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Indústria têxtil procura costureiras

Importação chinesa não inibe aquecimento da produção local e entidades calculam déficit de 250 mil profissionais do setor

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Por Márcia De Chiara
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A indústria têxtil e da confecção vive o melhor momento dos últimos cinco anos, apesar da invasão dos importados. Sustentada pelo crescimento do emprego e da massa de salários que garantem o aumento do consumo de artigos de vestuário, a produção do setor está a todo vapor.A cadeia têxtil e da confecção emprega 1,7 milhão de trabalhadores, mas não consegue preencher todas as vagas. Nas contas da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), há um déficit de costureiras qualificadas, a mão de obra básica, de 250 mil trabalhadores.De janeiro a abril, o saldo de empregos gerados no setor foi de 36.161 postos de trabalho. É mais que o triplo do saldo de vagas registrado no ano inteiro de 2009 (11.844). Surpreso com o atual desempenho, Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Abit, refez as projeções para o emprego neste ano. A expectativa inicial era de que, entre abertura e fechamento, o ano encerrasse com 40 mil novos postos de trabalho nas tecelagens e confecções. Agora ele projeta 60 mil. "Estou há 40 anos no setor e não me lembro de nada parecido."Os preparativos para a Copa, a coleção outono/inverno e o crescimento da economia explicam o aquecimento das confecções, diz a presidente do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco e da Confederação Nacional dos Trabalhadores nas Indústrias do Setor Têxtil, Vestuário, Couro e Calçados, Eunice Nunes. Ela confirma a falta de costureiras e diz que desde os anos 90 não vê o mercado tão agitado.Eunice observa que a escassez de costureiras qualificadas reflete a evolução tecnológica do setor, que usa máquinas mais sofisticadas, e o desinteresse da nova geração. "As jovens não têm atração pela função de costureira", atesta o gerente de Tecnologia da Abit, Silvio Napoli.O diretor comercial da confecção Ideal Work, Antonio Augusto Rodrigues, ressalta que a atividade tem caráter depreciativo para muitas pessoas. "A própria filha da costureira não quer ser costureira, mas estilista", afirma o empresário, que produz uniformes para grandes companhias e enfrenta problemas de mão de obra. A estilista é a profissional que cria a coleção e tem uma remuneração bem superior à da costureira. Nos últimos seis meses, o salário das costureiras subiu entre 10% e 15%, diz Rodrigues. "Nem pagando a gente encontra os profissionais."Para resolver o problema da falta de mão de obra, desde a metade do ano passado a companhia, que tem 220 vagas não preenchidas, criou uma "escolinha" interna para os próprios funcionários que desempenhavam funções de limpeza e embalagem das peças fabricadas. A empresa emprega 1,5 mil trabalhadores nas cinco unidades de produção espalhadas entre São Paulo, Paraná e Minas Gerais.Rodrigues afirma que gastou cerca de R$ 200 mil na compra de 30 máquinas de costura para oferecer os cursos aos funcionários. "O maior investimento é subsidiar os salários enquanto os trabalhadores são qualificados para exercer outras funções", diz. O empresário calcula que no início de agosto esses empregados estarão prontos para trabalhar na costura de peças.O problema que afeta uma grande confecção como a Ideal Work, que produz 280 mil peças por mês, é comum também à pequena indústria. A Guaile Brasil, que fabrica 1,2 mil peças ao mês, entre itens de moda, praia e fitness, há seis meses tenta preencher três vagas de costureira.Vantagens. Salvador Caetano, proprietário da Guaile, informa que as vantagens oferecidas por outros setores industriais, como a metalurgia, atrai os profissionais da indústria do vestuário. A saída encontrada pela empresa para resolver por ora a falta de mão de obra, que saiba operar diversos tipos de máquinas, foi terceirizar parte da produção.Outra alternativa é buscar profissionais junto às escolas do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), que realizam, desde 2008, cursos gratuitos e rápidos para a formação de costureiras. Marcelo Costa, diretor do Senai Adriano José Marchini, no bairro paulistano do Bom Retiro, reduto das confecções, diz que muitas empresas procuram a escola para recrutar profissionais que concluem os cursos. O índice de empregabilidade é de 100% no caso das costureiras.Na escola do Bom Retiro, foram formados de janeiro a março 560 trabalhadores para exercer a função de costureira. Em igual período de 2009, fizeram o curso 425 pessoas. Costa destaca que o perfil de quem procura qualificação gratuita é heterogêneo, vai dos 18 aos 80 anos. O requisito para obter vaga é ser alfabetizado e estar desempregado.DesaceleraçãoO setor têxtil está preocupado de não repetir bom desempenho em 2011, quando o País não terá o mesmo crescimento robusto de 2010 e a invasão de produtos importados deve continuar diante da desaceleração percebida na atividade das economias mais desenvolvidas.

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