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‘Humildade é fundamental em qualquer carreira’

Ricardo Monteiro, CEO da Euro RSCG Ibero América, credita seu crescimento ao fato de ter humildade para aprender e possuir abertura para a diversidade

Por e de O Estado de S. Paulo
Atualização:

SÃO PAULO - O português Ricardo Monteiro, de 54 anos, formou-se em relações internacionais e administração pública na Universidade Católica de Louvain, na Bélgica, mas enveredou pelo caminho do marketing e da publicidade. Hoje, é CEO da divisão ibero-americana da agência de propaganda Euro RSCG, que pertence ao grupo Havas, além de acumular o cargo de vice-presidente global da empresa. Antes, passou por empresas como a Unilever, onde trabalhou em Portugal e na Espanha, e na agência BBDO. A carreira internacional se ampliou quando entrou para a Euro RSCG. Como muitos executivos globe trotter, ele reclama dos aeroportos e das viagens, mas ao mesmo tempo garante que não trocaria esse tipo de vida. Monteiro credita seu crescimento ao fato de ter humildade para aprender e possuir abertura para a diversidade. A Euro está presente em 75 países e, no Brasil, é a quinta maior em compra de mídia.

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Devido aos seus cargos, o senhor viaja muito, não?

Eu estou no Brasil cerca de cinco ou seis dias ao mês. Viajo por todo lado. Neste momento, eu estou em Nova York, a sede da empresa é aqui, e eu costumo estar aqui pelo menos uma vez por mês. Esta tarde sigo em direção a Lisboa, amanhã estou indo para Madri, e na semana que vem eu penso em dar um salto no Brasil. Enfim, minha vida é assim peripatética. Um dos poucos privilégios que tenho é que minha mulher frequentemente viaja comigo e isso vai fazendo tudo melhor.

O curso de relações internacionais deve ter ajudado...

Realmente, eu acho que sim. Eu já viajei por mais de 80 países, visitei todos os grandes países do mundo, praticamente todos eles a trabalho. Mas o que esse curso me deu foi uma certa abertura, principalmente na questão dos idiomas. Falo português, obviamente, e espanhol com fluência, porque vivi na Espanha por dois anos. Como estudei em francês, então eu falo e escrevo fluentemente nessa língua. E como todo mundo dos negócios hoje necessita do inglês, eu falo também o inglês com muita fluência. Gostaria de falar mandarim, mas acho vai ser difícil, com 54 anos, aprender mandarim.

Viajando tanto assim, onde, afinal, o senhor acha que mora?

(risos)Eu estou espalhando minha família pelo mundo e, como ela vai vivendo pelo mundo, fica difícil eu ficar de pouso em um só lugar. Agora, minha casa, minha casa de família, vamos dizer, fica perto do Estoril, próximo a Lisboa.

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O senhor trocaria de vida?

Acho que a coisa mais difícil que há na minha vida é passar por aeroporto, pelo controle de segurança, controle de passaporte, entrar em avião, sair de avião. É cansativo, mas prefiro continuar nessa vida. A felicidade, a alegria de conhecer pessoas diferentes traz uma grande riqueza. Não é legal viajar, mas é legal chegar a um local diferente praticamente a cada mês da nossa vida. É bem legal!

CEOs e presidentes dizem que não há diferença em ocupar o mesmo posto em companhias de diferentes ramos de atuação. Isso também vale para a área de comunicação?

Na nossa atividade, a primeira coisa que é preciso aprender é que não há uma fórmula que possa ser aplicada a todos os países do mundo, porque a realidade sociocultural de cada um é completamente diferente. Até no Brasil eu diria que há variações regionais que implicam em uma certa adaptação. Vocês não deveriam fazer propaganda no Nordeste da mesma forma que se faz em São Paulo. Então, quando eu chego a um país novo, o que eu tenho de fazer é sentar, me calar e aprender durante meses a realidade local. Só depois de entender a realidade local, aí sim eu poderei recorrer a minha experiência para tentar ajudar as pessoas que dirigem as operações. A atividade de comunicação, apesar de ter umas regras universais, por ser sociocultural, ela é diferente em cada país. Então, minha profissão não é tanto ensinar, mas aprender, filtrar as realidades locais e, enfim, aplicar a minha experiência acumulada.

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A que o senhor atribui o seu crescimento na carreira?

Eu acho que a humildade é uma característica fundamental em qualquer carreira. A cada passo que damos, temos de ter a consciência de que vamos precisar continuar aprendendo e, quanto maior a responsabilidade, maior tem de ser o aprendizado. E ainda hoje, com meus 54 anos, eu me deparo muitas vezes com situações inéditas e que eu tenho de resolver. É preciso ter a humildade para escutar, por vezes pessoas bem mais jovens, por vezes pessoas que não conhecemos, e aceitar a opinião dessas pessoas. Ao mesmo tempo saber filtrar, saber realmente o que é aplicável, e quais as ações que devemos levar a cabo para ter êxito. Essa humildade e essa capacidade de aprender é uma característica fundamental em toda a carreira de êxito. Em minha vida, como eu trabalhei com propaganda, eu lido muito com CEOs de outras empresas, normalmente grandes empresas. Já conheci muitos deles em diversos países. Há muitos tipos de CEO, mas invariavelmente quando eu encontro um arrogante, que está convencido de que é o dono da verdade, que ele já viu tudo, que ele sabe tudo, eu tenho quase certeza de que, um ano ou dois anos depois, eu volto àquele país e a essa empresa e ele já não vai estar mais lá. Por outro lado, eu também acho que, além da humildade para aprender, deve haver abertura aos povos, às outras culturas, e sobretudo aplicar uma grande verdade da vida, talvez uma das poucas verdades absolutas que existam, que é a que não existe verdade absoluta.

Qual é sua dica para quem planeja seguir uma carreira internacional?

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Carreira internacional é uma coisa que muitas pessoas gostariam de ter. Eu fui abençoado com essa possibilidade, que dura até hoje, de me relacionar com muitos povos e com muitas culturas. Talvez existam jovens que leiam este artigo, e vou dar para eles um conselho. O Brasil é um país continental, promissor e é, hoje, um dos melhores do mundo em termos de remuneração do trabalho. Mas para continuar produzindo é muito importante que os jovens brasileiros não fiquem só fechados naquilo do que é a realidade brasileira. Que eles se abram ao mundo, aprendam sobre outras culturas, outros idiomas, que eles viajem e vejam a realidade fora do Brasil. Porque isso é bom para eles, é bom para o Brasil e também, porque não dizê-lo, é também bom para o mundo, pois os brasileiros têm essa alegria para levar para o mundo, e também otimismo. E o mundo está muito precisado desse lado mais risonho da vida.

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