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Igualitarismo é um mito da modernidade, diz sociólogo da Sorbonne

Pesquisador titular da universidade francesa, Michel Maffesoli afirma que a pós-modernidade reserva ajustes das desigualdades, mas não até o igualitarismo

Por Idiana Tomazelli
Atualização:
Para Maffesoli, momento atual se pronuncia como fim da modernidade, com a saturação de modelos de economia e cultura Foto: Didier Goupy/Divulgacão

A pós-modernidade reserva ajustes nas desigualdades ainda existentes no mundo, mas não no sentido de promover o igualitarismo, afirmou hoje o sociólogo francês Michel Maffesoli, pesquisador titular da Sorbonne. A sociedade hoje caminha muito mais para uma harmonia conflituosa, o que inclui até certo acirramento das diferenças.

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“O igualitarismo é um mito da modernidade, e o que vai se desenvolver é a concepção mais hierárquica do mundo, uma harmonia conflituosa. Assistimos a uma volta das diferenças. Não digo se é bom ou ruim o que eu anuncio. Podemos pensar que vai haver um ajuste das desigualdades. Mas a grande tendência, lamento dizer, não é para igualdade”, previu o professor.

Durante uma “conversa amigável” que durou cerca de duas horas na sede a Associação Comercial do Rio de Janeiro (ACRJ), Maffesoli trouxe ao debate as mudanças atuais nas relações sociais como algo ainda incompreendido pela maioria e lançou sua provocação já no título da palestra: “Crise econômica ou crise social?”.

Segundo Maffesoli, o momento atual se pronuncia como o fim da modernidade, diante da saturação de modelos de economia e de cultura. A palavra democracia não significa mais nada, assim como liberdade e contrato social. “Não há mais representação, isso era fundamento da sociedade moderna. É na esfera da internet que estão sendo elaborada novas práticas pertinentes.”

A decadência convive com novas práticas que surgem diante do que o sociólogo chama de um fim de mundo. A ascensão da pós-modernidade envolve a formação de pequenas tribos (segundo gostos ou características em comum), a criatividade, o afeto, as emoções e paixões, o comércio de ideias, o bem-estar e o momento presente são conceitos que ajudam a definir do que o novo se trata.

A participação por meio de blogs, Facebook e outras ferramentas proporcionadas pela internet também fazem parte do novo mundo, mais horizontal do que o anterior. “Já há uma emergência de algo. O fim do mundo não é o fim do mundo, mas sua simples metamorfose.”

O Brasil reúne tais características, disse Maffesoli, mesmo depois do esmaecimento das manifestações de junho e julho de 2013. Com isso, o País se lança como um “laboratório” da pós-modernidade. “A criatividade é uma das marcas da juventude desse país num momento em que, num sentido simples, há uma efervescência, um formigamento cultural. Além disso, sempre me marcou nos meus alunos brasileiros: não é o eu, mas o nós, o ‘a gente’. São características que me fazem dizer que sim, o Brasil é o laboratório da pós-modernidade.”

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As mudanças se espalham por todo o mundo e atingem os modos de vida de todos os países. Há, porém, uma dificuldade em lidar com o fenômeno, reconheceu o sociólogo. “O que os astrofísicos nos mostram muito bem é que ainda se pode ver a luz de uma estrela morta. Então, estamos com os valores que foram elaborados durante séculos 17, 18 e 19. Continuamos com esse software, mas não estamos vendo o que está emergindo. É importante ter coragem e lucidez para ver isso”, disse.

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