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Inflação tende a se acomodar acima de 8% até o fim do ano

ANÁLISE: José Paulo Kupfer

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Por Redação
Atualização:

O conjunto de forças desencadeadas pela política de ajuste econômico do ministro Joaquim Levy está operando em tempos diferentes na composição da trajetória de inflação. Por enquanto, a correção dos preços administrados puxa a variação do IPCA. Metade da variação do índice em março, por exemplo, se deveu aos aumentos nas tarifas de energia elétrica, principalmente nas contas residenciais de luz - um salto de 3,14%, em fevereiro, para 22,08%, no mês passado.

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Mas há sinais de que a retração da economia, combinada com a extensão do ciclo de altas da taxa básica de juros, pode determinar alguma moderação na curva futura da inflação. Já os efeitos da desvalorização cambial - 15% do começo do ano até agora - ainda não deram o ar da graça.

Nível de atividade fraco e juros mais altos parecem já estar afetando os preços livres, aliviando a pressão no segmento. Enquanto os preços administrados, no acumulado em 12 meses, subiram, em março, significativos 13,35%, os aumentos no grupo dos preços livres foram menos agressivos, apresentando variação acumulada de 6,61%, mais perto do teto da meta, vindo de alta de 7,14%, em fevereiro. Nova queda é prevista para abril.

A inflação, de todo modo, continua alta. A variação do IPCA em março, de 1,32%, foi a maior, em termos mensais, desde 2003 e, desde 1995, nos meses de março. Todas as medidas de núcleo, nas quais é feito o desconto de altas ou baixas de preços fora do padrão, também subiram e a média deles passou, em termos anuais, de 6,82%, em fevereiro, para 7,22%, em março. Além disso, o índice de difusão, que mede o porcentual de produtos e serviços que registraram elevação de preços, avançou, no mês passado. Se a média histórica é de aumentos mensais em dois de cada três itens, em março, a relação subiu para três em cada quatro.

Com todas as variáveis ainda longe de uma tendência de acomodação, a perspectiva é de que os índices mensais de inflação fiquem abaixo do observado em março, até o fim deste ano. Espera-se uma repetição em 2015 do comportamento inflacionário padrão dos últimos anos, com os menores índices mensais registrados entre os meses de maio e agosto, nas vizinhanças de 0,3%/0,5%.

Em compensação, pelo fato de que a cada mês, a inflação em 2015 deverá ser mais alta do que a do mês correspondente em 2014, a variação acumulada em 12 meses deve subir pelo menos até meados do ano. O pico hoje previsto é de 8,5%. O recuo do IPCA acumulado, no segundo semestre, contudo, não mudará a característica já desenhada da inflação em 2015. A linha demarcatória de 8% para a variação de preços em 12 meses, bem acima do teto da meta, alcançada em março com uma alta de 8,13%, não deve se rompida ao longo do ano, nem para cima nem para baixo, de acordo com projeções de um grupo qualificado de analistas.