'Houve um aprofundamento da desaceleração', diz coordenadora do Boletim Macro Ibre

Na avaliação da economista, governo não tem mais cartas na manga para estimular economia

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Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

A economista Silvia Matos vê um aprofundamento da desaceleração econômica no segundo trimestre, mas acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) do período a ser divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) será positivo. "O indicador (IBC-Br) mostra uma desaceleração forte, o PIB também vai desacelerar, mas não na mesma magnitude. Isso não quer dizer que a economia vai bem", disse Silvia, coordenadora técnica do Boletim Macro Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da Fundação Getúlio Vargas. Para o ano, ela prevê um avanço da economia um pouco acima de 1%. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado. Qual é o diagnóstico da economia brasileira? O diagnóstico é de desaceleração econômica. Eu acho que a grande discussão agora é quanto estamos desacelerando e se isso é transitório ou permanente. Por quê? No segundo trimestre, houve um aprofundamento maior dessa desaceleração econômica. Uma parte é explicada porque estamos fazendo a comparação com um trimestre do ano passado que foi muito fora do padrão (o crescimento no segundo trimestre de 2013 foi positivo e superou as expectativas). Agora, é o reverso da moeda. Eu diria que existem informações negativas em duas frentes: na indústria de transformação como todo e na construção. No caso da indústria, também existem dois componentes adicionais dessa desaceleração. Primeiro é a questão energética, que prejudicou o custo de energia e a incerteza sobre o setor. Segundo, houve mais dificuldade de exportação de bens manufaturados. E, além disso, tivemos um problema estrutural dos dias parados (por causa da Copa do Mundo), que deverá prejudicar o resultado da indústria em junho. Qual é a expectativa do PIB para segundo trimestre? Deve ficar próximo de zero, num valor muito baixo, um crescimento de 0,1%, 0,2%. É importante olhar com cuidado o IBC-Br porque historicamente ele amplifica os movimentos de aceleração e desaceleração. O indicador mostra uma desaceleração forte, o PIB também vai desacelerar, mas não na mesma magnitude. Isso não quer dizer que a economia vai bem. Estamos vivendo mais uma estagnação do que uma recessão. O que esperar do desempenho econômico até o fim do ano? Espero alguma melhora dos indicadores no segundo semestre porque a base de comparação com o ano passado não é tão boa. Isso não quer dizer que a economia brasileira esteja bem, porque estamos vendo uma desaceleração no ano como um todo mais rápida do que a que ocorreu em 2013. E agora não tem muito mais como fazer o que foi feito em 2012, quando o PIB cresceu só 1%, e o governou estimulou a economia com políticas setoriais. Não temos muito mais cartas na manga no conjunto de medidas para a indústria. Então, qualquer medida que o governo faça é para tentar amenizar um pouquinho esse número negativo da indústria. Apesar da desaceleração, a inflação continua elevada? Essa é grande frustração com a desaceleração da economia. É uma desaceleração econômica sem benefícios, no sentido de controle inflacionário. No fim de 2011 e início de 2012, quando a economia foi desacelerando, a inflação deu uma acomodada. É um certa frustração que estamos vivendo: uma economia muito fraca, com inflação muito forte. É um desequilíbrio grande. Por que estamos enfrentando esse problema com a inflação? O nosso diagnóstico é que uma parte importante dessa situação de alta inflação é por causa da política fiscal expansionista nos últimos dois anos.

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