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Gestão de dados reduz mortalidade infantil

Com base em informação, a prefeitura de Santos descobriu lacunas no pré-natal

Por Mariana Lima
Atualização:
  Foto: HÉLVIO ROMERO | ESTADÃO CONTEÚDO

Existem no Brasil exemplos práticos de como a análise de informações e a integração de bancos de dados podem ter um impacto positivo na qualidade dos serviços de saúde. Alguns deles foram apresentados no evento Fóruns Estadão Gestão da Informação.

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O diretor do Instituto Tellus, Germano Guimarães, explicou como a coleta e a análise de dados ajudaram a prefeitura de Santos a reduzir a mortalidade infantil. O Instituto Tellus atua em 33 municípios de 12 Estados, elaborando projetos inovadores na área de saúde pública. “Com os dados em mãos, descobrimos que havia uma lacuna na formação das mães. Por isso, criamos a Escola das Mães, com o objetivo de aumentar a qualidade do pré-natal. Num ano, diminuímos a taxa de mortalidade infantil em 20%”, afirma. O projeto conta com uma equipe multidisciplinar de profissionais, que desenvolve conteúdos e tira dúvidas das mães.

Outro projeto do Tellus é o sistema Clique Saúde, que ajuda os pacientes da rede pública a encontrar unidades com medicamentos, médicos especializados e exames específicos. Segundo Guimarães, com as informações enviadas pelos usuários pelo smartphone é possível mapear que locais e tipos de serviço ou medicamentos precisam de mais investimento.

O terceiro caso apresentado pelo diretor do Tellus foi a rede Bem Cuidar, que transforma o atendimento das Unidades Básicas de Saúde (UBS) segundo as necessidades dos usuários. A iniciativa melhora tanto a qualidade do serviço quanto a avaliação dele pelos usuários. Tanto o Clique Saúde quanto a rede Bem Cuidar foram projetos desenvolvidos com a prefeitura de Pelotas (RS).

Para Guimarães, as três iniciativas são exemplos de como a sociedade civil pode pressionar por mudanças no sistema de saúde pública. “Do investimento total da primeira UBS, 93% foram doados por institutos e fundações. Quando o governo viu que o modelo deu certo, expandiu o programa com recursos públicos. Fazer protótipos para despertar a atenção do governo é uma das maneiras de a sociedade civil ajudar a encontrar soluções para saúde.”

Para ele, o interesse atual dos governos em coletar dados sobre saúde se resume a exigências para liberação de verbas. “O governo está coletando dados visando a receber verbas e pensa pouco nos resultados. A informação acaba tendo pouca qualidade. A iniciativa privada investe R$ 4 bilhões por ano (em projetos culturais e sociais), mas apenas 6% são usados na área da saúde. Existe uma grande oportunidade para o setor.”

Guilherme Genovez, médico especialista em Hematologia e Hemoterapia e ex-coordenador-geral de Sangue e Hemoderivados do Ministério da Saúde, destaca que a integração de bancos de dados é um processo, não um produto final. “Com a integração de dados, será possível ao governo fazer planejamentos melhores, para a compra de insumos e medicamentos de modo eficiente”, disse. O especialista sugere a adoção de normas e padrões de desenvolvimento para que as ações no setor sejam coordenadas em diferentes empresas e organizações. “Precisamos trabalhar com um objetivo comum e o Data SUS tem de ajudar a fazer isso.”

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Segundo Genovez, é natural que a maioria dos dados cadastrados atualmente seja fragmentada ou incompleta. Na visão do especialista, os médicos têm pouco interesse nessas informações por não ver os benefícios de arrecadação desses dados no curto prazo.

Nelson Teich, presidente do Grupo COI e representante da United Health Group no Brasil, acredita que a deficiência na coleta dos dados não é culpa do profissional de saúde. “O médico está ocupado em tratar do paciente.” Para Teich, é um erro acreditar que basta coletar e armazenar informações para que elas sejam usadas. “A informação tem duas características fundamentais: uma é para que direção ela aponta e a outra é quanto você tem de informação. A informação precisa ser muito bem trabalhada, pois ter um dado coletado de forma errada é pior que a ausência dele.”

A ausência ou fragmentação de dados clínicos pode influenciar diretamente a vida dos pacientes. Para o especialista, sem a estruturação das informações, há aumento no número de erros médicos e, consequentemente, de mortes por falha humana. Segundo Teich, há estudos que apontam uma média de 400 mil mortes por ano no Brasil em razão de erros no sistema. Os atendimentos do SUS correspondem à metade dessa fatia.

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