Tampouco basta que a demanda tenha cedido para que a inflação despenque. Os preços sobem porque a demanda ainda é maior que a oferta. É o que mostram não só o IGP-M, mas outros indicadores intermediários, como o IPC-S (semanal) da FGV, com alta de 0,65% na segunda quadrissemana de maio, e o IPC calculado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), de 0,83% na segunda quadrissemana do mês – acima do esperado.
De fato, índices elevadíssimos como os registrados no primeiro trimestre não são previstos. O grosso do reajuste dos administrados já foi dado e pesou muito. Além das tarifas de eletricidade e da água, as de ônibus subiram 16% no início do ano. Também aumentaram os preços dos combustíveis – e, se prevalecer o que diz a Petrobrás, poderão subir mais, dependendo do câmbio.
Nos cálculos da Fipe, são os preços da alimentação e da habitação que estão subindo acima do esperado. Por exemplo, o do gás de botijão aumentou 5,21%, o das carnes bovinas subiu 3,68% e o dos legumes, 4,65%. E os reajustes foram ainda mais fortes nos casos do tomate (15,23%) e da cenoura (6,92%).
O impacto do ajuste fiscal sobre a evolução média dos preços não será imediato. Por isso, na pesquisa Focus, do Banco Central, a estimativa para o IPCA é de 8,31% neste ano, caindo para 5,5% em 2016, acima da meta.
Mas, se os cortes nos gastos públicos forem insuficientes para reduzir a demanda e aliviar as pressões inflacionárias, o maior ônus recairá sobre os trabalhadores e as empresas – cujos custos sobem mais rapidamente que as receitas. Mais provável, por isso, é que poucos escapem do custo do ajuste, necessário para corrigir os erros de política econômica dos últimos anos.