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Grupo Traffic vende ‘Diário de S. Paulo’

Publicação e a rede de jornais ‘Bom Dia’ passam para empresa de Mário Cuesta; segundo fontes, valor do negócio é de R$ 30 milhões

Por Chico Siqueira
Atualização:

O Grupo Traffic anunciou nesta sexta-feira a venda do jornal Diário de S. Paulo e da rede de jornais Bom Dia. O comprador foi o grupo Cereja Comunicação Digital, de Mário Cuesta. O anúncio da venda foi divulgado na capa dos sete jornais da rede Bom Dia e do Diário de S. Paulo. A venda foi fechada no dia 2, mas os valores não foram revelados. Segundo fontes próximas a J. Hawilla, dono do Grupo Traffic, o negócio ficou em torno R$ 30 milhões e incluiu o parque gráfico do Diário de S. Paulo.

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Cuesta não foi localizado para falar sobre o assunto, mas há duas semanas ele vinha participando das atividades do Diário de S. Paulo, onde já atuou como CEO no fim de 2011, informou o diretor de redação do jornal, Carlos Alencar.

Segundo Alencar, a transferência deve abrir novas possibilidades de receita para o Diário de S. Paulo e para os jornais do Bom Dia. "A experiência que o novo proprietário tem com o setor gráfico e o conhecimento que possui com grandes empresas de varejo abrem perspectivas de uma condição melhor para os jornais, inclusive de aumento de receita", diz Alencar.

Cuesta, que já possui uma gráfica, a GMA, também é dono de uma editora, a RMC, em Jarinu (SP). Já a Cereja Digital é uma empresa de mídia "out of home", que possui monitores de anúncios publicitários em pontos de vendas (PDV) de varejo. Entre seus clientes está a rede de hipermercados Extra, que possui monitores da Cereja em 87 lojas de 17 Estados.

Segundo Alencar, o negócio não vai interferir na continuidade da circulação dos veículos. Há até a possibilidade, com o incremento do parque gráfico, de que a lista desses produtos possa até aumentar. Por enquanto, segundo ele, a rotina dos jornais deve continuar a mesma, inclusive com a manutenção do modelo de fechamento dos jornais.

O Diário de S. Paulo centraliza o fechamento de toda a produção dos sete títulos da rede Bom Dia, que possui jornais em Bauru, Sorocaba, Jundiaí, ABC e São José do Rio Preto, além de afiliados em Marília e Itatiba.

Saída. O negócio põe fim a uma empreitada de oito anos de J. Hawilla pelo setor de imprensa escrita. Em 1979, depois de participar de uma greve dos jornalistas, J. Hawilla é despedido de um cargo de chefia da TV Globo, onde começou a carreira de jornalista esportivo.

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Mesmo sendo recontratado, ele deixa a emissora e funda a Traffic, empresa de marketing esportivo, com a qual ganha dinheiro para adquirir a TV Progresso, afiliada da Globo em São José do Rio Preto. Em 2002, já era dono de mais outras três praças afiliadas da Globo, em Bauru, Sorocaba e Itapetininga, pelas quais teria pago R$ 120 milhões.

Em maio de 2005, alavancado pelo sucesso das emissoras de TV, Hawilla resolve expandir seus negócios para a imprensa escrita. Adquire o jornal Folha de Rio Preto por R$ 5,5 milhões. A partir do jornal de Rio Petro, inicia a estratégia de adquirir vários jornais próprios e fundar o que seria hoje a Rede Bom Dia de Comunicações. No mesmo ano, abre o Bom Dia Rio Preto, o primeiro da rede, que viria a crescer meses depois com jornais em Bauru, Sorocaba e Jundiaí.

Em 2009, Hawilla adota o modelo de franquias e em outubro do mesmo, com a rede Bom Dia já com nove títulos, Hawilla dá outro salto e compra o jornal Diário de S. Paulo. O jornal era publicado desde 2001 pela Infoglobo, empresas das Organizações Globo, que havia adquirido o jornal das mãos do ex-governador Orestes Quércia. Hawilla teria pago R$ 100 milhões pelo jornal, valor bem abaixo dos R$ 180 milhões que teriam sido pagos pela Globo a Quércia.

O jornal, nascido republicano e abolicionista em 1884, tinha o nome de Diário Popular, que foi substituído por Diário de S. Paulo na época que pertencia à Globo, em 2001.

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Reestruturação. Mas em 2011, sem conseguir melhorar as receitas dos negócios, Hawilla impôs uma reestruturação ao Diário e aos jornais do Bom Dia. Jornalistas e funcionários dos departamentos comercial e de circulação foram demitidos e a sede do jornal mudou para Osasco, onde já funcionavam as operações da Rede Bom dia.

Na rede, o corte também foi radical, atingindo a maioria dos trabalhadores dos jornais, de todos os departamentos. Tanto que as redações das publicações da rede no interior foram transferidas para dentro dos escritórios da TV Tem, onde funcionam hoje com apenas dois ou três jornalistas que enviam a produção para ser fechada no Diário.

Atualmente, a rede comporta somente cinco títulos (Jundiaí, Bauru, Rio Preto, ABC e Sorocaba) e apenas dois jornais franqueados (Itatiba e Marília).

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Por enquanto, as redações continuarão funcionando nas TVs. "Há um prazo para a transferência delas", disse o diretor de redação do Diário de S. Paulo.

No total, os jornais empregam 70 jornalistas, cujos quadros, segundo Alencar, não serão reduzidos. De acordo com a direção da empresa, o Diário tem circulação de 73.628 exemplares, medidos pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC), e os jornais do Bom Dia, circulam com outros 29 mil exemplares.

O empresário J. Hawilla não foi localizado para comentar o assunto. 

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