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Gigante canadense vê oportunidade na crise brasileira

Com US$ 17 bi em ativos sob gestão no País, Brookfield negocia divisão de gasoduto da Petrobrás e busca operações em infraestrutura

Por Monica Scaramuzzo
Atualização:

Alheia à turbulência econômica, que foi agravada pela crise política no País nos últimos meses, a gestora canadense Brookfield está indo às compras. Com US$ 225 bilhões de ativos globais sob gestão, mais da metade nos EUA, a gigante tem planos de se expandir no Brasil, sobretudo em infraestrutura e mercado imobiliário. Negocia com exclusividade a compra da NTS, divisão de gasodutos da Região Sudeste que pertence à Petrobrás, e está em conversas para a compra do braço de saneamento do Grupo Odebrecht. O apetite não para por aí: está de olho ainda em ativos de energia e empreendimentos comerciais, apurou o Estado.

É nesse cenário de recessão econômica e de investigações de corrupção em curso – caso da Lava Jato – que a Brookfield rastreia negócios que potencialmente não seriam colocados à venda, diz uma fonte ao Estado. À gestora também foram apresentados outros ativos relevantes: a Hidrelétrica Santo Antônio e a petroquímica Braskem, que têm a Odebrecht como acionista; a BR Distribuidora, que pertence à Petrobrás (sócia também da Odebrecht na petroquímica); além de empresas de energia em recuperação judicial, como Abengoa. “Temos interesse em alguns deles (ativos), mas não há conversas em andamento”, afirma uma fonte ligada à gestora.

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O atual foco é a NTS. Em negociações exclusivas com a estatal até agosto, a Brookfield pode desembolsar cerca de US$ 5 bilhões pela empresa, segundo fontes. Já pela Odebrecht Ambiental (o grupo baiano é dono de 70% da empresa), se concretizada a operação, a canadense pode pagar algo entre US$ 1,5 bilhão e US$ 2 bilhões, dizem fontes. Pessoas familiarizadas com essa transação também disseram que a gestora poderá se associar a um fundo asiático na Ambiental e só quer levar as concessões de água e esgoto. A área de resíduos industriais ficaria de fora.

“As negociações com a Ambiental já tiveram mais avançadas, mas recuaram nas últimas semanas. As discussões estão em cima de preço e de como será o modelo do negócio”, diz outra fonte a par do assunto. Em junho, a gestora comprou 57% da concessão rodoviária Rutas de Lima, no Peru, também do grupo baiano, que ficou ainda com 25% do negócio (que poderá ser vendido, segundo fontes). Procuradas, Brookfield, Odebrecht S/A, Braskem, Odebrecht Ambiental e Petrobrás não comentam.

Lava Jato. São os ativos de empresas envolvidas na Lava Jato os alvos mais frequentes no radar da gestora. No início deste ano, a Brookfield encerrou as negociações com a OAS, empreiteira também envolvida nessas investigações e em recuperação judicial. A gestora tinha oferecido R$ 1,35 bilhão por 24,4% da Invepar, administradora do aeroporto de Guarulhos e que tem os fundos de pensão Petros (Petrobrás), Previ (Banco do Brasil) e Funcef (Caixa) como sócios. Fontes próximas à operação afirmam que desentendimentos entre a gestora e os fundos de pensão fizeram o negócio desandar.

Estratégico. Embora seja uma gestora de recursos, a Brookfield é tratada aqui no Brasil como um investidor estratégico. “As aquisições deles são de longo prazo. Ao contrário dos fundos de private equity (que compram participação de empresas)”, afirma uma fonte de um escritório de advocacia.

Com US$ 17 bilhões em ativos sob gestão no Brasil, a Brookfield (ex-Brascan) é velha conhecida no País: a companhia está no mercado brasileiro desde 1899, quando começou a investir em empresas de iluminação pública, como a Light, e de transporte coletivo movido à energia.

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Os investidores canadenses tiveram incursões nos mais diversos negócios no País ao longo dos últimos anos – de shoppings a incorporações imobiliárias e florestas.

Só no ano passado, a gestora desembolsou cerca de R$ 5 bilhões em compra de ativos no Brasil: quase metade foi para aquisição de um pacote de seis usinas hidrelétricas, cinco plantas eólicas e quatro usinas de cogeração de biomassa, que pertenciam à Energisa. O fundo arrematou ainda, por cerca de R$ 400 milhões, duas pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) que eram da EDP Energias do Brasil, e sete empreendimentos comerciais – seis deles da BR Properties, que tinha o BTG como sócio, e outro empreendimento do mesmo banco. Foi uma operação de R$ 2,4 bilhões.

A gestora, por meio de fundos controlados, também se associou à construtora espanhola ACS, em junho de 2015, na compra de fatia de 50% em sociedades que possuem concessões de linhas de transmissão de energia elétrica no Brasil.

Pechinchas. A Brookfield não é a única multinacional que busca “pechinchas” no Brasil. Outros grupos – como a chinesa State Grid, que comprou 23% da fatia da Camargo Corrêa (também na Lava Jato) na CPFL, em junho, por R$ 5,85 bilhões – aproveitam a crise no País para fechar negócios. Há outras operações de energia à venda no País. “Ativos de infraestrutura são interessantes para grupos estrangeiros, independentemente de instabilidade econômica e política. A expectativa para o País é otimista”, diz Sérgio Lazzarini, professor do Insper.