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Histórias de sexismo no ambiente de trabalho

Comentário de membro da diretoria do Uber e interrupção de senadora durante audiência da Comissão de Inteligência do Senado americano levantaram discussão de gênero

Por Susan Chira e Brianna Milord
Atualização:

Na semana passada, depois de uma observação sarcástica de um membro da diretoria do Uber e a interrupção da senadora Kamala Harris durante uma audiência da Comissão de Inteligência do Senado, o The New York Times pediu para as mulheres compartilharem suas experiências.

Mais de mil mulheres contaram histórias sobre os problemas enfrentados no ambiente de trabalho. 

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Mais de mil responderam, contando histórias vívidas das vezes em que foram interrompidas, penalizadas por emitir uma opinião, denegridas ou discriminadas em termos de salário, promoções, ou por causa da gravidez. Algumas lembraram ocasiões em que expressaram uma ideia durante uma reunião e um colega entrou na conversa para dizer que a sugestão era dele.  "Trabalho no setor de petróleo, gás e energia elétrica e estou cercada de homens". "Dou sugestões e faço comentários nas reuniões, mas com frequência não sou ouvida. E então, momentos depois, um homem na sala oferece a mesma sugestão e todos o apóiam e o elogiam". "Troco e-mails de trabalho com uma equipe de colegas, mas se comunico um fato que não  está de acordo com o que um deles disse, ele me envia uma mensagem depois dizendo que preciso 'suavizar minhas respostas' a ele". "Colegas e familiares me dizem que  jamais me viram falar com 'tanta autoridade' mesmo quando se trata de uma conversa entre amigos fora do trabalho,  e que eu 'falo como um homem'. Tenho certeza que o trabalho me ensinou a me expressar assim, já que preciso ser o 'menos feminina' possível para ser levada a sério". - Jennifer Kelly.

LEIA TAMBÉM: Dilma, Temer e as pequenas coisas que depreciam as mulheres "Sou engenheira transgênero e trabalho em uma empresa do setor aeroespacial. Fiz a transição no meio da minha carreira. E percebi que antes minhas sugestões e opiniões nas reuniões eram levadas em conta. Após a transição, se ofereço alguma idéia ou afirmo alguma coisa percebo que somente quando um colega faz a mesma sugestão ela é levada a sério e ele fica com os louros. Além do que, quando me expresso, sou constantemente interrompida". Algumas mulheres relataram casos de observações sexistas contra elas durante reuniões, ou cujas contribuições foram ignoradas. "Em uma empresa em que trabalhei, o grupo de executivos do alto escalão era dominado por homens, mas a gerência era composta sobretudo por mulheres. Lembro-me de estar ao lado de duas mulheres inteligentes aguardando o CEO e quando ele entrou na sala olhou em volta e disse "onde estão os rapazes?". "Seria bom se ele percebesse que nós é que fazemos as coisas acontecerem" - Jen Pinner. "Sou advogada aposentada e vivo na Califórnia. Tive uma discussão por telefone com um advogado, quando defendia vigorosamente a posição do meu cliente. No meio da conversa fui interrompida pelo advogado, que me disse: 'acho que você deve tomar um Midol e me telefonar quando se sentir melhor'. Embora indignada com este comentário sexista e ridículo, preferi ignorá-lo e continuei a falar. Ele então desligou o telefone". - Linda Castro. "Era a única mulher de uma equipe de consultoria disputando o trabalho de alguns clientes. E a única com bastante experiência e conhecimento daquela situação particular. Mas minhas sugestões eram totalmente ignoradas. Quando mostrei minha frustração, fui publicamente e particularmente repreendida e ameaçada de perder o emprego. Foram 25 anos na minha carreira de consultora" - Mel Lowe Algumas mulheres falaram muito da diferença de salário, mas muitas relataram ganhar menos do que seu colega realizando o mesmo trabalho.

"Durante uma revisão de desempenho, que é feita anualmente, fui informada de que não receberia um aumento de salário, de modo que fiquei um pouco decepcionada. Qual foi a resposta do meu gerente? - 'não tem importância. Seu salário de qualquer modo é apenas para seu prazer'".  Embora muitas mulheres tenham oferecido inúmeros exemplos de sexismo e preconceitos de gênero no local de trabalho, outras elogiaram a cultura de inclusão da empresa. "Tive experiências positivas no meu trabalho. O que pode surpreender, porque sou professora assistente de teologia em uma universidade evangélica no Meio Oeste. Os evangélicos, especialmente conservadores, têm reputação de ser reacionários em termos de gênero. Mas nunca me senti desvalorizada, nem deixei de ser ouvida, mesmo quando era a única mulher do comitê. Meus colegas entendem (ou pelo menos procuram entender) a importância dos que defendem a total inclusão das mulheres". "Acho que a grande diferença na minha situação é o compromisso teológico da minha universidade para com a igualdade de gênero. Às vezes nós, mulheres, especialmente as liberais e ativistas como eu, vamos tão a fundo na questão do sexismo que perdemos de vista o fato de que alguns avanços vêm ocorrendo e há lugares em que as mulheres realmente desfrutam de uma situação confortável" - Miranda Zapor Cruz. / Traduzido por Terezinha Martino.

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