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Inflação fecha 2015 com alta de 10,67%, a maior desde 2002

Índice de preços superou o teto da meta do governo, de 6,5%, e presidente do BC terá de se explicar em carta aberta ao ministro da Fazenda, o que aconteceu pela última vez em 2003

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Por Redação
Atualização:
Somente o preço da energia elétrica teve alta de 51% no ano Foto: Daniel Teixeira|Estadão

SÃO PAULO - A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou 2015 com alta de 10,67%, a maior taxa anual desde 2002 (12,53%), informou nesta sexta-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em dezembro, o índice desacelerou para 0,96%, ante alta de 1,01% em novembro.

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O resultado anual ficou próximo ao piso do intervalo das estimativas coletadas pela Agência Estado, que ia de 10,66% a 10,88%, com mediana de 10,78%. Em 2014, o IPCA ficou em 6,41%.

Os chamados preços administrados foram os principais responsáveis pela volta da inflação ao patamar de dois dígitos, o que não se via há 13 anos. Esses são os itens cujos preços são controlados pelo governo - como energia, gasolina, gás de cozinha e plano de saúde. As contas de energia elétrica, por exemplo, aumentaram 51% em média, sendo que São Paulo (70,97%) e Curitiba (69,22%) tiveram os maiores reajustes.

Com as fortes altas de energia, gasolina (20,10%), ônibus urbano (15,09%), taxa de água e esgoto (14,75%) e gás de botijão (22,55%), o ano de 2015 fechou com uma alta de 18,08% nos preços administrados. Já os serviços subiram em menor ritmo, 8,09%. A principal pressão veio da alimentação fora do domicílio (10,38%), enquanto a maior baixa ocorreu em passagens aéreas, que ficaram 15,23% mais baratas.

Mas apesar de ter ficado abaixo do índice geral (10,67%), a inflação de serviços ainda mostra resistência. "Os serviços não cederam em 2015, e essa resistência veio dos custos. O (salário do) empregado doméstico é indexado à inflação. A alimentação fora de casa tem pressão de gás, alimentos e mão de obra. A energia pressiona o preço de cabeleireiros", listou Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preços do IBGE. "Ficou mais caro se alimentar, se transportar e morar", completou.

Os gastos com alimentação e bebidas também tiveram alta expressiva em 2015: 12,03%. Foi o maior impacto de grupo na inflação (3 pontos porcentuais) anual de 10,67%. Entre os alimentos consumidos em casa, a alta foi generalizada, e nos bares e restaurantes tampouco houve alívio.

Segundo o IBGE, vários produtos apresentaram fortes altas no ano passado, destacando-se a cebola (60,61%), o tomate (47,45%), a batata-inglesa (34,18%) e o feijão-carioca (30,38%). Também aumentaram de preço o cafezinho (15,67%) e a cerveja consumida fora de casa (13,21%). Em cinco das 13 regiões investigadas pelo IBGE, a alta de alimentos subiu mais de 13%. Em Curitiba, houve a maior alta: 13,87%.

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Baixa renda. O encarecimento desses itens "básicos" - energia, alimentos e transporte - fez com que a inflação fosse mais agressiva com as famílias de baixa renda do que com a média do País. Sinal disso é a alta de 11,28% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 2015, mais do que a taxa de 10,67% exibida pelo índice ampliado, o IPCA.

"Para as pessoas de baixa renda, a inflação foi mais agressiva, o que faz com que elas seja relativamente mais sacrificadas", disse Eulina, do IBGE. O INPC mensura os preços percebidos por famílias com renda mensal de até cinco salários mínimos. O IPCA, por sua vez, estende esse limite a até 40 salários mínimos.

Isso quer dizer que, no INPC, itens como energia elétrica, alimentos e transporte público têm mais importância, pois consomem uma fatia maior do orçamento das famílias. Foram justamente esses produtos e serviços que mais impulsionaram a inflação nacional em 2015.

Meta. Os dados do IBGE, portanto, confirmam a expectativa de rompimento do teto da meta perseguida pelo governo, que é de 4,5% com tolerância de 2 pontos porcentuais para mais ou menos. A última vez que isso aconteceu foi em 2003, quando o IPCA fechou o ano em 9,30% - o teto também era de 6,5% naquela época.

MINUTO ESTADÃO. Por que a inflação deixa o brasileiro mais pobre?

Em 2016, a expectativa é de que a inflação siga pressionada, devendo fechar, novamente, acima do teto da meta. Segundo as projeções de analistas do mercado financeiro divulgadas no último Boletim Focus, o IPCA de 2016 deve ficar em 6,87%.

O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, terá agora de escrever uma carta ao ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, para justificar publicamente os motivos que levaram ao estouro da meta de inflação. Isso porque em 1999 o governo federal adotou o sistema de metas de inflação e, desde então, em caso de descumprimento da meta, o presidente do BC precisa se explicar.

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Em 17 anos, presidentes do BC tiveram de redigir esta carta aberta, encaminhada ao ministro da Fazenda, em três ocasiões. A última vez que isso aconteceu foi em 2003, quando Henrique Meirelles teve de se explicar ao ministro Antonio Palocci. A carta deve conter uma descrição detalhada das causas que levaram ao estouro do teto, seguida de uma lista de providências para que a inflação retorne aos limites estabelecidos. Por fim, é preciso que o presidente do BC apresente um prazo para que tais providências surtam efeito.

(Com informações de Idiana Tomazelli, de O Estado de S. Paulo)

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