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Incertezas, apesar do consumo recorde de etanol

Depois de muitos anos relegado a segundo plano, o etanol volta a ganhar importância na matriz energética nacional. Prejudicado pela política de controle do preço da gasolina, que o tornava muito menos competitivo, o álcool hidratado reverteu a situação e registrou recorde de vendas em maio deste ano, alcançando 1,43 bilhão de litros no País, de acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) e da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica). Com isso, o consumo do etanol passou a representar cerca de 23% da demanda nacional de combustíveis por veículos flex, superando em muito os porcentuais de maio de 2014 (15,7%) e de 2013 (14,8%). Já o consumo de gasolina teve queda de 12% em maio em relação ao mesmo mês de 2014.

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Por Redação
Atualização:

Essa evolução tem evidentes vantagens. Além de resultar em menor gasto pelo consumidor para encher o tanque do automóvel, o aumento do consumo de etanol reduz a necessidade de importação de gasolina e, com o uso mais intenso do bagaço de cana, pode ser gerada mais eletricidade. Tudo isso diminui a emissão de gases de efeito estufa. A dúvida é se a alta do etanol é apenas conjuntural ou ajudará a criar ambiente favorável a novos investimentos no setor sucroalcooleiro, duramente prejudicado pela errática política do governo. Uma das medidas mais importantes tomadas neste ano para impulsionar as vendas de etanol foi o aumento de contribuições sobre a gasolina, como a Cide e o PIS/Cofins. Com a aceleração da inflação, empresários receiam de que o governo repita manobras recentes, como a de 2012, quando zerou a Cide sobre a gasolina.

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São grandes as expectativas de aumento da demanda. Há pouco, a ANP apresentou uma projeção segundo a qual a produção nacional de etanol terá de crescer de 8% a 9% ao ano durante a próxima década para evitar um déficit de 200 mil a 600 mil barris por dia em 2024. Isso exigirá pesados investimentos num setor altamente endividado. Apesar da melhora nas vendas de etanol, prevê-se o fechamento de dez usinas no País este ano, embora três outras devam retomar a operação.

Os empresários não descartam a possibilidade de recuperação do setor nos próximos anos, com a renovação de canaviais e modernização das unidades de produção e refino, mas isso depende, em última análise, da confiança na manutenção, pelo governo, de uma política realista quanto ao preço dos combustíveis, contendo seu apetite por interferência nessa área.

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