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Índia diz que não negocia 'sobrevivência' na Rodada Doha

Kamal Nath diz que não aceita acordo que prejudique países de baixa renda.

Por Márcia Bizzotto
Atualização:

O ministro indiano de Comércio, Kamal Nath, disse nesta quarta-feira que não está disposto "a negociar garantia de sobrevivência, subsistência ou pobreza" a fim de chegar a um acordo para a Rodada Doha de liberalização do comércio global. "Quando falamos em temas sensíveis para países em desenvolvimento, estamos falando de assegurar a sobrevivência, a subsistência. Quando os países desenvolvidos falam em seus temas sensíveis, estão falando em promover e proteger sua prosperidade", afirmou. Com esse argumento, Nath, um dos líderes do G20, junto ao Brasil, insistiu que não aceitará que um eventual acordo na rodada da Organização Mundial do Comércio (OMC) incorpore condições que prejudiquem os países de baixa renda, como a chamada cláusula anti-concentração. Essa cláusula é um mecanismo que as potências industriais querem incluir no capítulo de bens industriais de Doha para impedir que os países emergentes blindem todo um setor do corte de tarifas de importação. Seria uma forma de evitar que Brasil e Argentina protejam, por exemplo, toda a indústria automotiva, ou que a China proteja toda a sua indústria têxtil, dois setores importantes para União Européia e os Estados Unidos, que poderiam competir com vantagem com produtores de países emergentes. "O fato é que a indústria dos países em desenvolvimento está se tornando mais e mais competitiva e a indústria dos países desenvolvidos está se tornando menos e menos competitiva", disse Nath. O ministro indiano afirma que, ao proibir os países emergentes de proteger suas incipientes indústrias, os países mais ricos levariam o setor à "erosão" nesses países e causariam mais pobreza, em vez de promover o desenvolvimento. União Européia Do outro lado da mesa, a União Européia (UE) afirma que não aceitará um acordo, nesta semana em Genebra, que não considere mecanismos que limitem claramente o nível de proteção que os países emergentes poderão oferecer a cada setor industrial. "Para nós isso é obrigatório em um eventual acordo", disse a secretária de Estado francesa para Comércio Exterior, Anne-Marie Idrac, cujo país detém a presidência de turno da UE. "Queremos cláusulas anti-concentração, e cláusulas anti-concentração sérias, com qualidade operacional, que não sejam simples tigres de papel. Com mecanismos que assegurem sua aplicação", disse. Ao mesmo tempo, Idrac voltou a afirmar que a UE não fará novas propostas em agricultura, porque considera a atual, de cortar em 54% as tarifas para importação, "já muito generosa". Questionada sobre a afirmação do negociador europeu, o comissário de Comércio, Peter Mandelson, que no primeiro dia de reuniões anunciou que o bloco melhoraria sua oferta para 60%, Idrac assegurou: "54% e 60% são a mesma coisa". "A diferença é de cálculo aritmético. O mandato (de negociação) do comissário Mandelson não mudou, por isso não poderia haver uma nova proposta. O que pode haver é outra forma de apresentar a mesma proposta", disse. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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