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Indústria cai 1,3% e freia o PIB no 3º trimestre

Economia cresce 0,5%, brecada pela disparada das importações. Mas deve fechar 2010 com maior alta em 25 anos, de 7,5% a 8% 

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Por Fernando Dantas
Atualização:

RIO - O Produto Interno Bruto (PIB) sofreu uma freada no terceiro trimestre, com queda forte na indústria e o impacto da disparada das importações, provocado pelo câmbio valorizado, que desvia a demanda para a produção externa. A expansão do PIB no terceiro trimestre foi de apenas 0,5% ante os três meses anteriores, na comparação livre de influências sazonais.

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Essa é a medida mais momentânea do PIB, que capta as últimas tendências. A alta de 0,5% significa uma expansão anualizada de apenas 2%, comparada a 7,8% no segundo trimestre deste ano e a um ritmo acima de 8,5% desde o segundo trimestre de 2009.

Apesar da desaceleração, as previsões para o crescimento do PIB de 2010 estão entre 7,5% e 8%, com boas chances de ser o melhor resultado desde 1985, quando a economia cresceu 7,85%. Se passar disso, será o recorde desde 1980, quando o PIB teve 9,2% de alta. Uma revisão de dados de 2009 e 2010 levou alguns analistas a elevar ligeiramente a projeção para 2010. Nos 12 meses até setembro, o PIB cresceu 7,5%.

A indústria recuou 1,3% no terceiro trimestre, ante o trimestre anterior na série dessazonalizada, com a retração concentrada na indústria da transformação e na construção civil. Foi uma queda forte da indústria, de 5,3% em termos anualizados. Ela interrompeu cinco trimestres de expansão vigorosa, que atingiu um pico de 16% anualizados no segundo semestre de 2009, desacelerando para 8,2% no segundo trimestre de 2010. O investimento e o consumo das famílias, porém, mantiveram-se em expansão ante o segundo trimestre.

Mesmo com a desaceleração no terceiro trimestre, os números do PIB revelam que se mantém a retomada pós-crise global. Isso fica claro na comparação com o mesmo trimestre de 2009, medida menos ligada a tendências momentâneas.

Nessa base, o crescimento foi de 6,7%, menos que as taxas acima de 9% do primeiro semestre, mas ainda um ritmo respeitável. A indústria cresceu 8,3%, caindo do nível acima de 14% no primeiro semestre. E o investimento teve alta de 21,2%, depois de se expandir a mais de 28% nos dois primeiros trimestres.

Uma das principais explicações para a derrapada da indústria no terceiro trimestre foi o crescimento fortíssimo das importações, que atingiu o recorde (desde 1996, início da série) de 40,6% ante o mesmo período de 2009. Comparado ao segundo trimestre deste ano, as importações aumentaram 7,4% (33% anualizados). Em 12 meses, o crescimento foi de 29,4%.

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"A demanda continua crescendo fortemente, mas está sendo atendida pelas importações, e é exatamente por isso que o ritmo do PIB caiu", comentou José Márcio Camargo, economista da Opus Gestão de Recursos e professor da PUC-Rio.

Outra explicação para o fraco desempenho da indústria no terceiro trimestre seria uma excessiva formação de estoques de abril a junho. "Só a importação não explica, houve um "engargalamento" dos estoques", avaliou Fernando Rocha, economista e sócio da JGP. A hipótese, porém, não convenceu a todos.

"Haja estoques, não?", comentou, ironicamente, o economista Sérgio Vale, da MB Associados, a Francisco Carlos de Assis, da Agência Estado. Vale acha que a indústria sofre por causa do câmbio valorizado.

No terceiro trimestre, a indústria da transformação recuou 1,6%, e a construção civil, 2,3%, na comparação com o trimestre anterior, em base dessazonalizada - em ambos os casos, mais que o recuo de 1,3% da indústria como um todo. Em compensação, houve avanço na indústria extrativa-mineral e no subsetor de eletricidade, gás e outros bens públicos.

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A indústria extrativa-mineral, aliás, foi um destaque do PIB ontem, puxada pela recuperação do setor de minério de ferro. No setor industrial, foi a que mais cresceu na comparação com o trimestre anterior. Ante o mesmo trimestre de 2009, a extrativa-mineral teve alta de 16,6%, repetindo o desempenho do segundo trimestre de 2010. No acumulado de 12 meses, cresceu 13,5%, o melhor resultado da série iniciada em 1996.

Os serviços, por sua vez, puxaram o PIB no terceiro trimestre. Dos cinco subsetores que cresceram mais do que a expansão de 0,5% do PIB, quatro são de serviços: intermediação financeira e seguros, comércio, serviços de informação e outros serviços.

O setor agropecuário teve um recuo de 1,5% no terceiro trimestre, ante o trimestre anterior, na série dessazonalizada. Em relação ao terceiro trimestre de 2009, houve crescimento de 7%. No caso da comparação com o trimestre anterior, o setor foi prejudicado pela base de comparação alta - a safra da soja, com forte desempenho este ano, concentra-se no segundo trimestre.

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Comparações. O crescimento do Brasil no terceiro trimestre foi medíocre na comparação com o de outras economias importantes (ver gráfico). A projeção de 7,5% a 8% para 2010, porém, coloca o País, junto com a Argentina e a Turquia, num nível a ser superado apenas pela China e pela Índia. 

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