor de R$ 8 mil. Ou seja: para que o investidor A ficasse com seu lucro de R$ 1 mil, o investidor B ficou com o prejuízo de R$ 2 mil. Para o investidor B, essa perda de R$ 1 mil referente ao saque do investidor A antes da marcação a mercado não será recuperada. Apenas a parcela de R$ 1 mil referente à desvalorização da cota será revertida, quando os títulos de sua carteira vencerem. Isso acontece porque o valor atual do título caiu, por conta do aumento dos juros, mas seu valor de resgate não foi prejudicado. Então no vencimento o título recupera seu valor e garante um rendimento compatível com o da época que o título foi resgatado. Por isso se diz também que não adianta o investidor sair agora do investimento, uma vez que somente vai poder recuperar seu ganho ao longo do tempo. Saques expressivos Apesar de ser regra desde 1995, a maior parte dos gestores dos fundos de investimento passou a adotar a marcação a mercado depois de fevereiro - quando o Banco Central (BC) anunciou que iria de fato exigir o ajuste contábil das carteiras. A exigência da adoção da marcação a mercado foi anunciada em fevereiro, com prazo de implantação até setembro. O prazo de implantação de alguns meses teria sido positivo se os gestores tivessem gradualmente ajustado suas carteiras sem que os grandes investidores tivessem tirado seu dinheiro dos fundos, deixando todo o prejuízo para os investidores menos informados. Mas na prática os fundos sofreram grandes saques desde fevereiro e por isso o BC foi obrigado a antecipar o prazo para maio, evitando que o prejuízo dos investidores de fundos ficasse ainda maior. Este problema não aconteceu nos fundos que já tinham marcação a mercado antes de fevereiro deste ano, nem nos fundos que conseguiram implantar a regra rapidamente, antes da saída de grandes volumes. Para se ter uma idéia deste movimento de saque, em maio, a saída de recursos dos fundos referenciados DI (pós-fixados) foi de R$ 1,4 bilhão. Mas os volumes mais expressivos ocorreram antes. Em abril, esse total foi de R$ 2 bilhões e, em fevereiro, foi de R$ 1,5 bilhão, de acordo com dados da Associação nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). O mês de junho começa com saída de recursos dos fundos referenciados DI. No dia 3 - primeiro dia útil do mês -, a saída foi de R$ 462 milhões. Analistas apontam o risco desse movimento contínuo de saques. O fato é que, para pagá-los, os gestores precisam vender os títulos que compõem a carteira dos fundos, provocando um aumento da oferta desses papéis no mercado. O resultado é que eles perdem valor e as cotas dos fundos voltam a apresentar oscilação negativa, provocando novos saques. Esse é o risco: a formação de um círculo vicioso, de desvalorização dos títulos e consequentemente das cotas dos fundos. Mas isso não deve preocupar o investidor dos fundos, porque agora todos estão marcados a mercado. Ou seja: o valor das cotas pode cair, mas certamente voltará a subir nos próximos meses, de forma que perdas ocorridas depois da marcação a mercado serão recuperadas por quem ficar no fundo. Veja mais informações sobre a regra de marcação a mercado e o impacto nos fundos de investimento nos links abaixo.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.