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IBGE corrige Pnad 2013 e diz que desigualdade registrou leve queda

Um dia após divulgar pesquisa, instituto diz que uso equivocado de dados distorceu resultados; novos números apontam para alta menor da renda média e para piora na taxa de analfabetismo

Por Idiana Tomazelli e Felipe Werneck
Atualização:

Atualizado às 22h45

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RIO - Um dia após divulgar a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), um dos levantamentos mais completos sobre as características da sociedade brasileira, de 2013, o IBGE admitiu ter cometido erros “extremamente graves” na publicação. Já desgastada pela crise gerada com a greve dos servidores do órgão, a presidente do instituto, Wasmália Bivar, lamentou a falha. 

“Nos cabe pedir desculpas à toda a sociedade brasileira”, disse ela, que, por várias vezes ficou com lágrimas nos olhos durante uma entrevista convocada no fim da tarde desta sexta-feira. Logo após o erro do IBGE ter sido revelado, a ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, informou que o governo vai constituir uma comissão de especialistas independentes para avaliar a “consistência” da Pnad

O instituto refutou que tenha havido manipulação de resultados ou ingerência política. “Seria surrealista você divulgar um dado para depois corrigi-lo sob pressão”, disse o diretor de Pesquisas do órgão, Roberto Olinto. E completou: “Encaramos esse fato como um infeliz acidente, estritamente técnico.”

Desconcentração. Com a correção, o índice de Gini medido a partir da renda do trabalho (que mensura a desigualdade) passou a 0,495 em 2013, ante 0,496 em 2012. Anteriormente, o instituto havia divulgado um índice de 0,498 para o ano passado - quanto mais próximo de 1, maior a desigualdade. “Houve desconcentração de renda, ainda que pequena”, afirmou o coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo. Segundo a gerente da Pnad, Maria Lucia Vieira, o resultado ainda representa estabilidade.

O IBGE explica que o erro ocorreu na hora de calcular a importância de cada região na pesquisa. Ao utilizar uma tabela errada, os resultados de sete Estados foram influenciados: Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

A metodologia da pesquisa usa a projeção populacional da região metropolitana da capital estadual para ampliar a amostra. Foram ouvidas na pesquisa 363 mil pessoas. O erro ocorreu quando algum técnico usou de forma equivocada projeções de população do Estado metropolitano - ou seja, em Estados com mais de uma região metropolitana, o resultado e, consequentemente, sua importância ficaram superestimados.

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Ipea. Em abril deste ano, a correção de outra pesquisa nacional também causou grande repercussão no País. O dado mais comentado de um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) sobre a violência contra as mulheres estava errado e foi corrigido. 

Uma semana após a divulgação do estudo levar a uma avalanche de reações desde a presidente Dilma Rousseff até a funkeira Valesca Popozuda, o órgão informou que 26% dos brasileiros, e não 65%, concordam, total ou parcialmente, com a afirmação de que "mulheres que usam roupas que mostram o corpo merecem ser atacadas". O Ipea publicou uma errata, e o diretor do Departamento de Estudos e Políticas Sociais, Rafael Osório, pediu exoneração.

Veja abaixo a nota do IBGE:

"O IBGE vem a público, por meio desta nota, informar que foram verificados erros nos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2013, após a sua divulgação, ontem (18/09/2014).

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Os erros ocorreram no processo de expansão da amostra da PNAD 2013, o que provocou alterações nos resultados de sete estados: Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.

A PNAD é uma pesquisa por amostragem probabilística, deste modo, para a geração dos resultados, é necessário definir fatores de expansão ou pesos que são associados a cada unidade selecionada para a amostra (domicílios e seus moradores).

Estes pesos são obtidos através do plano amostral da pesquisa, que leva em conta as probabilidades de seleção dos municípios, setores e domicílios da amostra e são calibrados pelo total populacional oriundos da projeção de população nos diferentes níveis geográficos de divulgação.

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A PNAD divulga resultados para cada Unidade da Federação (UF) e para nove Regiões Metropolitanas, a saber, Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Nas UFs dessas nove Regiões Metropolitanas, a calibração é feita considerando a projeção de população para a Região Metropolitana da capital e para o restante da UF, separadamente.

No Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul existem outras Regiões Metropolitanas, além daquelas que contêm os municípios das capitais.

No processo de expansão da amostra da PNAD 2013, foi utilizada, equivocadamente, a projeção de população referente a todas as áreas metropolitanas em vez da projeção de população da Região Metropolitana na qual está inserida a capital.

Ao constatar esse erro o IBGE tomou imediatamente as seguintes providências: recalculou os novos fatores de expansão; as estimativas de indicadores; e refez o plano tabular, com suas respectivas precisões.

Os resultados da PNAD 2013 e os microdados referentes às variáveis dos pesos foram substituídos e estão disponíveis no portal do IBGE na internet."

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