Os dados do Banco Central (BC) não se confundem com os indicadores oficiais do comportamento do PIB apurados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a serem divulgados na semana que vem. Mas dão uma ideia bastante precisa da gravidade da situação.
Repetido em dois trimestres consecutivos, o quadro recessivo constatado pelo BC confirmou estudos feitos na área privada. O Comitê de Datação de Ciclos Econômicos, da Fundação Getúlio Vargas, por exemplo, mostrou que a recessão começou, de fato, no segundo trimestre do ano passado e deverá ser mais longa que a de 2008, mas não necessariamente será mais intensa.
Na melhor das hipóteses, a recessão constatada pelo BC no segundo trimestre deste ano indica “o fundo do poço”, como notou o economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, ao serviço de notícias Broadcast, da Agência Estado.
O ajuste cambial, o realinhamento dos preços administrados e a redução do endividamento das empresas tornarão mais provável a retomada futura da economia, segundo Goldfajn. O Itaú calcula que o PIB caiu 1,1% entre maio e junho, estima em 2,3% a queda do PIB neste ano e em 1% a queda em 2016. O último boletim Focus do BC, baseado nas premissas dos agentes privados, indicou uma queda do PIB de 2% neste ano e de 0,1% em 2016.
A intensidade da queda do PIB parece ter sido fator determinante para a retomada de práticas que não tiveram êxito no passado, como a política de crédito favorecido propiciado por bancos públicos para setores econômicos escolhidos, que contribuiu para a erosão fiscal visível nos últimos anos.
O problema que se apresenta é saber em que medida a tentativa de atenuar a queda do produto tornará ainda mais longo o processo recessivo. Se o resultado for a diminuição da já escassa confiança dos agentes econômicos na política do governo, a probabilidade de recessão longa será maior.