Publicidade

Grécia, um Estado zumbi financeiro

Se não chegar a um acordo sobre a prorrogação de um programa de empréstimo de US$ 270 bilhões para além de 30 de junho, país muito provavelmente não conseguirá pagar suas dívidas e será forçado a abandonar o euro

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

A Grécia e os outros países da zona do euro enfrentam novamente um impasse dias antes de um prazo crucial. Se os dois lados não chegarem a um acordo sobre a prorrogação de um programa de empréstimo de US$ 270 bilhões para além de 30 de junho, a Grécia muito provavelmente entrará em default de suas dívidas e muito provavelmente será forçada a abandonar o euro. Os líderes europeus já estiveram numa situação parecida e conseguiram costurar acordos para evitar o calote e a saída grega do euro. Mas esses acordos só adiaram a hora da verdade sem resolver os problemas econômicos e financeiros fundamentais da Grécia. Para romper o ciclo, os dirigentes europeus precisam produzir um plano realista para reanimar a devastada economia grega e pôr as abaladas finanças do governo em ordem. Eis como poderia ser um plano desse tipo: Os outros 18 membros da zona do euro concordariam em perdoar o postergar o reembolso de parte da esmagadora dívida da Grécia, que chega a 177% do Produto Interno Bruto do país. Em troca, o governo do primeiro-ministro Alexis Tsipras teria de concordar com mudanças que aumentariam a arrecadação de impostos, tornariam o governo mais eficiente e impulsionariam o crescimento econômico ao facilitar a abertura de novas empresas.

Sem acordo à vista comcredores, Grécia pode enfrentar default Foto: Reuters

Para qualquer acordo funcionar, os líderes da Alemanha e de outras nações da zona do euro teriam de aceitar a perda de parte do dinheiro que puseram para pagar emprestadores privados à Grécia, muitos deles bancos e firmas de investimento dos próprios países. Caso a zona do euro não faça este sacrifício relativamente pequeno agora, ela sofrera prejuízos maiores se a Grécia der o calote e sair do euro. Esse desfecho, além de aumentar as perdas europeias, solaparia a confiança na moeda comum em crises futuras. E um calote com saída do euro desferiria um golpe devastador na economia e no sistema financeiro da Grécia. Para conseguir termos melhores para saldar a dívida do país, Tsipras também teria de fazer concessões, que não seriam bem aceitas por seu partido de esquerda, Syriza. Por exemplo, ele teria de terminar com as opções de aposentadoria prematura que são um dreno no sistema público de pensões. Seu governo terá de fazer muito mais para reprimir a evasão fiscal e pôr fim aos pesados regulamentos para empresas e licenciamentos que criam oportunidades perfeitas para a corrupção. Muitos dirigentes da zona do euro não acreditam que o governo Tsipras vá realizar essas mudanças, e ele e sua equipe não têm ajudado com sua postura, chegando a pedir que a Alemanha pagasse reparações da 2ª Guerra.

Dirigentes da zona do euro não acreditam que o governo Tsipras vá realizar mudanças necessárias para fechar o acordo com credores

Mas autoridades do restante da zona do euro agravaram a crise da Grécia desde que o primeiro empréstimo foi feito, em 2010, ao tentar impor políticas de austeridade inclementes que infligiram sofrimento a indivíduos, contraíram a economia e empurraram a taxa de desemprego da Grécia para 25% com cerca da metade de seus jovens procurando trabalho. Mesmo agora, dirigentes europeus querem que Tsipras corte ainda mais os benefícios de pensões já reduzidos de funcionários públicos aposentados. Se a Grécia vai ficar ou não nesta condição financeira zumbi, isto dependerá também do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Central Europeu (BCE), que emprestaram  dinheiro para a Grécia. Dirigentes do FMI vêm pressionando privadamente à zona do euro para aliviar a dívida da Grécia, mas a diretora-gerente do fundo, Christine Lagarde, deveria fazer mais para convencer os dirigentes europeus de que o país não poderá ser bem-sucedido a menos que surjam mudanças importantes no programa de empréstimo. O presidente do BCE, Mario Draghi, disse recentemente que "crescimento com justiça social e sustentabilidade fiscal" teria de fazer parte de qualquer acordo entre a zona do euro e a Grécia. Mais de cinco anos se passaram desde que autoridades europeias alcançaram o primeiro acordo de empréstimo com a Grécia. Em vez de avançar para a recuperação, porém, o país foi apanhado num desastre econômico sem fim à vista. / Tradução de Celso Paciornik

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.